Polly 28/12/2020
Pálido Ponto Azul: ler Sagan é sempre transformador (#146)
A primeira vez que peguei em Pálido Ponto Azul foi no meu primeiro semestre da faculdade, em 2011. Foi um PDF qualquer que eu catei pela internet e, naquela época, não existia muitos meios eletrônicos possíveis para ler. Ou, ao menos, eu não os tinha. Lia no jurássico computador de mesa de casa ou durante o início das aulas de Métodos Computacionais. Lembro que eu estava amando, a escrita do Sagan sempre me cativou. Mas, tive que abandoná-lo. Foi o primeiro de muitos que abandonei durante a graduação. Foram cinco anos sem, praticamente, fazer algo que eu amava demais: ler. A vida exige o inexigível da gente e nem todo esforço garante a recompensa prometida. Confesso que minha vida está bem diferente do que eu imaginava que ela seria lá naquele 2011. Fiz caminhos tortos, mas felizmente encontrei o meu. E mais importante, voltei a ler, me encontrei outra vez. Os pedacinhos da minha alma, tenho certeza, andam espalhados por cada livro que abro e ainda vou abrir. Terminei meu Pálido Ponto Azul, encontrei mais um pedacinho meu perdido.
Pálido Ponto Azul é uma espécie de continuação de Cosmos (que ainda não li) e conta as descobertas da expedição feita pelas sondas Voyager 1 e 2 no nosso sistema solar. Sagan se atém muito aos planetas Júpiter e Saturno, salientando durante toda a leitura que aparentemente estamos sozinhos. A vida como vemos aqui na Terra parece ser a exceção. No entanto, Sagan também nos fala da possibilidade de colonizarmos alguns planetas e corpos celestes. O astrônomo nos lembra que o ser humano é feito do ímpeto de “ir”, de “partir”. E o desbravamento do espaço é só uma questão de tempo, tecnologia e cooperação humana. Sagan acredita tanto na humanidade, que chego a lamentar o fato de ser tão breve nossa estadia por aqui. Se formos capazes de cooperar uns com os outros, de derrubar nacionalismos sem sentido, se formos solidários, não só evitaremos nosso fim, como faremos coisas grandes demais para uma poeira estelar que ousou pensar. Pelo menos, são essas as previsões de Sagan, e gosto de acreditar nele. Chega a dar pena de morrer. Dá vontade de viver o suficiente para testemunhar tamanha façanha.
Enfim, ler Pálido Ponto Azul foi muito representativo para o momento que estou vivendo. Sagan nos fala da nossa grandeza, sem esquecer de nos lembrar da nossa fragilidade. Somos pequenos, invisíveis há poucos quilômetros no espaço. Temos também a mira da extinção apontada para gente, e talvez mais cedo do que deveria ser, por nossa própria culpa. Existem inúmeros corpos celestes pelo nosso universo, pelo nosso sistema solar, mas até agora só um é habitável, só um é compatível com a vida. Precisamos cuidar da nossa casa. Por nós mesmos. Ler Sagan pode nos conscientizar disso. Leiam Sagan.