Pandora 19/08/2019Em 1947, Nisha vivia tranquilamente em Mirpur Khas, na antiga Índia britânica, com o irmão gêmeo Amil, o pai, a avó e o cozinheiro e melhor amigo Kazi. Tímida e calada, fazia um diário para a mãe, morta no parto dos gêmeos. Seu pai, médico, vivia para o trabalho; a avó administrava a casa e cuidava das crianças enquanto o pai estava fora; mas nenhum dos dois era realmente carinhoso com Nisha e Amil. Então ambos se apegaram a Kazi. Nisha de maneira ainda mais intensa, pois enquanto ajudava na cozinha, só se sentia à vontade para falar quando estava com Kazi.
Em agosto, a Índia se tornou independente dos ingleses; o país rachou. Muçulmanos, sikhs e hindus deixaram de conviver pacificamente e começaram a se atacar. Bem onde eles viviam tornou-se área muçulmana, o Paquistão. Ameaçados, tiveram que fugir para Jodhpur, área hindu. Detalhe: Kazi era muçulmano e teve que ficar.
A jornada de Mirpur Khas a Jodhpur é, na minha opinião, a melhor parte do livro. O êxodo do povo hindu é muito bem retratado por Hiranandani; me vi naquele longo percurso, senti o sol escaldante, as privações. Se é nas dificuldades que conhecemos as pessoas, é nas situações extremas que vemos do que realmente são capazes.
Porém, em relação à protagonista, achei-a muito infantil: ela tinha 12 anos, mas parecia ter uns nove. O que ela faz na casa do tio, por uma justificativa pueril, é tão idiota! Por outro lado, ela é meiga e protetora em relação ao irmão.
Uma coisa que adorei na narrativa foi a relação de Nisha com a culinária: são tantos pratos, especiarias e temperos que fiquei com água na boca! Se este livro tivesse odores, alguns seriam maravilhosos, com certeza.
Enfim, foi uma leitura fácil e rápida. Livros supostamente escritos por crianças em épocas de conflito são sempre bem aceitos e acredito que com este não será diferente. Embora no gênero eu tenha preferido “O diário de Myriam”, sobre a guerra na Síria, e “Meu pequeno país”, sobre o genocídio ruandês, este “O Diário de Nisha” também me trouxe informações valiosas sobre um país e uma época quase desconhecidos por mim.
A edição da DarkSide está, como sempre, de um capricho de detalhes: capa dura, bela folha de guarda, um pequeno mapa, uma fonte bem agradável aos meus olhos míopes, marcador de fita (amo bem amado) e um corte dianteiro que é simplesmente um desbunde de tão lindo.
Nota: A história é fictícia, mas foi baseada na travessia feita pelo pai da autora de Mirpur Khas a Jodhpur.