Carolina165 15/03/2020
Armado apenas com suas extraordinárias habilidades analíticas, ele pode descobrir que sua maior fraqueza é sua maior força.
"A questão é: suas lembranças determinam as suas escolhas, te empurrando para a próxima experiência, que se torna sua próxima lembrança. Uma sequência que expande a si mesma, sempre pela soma de si mesma ao seu passado, recorrente ao infinito, sempre igual à soma do que veio antes dela, igualzinho..."
"- E daí que, se a essência do que somos é a memória, e a essência da memória é a recursão, a recursão pode ser a nossa essência?" Pág. 148
"A repetição constrói o significado. Se a gente repetir demais, esse significado se transforma em uma jaula, e você pode bater nas barras, pode xingar, mas nunca tirá-las do lugar". Pág. 194
O título que coloquei na resenha é um trecho da sinopse que está no catálogo da Plataforma 21, e foi o que me chamou a atenção para esta obra maravilhosa.
Fato sobre mim: adoro histórias bizarras e diferentonas. Quando me deparo com uma sinopse excêntrica já me interesso. Histórias que fogem do comum me atraem muito.
Peter Blanckman é um jovem de 17 anos muito inteligente, um prodígio da matemática. Ele tem medo de tudo, sofre com crises fortes de pânico. Para conseguir conviver com as crises constantes de pânico, Peter se apoia na matemática. Ele acredita que se conseguir encontrar uma equação ou explicação matemática que defina seu medo, ele poderá, resolvendo essa equação, solucionar seu medo constante. A lógica da matemática lhe conforta, pois, sendo a matemática uma ciência exata, se tudo puder ser explicado matematicamente, também tudo poderá ser resolvido matematicamente. Por isso Peter está sempre procurando padrões lógicos em tudo, até mesmo em seu medo. Ele acredita que tudo tem um padrão, e assim que encontrar o padrão matemático relacionado ao seu medo, ele poderá solucioná-lo, pois não há nada que não possa ser resolvido pela matemática. Até que um dia ele descobre que nem a matemática é perfeita, e até mesmo a matemática tem suas pontas soltas, como é demonstrado por uma equação proposta por Godël. Peter entra ainda mais em pânico, se é que isso é possível. Como adoro personagens quebrados, gostei do Peter desde o começo.
"Eu fazia isso de vez em quando, por falta de prática, tentando fazer amizade: forçava a barra, no meu desespero para as pessoas gostarem de mim, interrogava os outros em uma tentativa de demonstrar interesse, tocando em assuntos que preferiam deixar quieto". Pág. 193
"Às vezes, uma ideia pode ser a melhor que temos no momento e, ainda assim, ser uma enorme de uma cagada de elefante". Pág. 235
Adorei as partes matemáticas. Gosto muito quando um livro mistura questões existenciais com ciência.
Esse é daqueles livros em que a gente não sabe o que está acontecendo e se está mesmo acontecendo. Fiquei muito envolvida com a história e não conseguia parar de ler.
O questionamento de poder ser programando para pensar e agir de determinada maneira também é muito interessante.
O subtítulo e a capa com a alva lebre (em vermelho) e o lobo avermelhado (em branco) com as borboletas transparentes em alto relevo também tem tudo a ver com a história.
"A memória é quem nos torna o que somos.
A memória é falha".
Pág. 438
Enfim, é um ótimo livro, amei muito. Preciso reler em algum momento para ver se consigo de fato desvendar os "enigmas" ao longo do livro.
"Tenha fé, Petey. Às vezes, isso é tudo o que nos resta". Pág. 444