vasconzitos 07/03/2024
Com quanto de presente se faz passado?
Me surpreendi com a fluidez destas páginas. Li alguns comentários acusando o autor de ser prolixo na obra em questão, o que é um absurdo. Como esse ritmo, sem se perder nos excessos e com uma falta de pressa quanto aos detalhes mais interessantes e fugazes, me convidavam a mergulhar cada vez mais fundo, mais instigado pelo desfecho... Tão bom não saber para onde a história está nos conduzindo. Por conta disso, temos páginas de encantadora leveza pelas paixões e desejos inesperados que vão se apresentando, perdidos nas densas águas dos contraditórios sentimentos humanos.
Não é uma típica história de amor entre dois homens.
Entre flashbacks da infância em uma Polônia de feridas abertas e descrições sensíveis do encontro com o primeiro amor, entre críticas sufocadas ao opressivo sistema político de uma nação pós-guerra e a tentativa de despir sentido da complexidade dos nossos mais secretivos sentimentos enjaulados... temos um narrador que nos entrega a belíssima experiência de desbravar e sentir absolutamente tudo (à flor da pele) neste "lugar nenhum" onde normalmente se encontram nossas memórias, um lugar para qual o não temos um mapa. É de uma pureza genuína quando somos presenteados com tanta naturalidade ao amor e temor de personagens, em seus mais profundos recortes da alma ansiando por sonhos, intimidade e liberdade. Também, não deixa de ser angustiante um dar-se conta de que, espacialmente, junto com o nosso narrador, não estamos nem aqui nem lá na história que ele traz.
O término me surpreendeu. Afinal, até hoje não sei se me desagradou ou me comoveu (por encontrar originalidade, sem clichês). Não houve um terceiro ato memorável, porém, me fez acreditar que me deparei com um bom livro.