Alanna. 22/04/2021Bom, mas tinha potencial para ser muito melhor *Antes de falar desse livro, eu acho importante destacar que a história pode trazer gatilhos sobre estresse pós traumático, sobre comportamento agressivo e talvez sobre uso de entorpecentes e álcool*
Aqui vemos a história de uma família bastante disfuncional. Um pai que é ex militar, e que carrega consigo traumas não só do seu tempo de exército mas também de perdas pessoais, um cara que está afundado em bebida e drogas, atormentado por esse passado; e sua filha, criada diante de tudo isso, que desde muito nova se viu no papel invertido de ter que cuidar do próprio pai, e de não viver as próprias experiências de uma adolescente "comum". A coisa toma nova forma quando os dois voltam para a sua cidade Natal, e Hailey começa a se ver em situações próprias para sua idade, indo para a escola, tendo amigos, se apaixonando.
É uma leitura que me prendeu desde o início, a Hailey não é uma personagem carismática, mas ela tem uma maneira de observar as coisas que me fez gostar dela. Finn, que seria o "namoradinho" dela é o personagem que mais gostei na história, mas sinto que o romance deles podia ser mais bem explorado (embora tenha gostado de o foco maior da história ser na relação pai e filha, e não no romance adolescente). O relacionamento dos dois não é perfeito, a princípio parece mais uma fuga da Hailey da sua realidade mas ao mesmo tempo é ela relutante porém querendo viver essa experiência.
A relação da Hailey com o pai é realmente muito problemática. O pai dela não chega a fazer coisas extremamente violentas (sejam físicas ou verbais), parece que ele mais se afunda em si mesmo, e ela tenta catar os cacos depois de cada bebedeira ou abuso de substâncias. É realmente uma inversão de papéis, porque a filha que tem que observar se o pai está fazendo as coisas mais básicas, ela contém os gastos, ela resgata ele de surras, ela se preocupa com as amizades ruins dele. Durante a leitura é possível perceber como esse relação é desenvolvida e como ela se desgasta. Em muitos filmes e livros podemos ver essa questão de traumas de ex soldados, que depois de irem a guerra suas vidas nunca voltam a ser como antes, e que carregam essas lembranças ruins o resto da vida, e essa leitura me fez pensar nisso, e pensar nos familiares de quem passa por esse tipo de situação. Eu confesso que fiquei aflita em certo trecho, pois o pai de Hailey tem muitas armas em casa, e em certo ponto da história ele começa a limpar essas armas e isso desperta um pavor na Hailey.
Acho que esse livro tinha potencial para ser mais (acho que até vi isso em uma resenha por aqui), a história é boa mas falta algo pra ela ser REALMENTE boa. Também acho que poderia ter um maior desenvolvimento da história do pai da Hailey, por mais que tenha alguns trechos que ele descreve os pesadelos e as sensações de guerra, acho que poderia ter mais pra que a gente entendesse melhor o personagem. Por fim, acho que o final do livro é muito corrido e não desenvolve completamente os conflitos que construiu na trama.
No geral, é uma boa leitura, uma história com temas fortes, e com bons personagens. Eu recomendo demais essa leitura.