Nando 30/11/2011Tentativa falha de ser ousadoEu não faço resenha de tudo que leio, mas sinto que deveria fazer uma resenha deste livro. Pois marquei este livro como uma das piores coisas que já li na vida.
Vou dar aviso que esta resenha pode ter informações a respeito da trama que podem estragar a surpresa de quem ainda não leu. Leia por sua conta e risco.
Fantasia Medieval e Ficcção científica são dois temas muito populares em literatura. Mas quando você tenta unir os dois... É uma combinação perigosa, pois pode ser incrivelmente fascinante ou extremamente decepcionante.
Não sou exatamente contra a união de gêneros diferentes. Até prefiro algo diferente do que algo que se prenda demais ao clássico. Obras como Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia, ou Star Wars imortalizaram os seus respectivos gêneros e ficar se prendendo demais a estas fórmulas acaba gerando uma história clichê. Existem mídias que conseguem unir perfeitamente ambos os gêneros como Final Fantasy e afins. E é este o problema que Crônicas dos Senhores de Castelo apresenta. Não consegue unir os dois gêneros e recheia a história de clichês. Do início ao fim. Personagens, situações, lugares, trama.
"Derr... Final Fantasy é video-game. Senhores de Castelo é um livro!" Acha que não é possível escrever algo inteligente, inovador unindo Fantasia Medieval e Ficção Científica? Leia Dragões de Éter. Uma fantasia medieval/ficção científica recheada de influências de Final Fantasy, Rock alternativo, filosofia, cinema e tudo mais que se possa imaginar.
Trama: CDSDC é ambientado num multiverso. Uma infinidade de universos que é protegida por um grupo de heróis fantásticos com poderes e habilidades únicos chamados Senhores de Castelo. A história é focada em três personagens principais. A princesa que está fugindo em posse de um artefato de imenso poder, e dois Senhores de Castelo. Um monge/mago/lutador de kung-fu que controla energia branca e um pistoleiro com pose de Han Solo. Acompanhando a princesa também há um andróide de batalha. Um feiticeiro do mal deseja capturar a princesa e sacrificá-la para obter o poder máximo do artefato que ela carrega. A típica situação de salve a princesa e derrote o bruxo. Trama assim eu encontro em The Legend of Zelda. Aliás, o tempo inteiro em que li este livro eu me senti lendo a narração de uma sessão de Dungeons & Dragons.
Cenário: Como o multiverso é composto de infinitas dimensões, encontramos em Senhores de Castelo mundos e realidades das mais diversas. Contudo, nenhum cenário pareceu interessante o bastante pra me fascinar. A história mesmo começa com uma briga de bar. Típica situação que se encontra em sessões de RPG ou filmes. Novamente o livro se baseia em clichê. Florestas, cavernas, castelos. Nada de novo. Os autores tem nas mãos um cenário de infinitas possibilidades a ser explorado e não exploraram. O mais próximo de um cenário trabalhado na trama é o lar onde vive a mãe das fadas.
Personagens: O maior problema dos personagens é que eles não são desenvolvidos no decorrer da trama. Eles são inseridos prontos na história e só ficam pulando de uma cena de ação para outra. Como já disse, os personagens são a princesa Laryssa. Uma princesa que está fugindo em posse de um artefato mágico. Supostamente é corajosa e bela. Destemida e honrada. De coração puro. E que participa da história como uma verdadeira donzela em perigo. Pra quem escreve ou lê fanfics (Como eu), existe um termo pra este tipo de personagem. Mary Sue. Um personagem que é tão perfeitinho e bonzinho, que chega a causar ânsia de vômito no leitor. O leitor não consegue se identificar com o personagem por que ele é artificial demais. O mago/monge/lutador chamado Kullat é o que mais se aproxima de um personagem interessante. Mas de personalidade rasa. Outra Mary Sue como a princesa. O pistoleiro Thagir é um verdadeiro crusamento de Han Solo com Chuck Norris e isso não faz dele um personagem interessante. Com personagens tão rasos e desinteressantes, o máximo que Senhores de Castelo consegue produzir são situações forçadas, clichês e diálogos que beiram a cafonice. Como o robô da princesa se mostrar como um traidor no fim e lutar contra os próprios aliados, depois se redimir com palavras belas de incentivo e o que quer que um robô tenha de mais próximo de amor pela princesa. Um romance surge entre Kullat e a princesa que até agora eu não sei de onde saiu, pois em momento nenhum da história os dois parecem demonstrar atração um pelo outro. Uma das últimas cenas do livro é um beijo entre a Princesa e Kullat que parece que foi inserido na história só pra falar que teve um romance, por que eu nunca vi um casal mais incompatível na minha vida. A festa dada pelo rei, a homenagem ao robô sentimental, tudo é cafona e meloso ao extremo. Tudo bem dar sentimentos ao seu personagem. O personagem não vai agradar ninguém se for um Exterminador do Futuro que anda pra todo lado com uma arma na mão, matando gente a torto e a direito. Mas o sentimentalismo desse livro no final, parece uma novela mexicana. O final do livro tem de ser memorável, mas tudo que eu consegui sentir ao ler foi vergonha alheia.
Enfim, eu comprei este livro totalmente enganado pela capa que exibe o tal Kullat com as mãos cobertas de energia branca (E que me valeu um: "Esse é o cara do Assassin's Creed?" de uma pessoa que me viu lendo o livro) e me arrependi. Eu troquei este livro por outro com uma amiga minha (Deixando bem claro pra ela o quanto este livro é ruim e trocando por um outro livro que ela também me disse não ser bom) e sinceramente, não recomendo pra ninguém. Se a sua curiosidade ainda estiver atiçada, peça emprestado ou pegue na biblioteca e poupe seu dinheiro.
Ilustrações: Deixando um detalhe por último, mas que acho que vale a pena mencionar: É interessante incluir ilustrações e até descrições no seu livro. Causa uma diferenciação. Mas é outro caso de faca de dois gumes. Inclua boas ilustrações. Contrate um artista realmente competente. Por que se a história descreve a princesa como realmente bonita, que ela seja desenhada bonita ou deixe a cargo da minha imaginação (Na minha imaginação ela seria a Megan Fox... *-*). É dificil imaginá-la como bonita se eu já vi que ela é um tribufu mal-rascunhado de lápis nas páginas do livro. Ou é dificil imaginar que o Robô dela seja tão legal quanto tentam descrever. A única ilustração realmente bonita é a da capa, mas... Enganosa.
Também gostaria de dizer que não sou daqueles que acredito de forma alguma que autores brasileiros são incapazes de se aventurar por este gênero que é facilmente dominado por estrangeiros. Provas disso incluem Raphael Draccon (Dragões de Éter) e Eduardo Sphor (Batalha do Apocalipse). Autores brasileiros e incrivelmente talentosos, que merecem ter suas obras ocupando posições dos mais vendidos por muitos anos.