KeniaCandido 06/06/2024
Excelente!
Capitães da Areia de Jorge Amado é um clássico da literatura brasileira que foi publicado em 1937. Eu li uma edição bem velhinha de 1980 e já era a 49ª edição, que na ocasião, foi publicada pela editora Record. Essa edição pertence a minha avó Helena. Não tenho certeza, mas ela contém a coleção completa das obras de Jorge Amado na estante e outros escritores como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Erico Veríssimo... Enfim, clássico da literatura nacional é com ela mesma. Atualmente as obras de Jorge Amado são publicadas pelo Grupo Companhias das Letras. No momento eu não tenho nenhuma edição recente das obras de Jorge Amado lançadas pela Companhia, mas futuramente quem sabe eu possa conquistar para uma nova leitura.
Capitães da Areia é uma obra literária que carrega uma bagagem riquíssima na história. Foi uma das obras da literatura brasileira afetada pela censura do governo Getúlio Vargas e teve sua primeira edição apreendida e queimada por causa da nova constituição do Vargas. Este ato não impediu que Capitães da Areia tornar-se uma das obras mais importantes da nossa literatura, pois além de mostrar a desigualdade social, Jorge Amado também mostrou os problemas existentes com as crianças abandonadas pelas ruas da Bahia e pelo Brasil. Não é a primeira vez que leio Capitães da Areia e também não é o primeiro livro que leio de Jorge Amado, mas é a primeira vez que deixou uma opinião sobre a obra e começo dizendo que Capitães da Areia é um livro surpreendente.
Resumindo um pouco a história, Capitães da Areia conta sobre um grupo de meninos de rua, que são aproximadamente cem crianças e adolescentes, entre oito aos dezesseis anos, que desde de cedo são abandonados à própria sorte. Eles moram no velho e abandonado trapiche localizado na praia da cidade baixa de Salvador, sobrevivendo de furtos, trambiques e contrariando as leis para conseguir dinheiro. Além de enfrentar diversas dificuldades, a maioria desses meninos acabou amadurecendo de maneira precoce, tendo atitudes de pessoas adultas. Eles falavam e tinham atitudes como adultos. Além de beber e fumar, também jogavam por dinheiro, planejavam roubos e outras coisas à mais.
O livro dá inicio expondo algumas cartas de um jornal da região que explicam a existência deste grupo denominado de Capitães da Areia. Nessas cartas, o leitor consegue ter uma noção como as autoridades, a população e até da imprensa enxergava esses meninos de rua. Após as cartas, Jorge Amado começa apresentando os principais personagens deste grupo. O chefe dos Capitães da Areia é conhecido como Pedro Bala, filho de um líder sindicalista morto durante uma greve no cais. João Grande era um menino que tinha porte físico forte e corajoso. O Professor é um menino que sabia ler entre os Capitães. Um leitor voraz e bastante talentoso, Professor passava as noites lendo noticias e contando histórias à luz de velas para os amigos. Também era grande amigo e conselheiro de Pedro Bala.
Já o Gato, era conhecido por ser malandro. Muito vaidoso e considerado um dos mais bonitos do grupo Capitães da Areia, no decorrer da história, Gato acaba envolvendo e apaixonando por uma prostituta chamada Dalva. Outro que merece destaque é Volta Seca. O garoto afirmava que era afilhado de Lampião e sonhava entrar e tornar-se cangaceiro do bando do seu padrinho. Boa-Vida era o sambista da turma e adorava as rodas de samba. Enquanto Querido-de-Deus, era um verdadeiro capoeirista, Pirulito era o menino que prestava atenção nas palavras do Padre José Pedro e tinha vocação religiosa. Além do Almiro e Barandão, que tiveram destinos diferentes, o Sem-Pernas, era o garoto que tinha uma pequena deficiência pelo corpo. Por ser manco ele servia de espião do grupo para infiltra-se nas casas para descobrir os objetos de valor e programar o melhor momento do bando entrar na casa para roubar.
A única menina do grupo, se chamava Dora. Depois que perdeu sua mãe por causa do surto de Varíola que contagiou a população e matou várias pessoas, principalmente um dos Capitães da Areia, Dora e seu irmão Zé-Fuinha acabam entrando para os Capitães da Areia através do Professor e João Grande. Juntamente com a proteção de Pedro Bala, o Professor e João Grande e os demais garotos do grupo foram impedidos de ter qualquer envolvimento sexual com Dora e com seu jeitinho extremamente cativante e confortante, a menina tornou-se querida por todos os membros do grupo. Especialmente pelo Professor, que nutria uma paixão por Dora, no entanto Dora era apaixonada pelo Pedro e dizia para todos, que seria esposa de Pedro Bala.
Dividido em três partes, o livro Capitães da Areia contém um enredo tão rico que torna-se impossível não torcer pelo bem de todos os membros do grupo. A escrita de Jorge Amado consegue envolver o leitor nas dores, preconceitos, injustiças e especialmente nos sonhos desses meninos. É fácil se solidarizar com eles em vários momentos por causa dos maus-tratos da vida e da sociedade. Uma realidade que as pessoas geralmente ignoram ou fechem os olhos, porque vivemos numa sociedade que é claramente divida por classes sociais com variáveis diferenças que ainda estão presentes na nossa atual sociedade. É difícil não se apegar em alguns personagens durante toda a trajetória, nos planos mirabolantes e nas aventuras deste grupo.
Sem perceber, estamos torcendo pelos foras da lei que praticam uma série de assaltos em Salvador e desejando um futuro melhor para cada um deles. Infelizmente, nem todos tiveram um destino agradável ou feliz, pois Jorge Amado mostra claramente, que apesar da malícia eles são meninos abandonados com futuros incertos. Destaco os trechos do carrossel e o desespero de Pedro Bala quando Dora adoeceu e precisou da ajuda da mãe de santo que assim como o Padre José Pedro, também é amiga dos Capitães da Areia. Foram partes que mesmo sendo uma releitura, deu aquele aperto no coração. O sentimento de união e lealdade entre eles é bem forte e consegue amenizar um pouco as cenas pesadas e violentas do livro, porque Jorge Amado não tapa os olhos do leitor em nenhum momento para os personagens, assuntos que mostram a fragilidade das instituições e reformatórios.
Enfim, Capitães da Areia é uma obra tocante para refletir e abrir os olhos do leitor para os problemas decorrentes a todas as regiões brasileiras. Contém o filme de 2011 dirigido pela Cecília Amado, que por sinal, é bem legal e gosto de assistir, porque deu vida aos personagens. Entretanto aconselho que leia e tenha a experiência literária dos Capitães da Areia antes ou após ao filme. A versão literária contém trechos que ficaram de fora do filme que faz toda diferença. Recomendo a leitura deste clássico da literatura brasileira para todos os leitores que gostam de histórias que mostram problemas sociais. Com certeza, Capitães da Areia é um livro que será relido futuramente ao longo da minha vida.
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