Rayane 09/03/2024Esse livro nos pega em tantas questões, começando com como lidaríamos com a falta da morte, desde pensar que várias religiões dependem dela para existir. E até faz surgir uma pergunta, a morte é independente ou Deus que comanda? Sei que vários religiosos vão apostar na segunda opção. Mas, pra mim, não é uma resposta válida. Gostei de despertar essa dúvida.
Muitas religiões, ou a maioria delas, se baseia na morte para se manter de pé, colocando toda sua fé na idealização da vida eterna através dela, então sem a morte, essas religiões nem sequer tem uma base.
"As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca. Os delegados das religiões não se deram ao incómodo de protestar. Pelo contrário, um deles, conceituado integrante do sector católico, disse, Tem razão, senhor filósofo, é para isso mesmo que nós existimos, para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao pescoço e, chegada a sua hora, acolham a morte como uma libertação, O paraíso, Paraíso ou inferno, ou cousa nenhuma, o que se passe depois da morte importa-nos muito menos que o que geralmente se crê, a religião, senhor filósofo, é um assunto da terra, não tem nada que ver com o céu, Não foi o que nos habituaram a ouvir, Algo teríamos que dizer para tornar atractiva a mercadoria, Isso quer dizer que em realidade não acreditam na vida eterna, Fazemos de conta."
E uma das coisas mais geniais do livro, a morte é a protagonista e ela simplesmente tem uma ideia surreal, avisar com uma semana de antecedência que a pessoa morreria, isso para que a pessoa se prepare, se despeça, faça testamento. Mas às pessoas acabavam que ou não contavam pra família, ou se jogavam nas orgias, e etc. Fazem tudo menos o que a morte havia esperado, exceto aquela pequena porcentagem com caráter.
Amei toda a dinâmica do livro, as questões levantadas, a morte, os caminhos que tudo levou, os diálogos que beiravam o filosófico. E sobre a humanidade, em si, a gente nunca se surpreende, né? Esperamos o pior e sempre "entregamos". Claro que eu queria uma explicação de certas coisas, mas acho que faço uma ideia do porquê de alguns acontecimentos. Enfim, livro genial e ideia muito bem executada.