Isabella.Wenderros 25/03/2021“Não quero lutar por coisa alguma. Quero apenas ser e fazer, sem ninguém precisando me dar permissão.”No final de 2020, uma minissérie chamou minha atenção na Netflix. Baixei os episódios e, apesar da angústia que sentia enquanto a protagonista vivia sufocada em seu mundo, terminei em um único dia. Decidi ler o livro que teria dado origem à adaptação, mas outros foram passando na frente até que resolvi que era agora ou nunca.
Minhas expectativas eram, basicamente, de encontrar algo parecido com o que assisti há alguns meses, mas logo ficou claro que não seria bem assim. Deborah narra de maneira crua e objetiva sua vivência em uma comunidade de judeus ultraconservadores em Nova Iorque – suas dúvidas, angústias, medos, mágoas e a vontade incontrolável de liberdade que sempre fez parte de seu ser.
Por ser uma cultura bem diferente da minha realidade, senti resistência em vários momentos e me perguntei várias vezes como a saída dessa “protagonista” se desenrolaria. Diferentemente da série, o casamento não foi o grande motivo da ruptura, apenas mais uma gota d’água de uma situação que vinha borbulhando desde infância. Enquanto todos estavam dispostos a se encaixarem nos costumes e normas, Deborah, desde muito pequena, resistia e questionava sua rotina, apesar de desejar por muitos anos conseguir ser aquilo que esperavam dela – até aceitar que jamais seria.
Adorei a forma sincera como a autora decidiu contar sua história. A edição tem algumas fotos no início de todos os capítulos, além de um epílogo contando sobre o momento imediato após abandonar sua comunidade e as dificuldades que precisou enfrentar com uma criança pequena. Um posfácio escrito dez anos depois – em 2019 – comentando sobre a produção da Netflix e seu presente fechou com chave de ouro. Senti falta de algum comentário sobre as pessoas que fizeram parte do seu passado, se realmente se excluíram de sua vida, mas interpretei esse silêncio como uma confirmação dessa ausência.
A adaptação conseguiu manter a sensação de inquietude, mas usa apenas a base desse livro de memórias. Deborah foi inspiradora na sua busca pela liberdade de ser quem é, na determinação de oferecer ao filho uma infância melhor do que teve. Espero ter contato com seus outros trabalhos.