Silvana 14/03/2019
Um ano atrás a detetive sargento D. D. Warren chefiava uma equipe na unidade de homicídios da BPD e sua alegria era viver para as investigações de assassinatos. Mas então durante uma ocorrência ela caiu em uma escada e fraturou o braço esquerdo, impedindo ela de levantar sua própria arma e seu filho pequeno. Depois de muito repouso e fisioterapia D. D. pôde voltar para o trabalho, mas agora sob regime restrito, o que significa ficar atrás de uma mesa, o que ela odeia. Mas de vez em quando ela dá umas escapadas. E é isso que ela está fazendo na garagem dos Goulding, onde sua ex equipe está investigando um crime. Só foi encontrado os restos carbonizados da vitima, ou será do criminoso?
Quem chamou a policia foram os vizinhos e junto ao corpo estava uma garota nua, toda machucada e com os pulsos amarrados. Para surpresa de todos, a garota é Florence Dane, uma antiga conhecida da policia, já que sete anos atrás ela esteve em todos os noticiários por ter sido sequestrada e mantida dentro de um caixão por 472 dias onde viveu um pesadelo sem tamanho, enquanto seu sequestrador viajava com o caixão escondido atrás da cabine de seu caminhão por todo o país e ainda provocava sua família enviando cartões postais, mensagens e até vídeos. Será Flora tão azarada assim que foi pega novamente por outro sádico? Mas ao conversar com Flora, D. D. percebe que ela não é tão vítima assim, e sabia bem o que estava fazendo.
A policia conseguiu libertar Flora e matar seu sequestrador, mas somente depois que ele quebrou Flora e tirou toda sua humanidade. A garota que voltou não era a mesma que sua família e amigos conheciam. Ela fez aulas de defesa pessoal e se especializou em comportamento criminoso. E essa já e a quarta vez que ela se envolve com criminosos com o mesmo perfil de seu sequestrador e, consegue escapar deles entregando os para a policia. Mas sua sorte não dura muito. Flora é pega e dessa vez por alguém muito mais esperto que ela. Nem todo seu conhecimento e treinamento vai ajudar. Mas D. D. não vai descansar enquanto não encontrar Flora, e ela vai ter a ajuda do Dr. Samuel Keynes, um especialista em vítimas que foi a única pessoa para quem Flora contou o que aconteceu durante seu primeiro cativeiro.
"Mas humanos são interessantes. Nossa capacidade de adaptação é realmente impressionante. Nossa fúria contra o próprio sofrimento. Nossa necessidade incansável de encontrar uma saída, de fazer alguma coisa, qualquer coisa, para seguir em frente com a vida."
Esse é o quarto livro que leio da autora, e o terceiro com a detetive D. D. Warren. E cada vez me surpreendo mais com a escrita dela. Mas antes de mais nada tenho que falar que a autora aborda assuntos fortes, perturbadores mesmo, por isso já leia preparado, pois, tem algumas cenas que chegam a embrulhar o estômago. Mas nada que a gente não esteja vendo nos noticiários dia e noite ultimamente. Com a narração dividida entre a detetive e a vítima, a história ganha um ritmo alucinante, no qual só conseguimos largar o livro quando vemos o final dele. Os capítulos com a D. D. Warren são em terceira pessoa, e os com a Flora em primeira, e ainda vamos acompanhar Flora em seu primeiro cativeiro e nos dias atuais.
Já tinha lido livros com sequestros antes, mas é a primeira vez que acompanho em primeira pessoa alguém que não apenas foi sequestrado, mas que foi sendo quebrada dia após dia para se esquecer de quem é e se tornar quem o sequestrador quer que ela seja. Foi de arrepiar ler as cenas, e de ver como ela foi se moldando e o tempo todo eu me imaginava ali no lugar dela. É fácil a gente falar e questionar vendo de fora, mas já imaginou ficar trancada dia e noite em um caixão, só sendo retirada dali para ser abusada física e psicologicamente e depois ganhar algumas migalhas de comida e um pouco de água apenas para que a garota sobreviva. Meses nessa situação transforma qualquer um. Por isso não julguei suas atitudes quando finalmente ela foi resgatada.
Se não tivesse esses capítulos onde acompanhamos Flora em seu cativeiro, eu poderia ter pensado como a detetive, e ter questionado como alguém que passou por tudo aquilo se coloca novamente em perigo, sem falar na família dela que pode ter que passar por tudo novamente. Mas depois de ler esses capítulos, eu entendo a Flora. É de cortar o coração, é de perder a fé na humanidade. É de se pensar como o ser humano chega a tal ponto de fazer tanta barbaridade e ainda achar que "eu faço isso porque sou doente, eu não consigo controlar". É depois de ler coisas como essa que eu super concordo com pena de morte. Assim como a detetive, eu também queria matar aquele escroto com minhas próprias mãos.
E para quebrar o clima sombrio e perturbador, temos os capítulos onde acompanhamos as investigações lideradas pela D. D. Nele temos mais ação e também para quem gosta de livros do gênero, é a parte onde quebramos nossa cabeça para tentar descobrir o que está acontecendo. As pistas vão sendo soltas e cabe a nós leitores juntarmos elas e montarmos o quebra cabeça. Mas por mais que eu tentasse, nunca que eu ia chegar no final proposto pela autora. Eu desconfiei de todo mundo. Desde a mãe da Flora, e até ela mesma foi minha suspeita durante boa parte do livro. Desconfiei de algumas pessoas só para depois poder me enganar dizendo: "mas eu pensei nessa pessoa". Só que o final foi completamente diferente de tudo o que pensei. E ainda ficou aquela sensação de "como que não enxerguei isso se estava tão na cara".
Como vocês viram lá no começo da resenha, esse livro faz parte de uma série. Mas é série porque temos a mesma detetive em todos livros, as histórias são independentes. O problema é que se lidos fora de ordem perdemos a cronologia da vida dela. Aqui mesmo, ela já está casada e tem um filho, enquanto nos outros livros dela que eu li, ela ainda era solteira. Mas isso são detalhes que não interferem na história. Não vou falar mais sobre os personagens para não soltar spoilers, mas é um livro que recomendo sem sombra de duvida para quem é fã do gênero. Quanto a edição, eu achei essa capa muito bem feita pois remete a situação vivida pela protagonista. Quanto a diagramação, um detalhe é que temos aspas no lugar do travessão, mas a história é tão envolvente que só me dei conta disso quando já estava terminando o livro.
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