cadenthrones 04/06/2024
O brasileiro que não muda
Não vou mentir ao dizer que a narração mais crua me pegou de surpresa e me distanciou de uma conexão mais emocional com a história do Naziazeno, mas como não estou acostumado a leituras brasileiras de época, é mais estranhamento da minha parte do que problema com o livro. O que é um discurso, ao meu ver, mais sensato do de resenhas que pintam por aqui a obra como essa coisa horrorosa e abominável, a tão procurada cura mágica da insônia.
O problema que eu vejo que essas pessoas encontram é a linguagem coloquial de época, e isso inclui termos, linguajar e formatação do texto que exige mais do leitor em desvendá-la. Isso também se liga à narração mais demorada, não porque é verborrágica, mas o ritmo é mais lento, portanto é um erro gigante de quem critica esses elementos e diz que é ruim, porque é anacrônico, é querer moldar a qualidade de um livro de ontem sob os parâmetros de qualidade de hoje. Não é o livro que tem que adaptar a você, mas você deve se adaptar à leitura.
Enfim, passadas essas questões, é só beleza que eu enxergo aqui. É a sensação catártica de se ver no papel de Naziazeno, a personificação do trabalhador principalmente de classes mais pobres, alienado no capitalismo que o desumaniza e o torna um animal menor (vide o título), Alcides que deve vender uma relíquia de família só para pagar as dívidas, enquanto ambos sequer têm dinheiro para as suas necessidades básicas. Eu gosto como o autor construiu o Naziazeno como essa pessoa pacata, passiva, emasculada, pois ele foi diminuído a essa condição pelo sistema econômico em que ele é colocado e pelos aproveitadores que o circundam, é uma forma de mostrar o que o capitalismo faz a um sujeito a nível psicológico e emocional.
E o pior é pensar que em quase cem anos, quase nada mudou. Brilhante e atual! Só um comuna mesmo pra escrever uma coisa dessas!