Mareufq 25/05/2024
Sobre a terra há de viver sempre o mais forte
?Foi assim que me tornei parte de Belonísia, da mesma forma que ela se tornou parte de mim. (?) assim que crescemos, aprendemos a roçar, observamos as rezas de nossos pais, cuidamos dos irmãos mais novos. Foi assim que vimos os anos passarem e nos sentimos quase siamesas ao dividir o mesmo órgão para produzir os sons que manifestavam o que precisávamos ser.?
?Aprendia que tudo estava em movimento ? bem diferente das coisas sem vida que a professora mostrava em suas aulas. Meu pai olhava para mim e dizia: ?O vento não sopra, ele é a própria viração?. E tudo aquilo fazia sentido. ?Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta não tem vida?, ele tentava me ensinar.?
?Havia sido parido pela terra. Achava engraçado
vê-lo utilizar essa imagem para afirmar sua aptidão para a lavoura. Nunca havia pensado que tinha sido parida pela terra. A terra paria plantas e rochas. Paria nosso alimento e minhocas. Às vezes paria diamantes, escutava dizer.?
?Aquela fazenda sempre teria donos e nós éramos meros trabalhadores, sem qualquer direito sobre ela. Não era justo ver Tio Servó e os filhos crescendo espantando os chupins das plantações de arroz. Não era justo ver meu pai e minha mãe envelhecendo, trabalhando de sol a sol, sem descanso e sem qualquer garantia de conforto em sua velhice.?
?Meu pai, quando encontrava um problema na roça, se deitava sobre a terra com o ouvido voltado para seu interior, para decidir o que usar, o que fazer, onde avançar, onde recuar. Com um médico à procura do coração.?