Jhosi 16/09/2021
Uma experiência intensa (ler este livro)
Acredito que está foi a leitura mais difícil e desafiadora que fiz em 2021.
Inicialmente, quis ler pensando em logo depois assistir ao seriado da Netflix, mas agora que terminei, não sinto vontade de assistir (mesmo sabendo que adaptações sempre se diferem dos livros, acredito que aqui, por se tratrar de um livro de memórias, o principal não deve ter mudado).
Em Nada Ortodoxa, a autora nos leva a mergulhar em suas memórias sobre sua criação e vida em uma comunidade de judeus hassídicos nos Estados Unidos.
Suas memórias remontam a sua infância e como as raízes da religião somadas à necessidade de se sentir aceita e parte de algo maior, a fizeram viver em constante conflito.
É possível perceber a medida em que se lê, que Deborah sempre foi diferente do que se esperava dela dentro da comunidade: sempre inquieta, questionando tudo, sempre pensando além do que lhe era permitido, sempre curiosa. Sempre sonhando com coisas que lhe eram completamente proibidas por ser mulher e pertencer a uma comunidade tão radical em suas crenças.
E apesar de sempre sentir que não se encaixava na religião e em seus rituais, ela permanece ali tanto quanto aguenta, sofrendo em silêncio, porque aquela é a única realidade que ela conhece.
Achei incrível ver a importância da literatura em sua mudança de pensamentos e atitudes - mesmo que para ler os chamados livros 'gentios' ela tivesse de fazê-lo escondida.
Admirei cada pequeno passo que ela dava. Cada pensamento 'fora da caixa' na qual ela se permitia pensar. Admirei sua força, sua resiliência e principalmente, sua coragem de expor as coisas que viveu.
Quando ela finalmente reunir a coragem necessária para deixar para trás toda essa vida que conheceu, ela precisará aprender a viver em um mundo totalmente diferente daquele que sempre conheceu. E é simplesmente surpreendente ver o quão pouco do mundo ela sabe!
A forma como a autora expõe rituais e situações que acontecem dentro da comunidade, a forma com que lidam com as mulheres e até com as crianças, e muitas outras coisas, em vários momentos me deixaram horrorizada. Enojada. Me comoveram, me entristeceram, enfim, foi pesado.
Mais uma vez uma leitura me faz refletir o quão longe os homens se afastam de Deus enquanto professam viver para Ele e fazer o que fazem por Ele.
O livro só reforçou uma ideia que cultivo a um bom tempo: a religiosidade e os rituais não são o cerne, não são o que mais importa na religião. E podem levar às pessoas à uma cegueira imensurável.
Como eu disse, não foi uma leitura fácil e sei que é um livro que não sentirei vontade de reler. Por outro lado, foi uma experiência enriquecedora, porque me fez procurar ler mais, pesquisar mais sobre religiões judaicas e entender um pouco mais sobre elas e reconhecer a coragem de uma jovem mulher que mesmo com toda limitação que lhe foi imposta conseguiu enxergar que Deus não era o que sempre lhe disseram ser.