spoiler visualizarvinizambianco 11/05/2024
[sobre mulheres, solidão e o fim]
Olha, fazia muito tempo que eu não lia algo tão incrível e maravilhoso quanto ?Eu Que Nunca Conheci Os Homens?, uma daquelas obras que me lembra a paixão que eu tenho pela literatura e pelos livros em geral.
A obra narra a história de quarenta mulheres que se encontram presas em uma jaula no subsolo de algum lugar, elas não sabem onde estão e nem o porquê estão ali, apenas vivendo com o mínimo possível e sem lembranças do passado, certo dia uma sirene toca e os guardas esquecendo a chave na porta fogem, deixando as mulheres à mercê do que o ambiente lá fora esconde.
A escrita é muito rica, muito rápida, muito ágil, sem divisões em capítulos e apenas contato de uma tacada só, eu me surpreendi com o quanto eu gostei da história, seguimos a personagem principal que nunca esteve em contato com o mundo exterior por ter sido ?presa? muito cedo. Descobrir esse mundo junto com ela é um misto de sentimentos e emoções, em vários momentos me senti angustiado, aliviado e até mesmo com certa dor no peito de ser coadjuvante daquelas mulheres.
O contexto de distopia/apocalíptica em nenhum momento torna a história não crível, muito pelo contrário, o pano de fundo da solidão da mulher e da sua finitude perceptível é doloroso, mas ao mesmo tempo libertador. Eu literalmente não consegui largar.
A sequência em que vamos vendo [SPOILER] as mulheres chegando ao fim da vida depois de tanta luta é torturante, mas faz sentindo, é coerente e é belíssimo. Porém queria saber mais sobre esse mundo, e o fim sem resposta é certo, mas sou curioso.
Com uma escrita comovente e muito bem desenvolvida, Jacqueline Harpman, nos transporta para a visceral vida em comunidade de mulheres, da solidão, do mundo desabitado, daquela ânsia de não saber e não ter as ferramentas para descobrir. Eu Que Nunca Conheci Os Homens é uma aula de como escrever e como provocar o leitor, fazendo a leitura seguir eles até mesmo depois da última página.