Israel145 27/07/2015A obra literária de George Orwell geralmente é resumida em 2 grandes clássicos do autor: 1984 e A revolução dos bichos. Apesar de serem clássicos incontestáveis da literatura do século XX, podemos alçar voos maiores na produção literária e jornalística do autor cujo viés autobiográfico ajuda a entender seus 2 grandes clássicos e quiçá o próprio século XX.
Em “Na pior em Paris e Londres”, o autor embarca na vida à margem da sociedade e se dispõe a viver em condições mais ou menos sub-humanas com empregos em condições de semiescravidão e rodeado pela escória da sociedade, em antros imundos com mendigos, vagabundos, pilantras, assassinos, ladrões, prostitutas e toda sorte de marginal que se possa imaginar.
Na primeira parte do livro, passada em Paris, o autor narra suas desventuras vivendo a custa de pão com margarina e chá, e trabalhando como Plongeur, uma espécie de ajudante de cozinha das imundas biroscas francesas. Essa é a parte mais interessante do livro, principalmente quando surge seu amigo russo (também vagabundo) Boris.
A segunda parte se passa em Londres, e não é tão interessante quanto à primeira, já que o autor continha raízes e laços na cidade, fazendo-nos imaginar quão “real” foi essa incursão no submundo miserável de Londres. Seu mote principal é as condições sub-humanas dos albergues londrinos.
Independente da natureza das experiências relatadas no livro terem sido reais, decorrentes de infortúnios, ou propositais, decorrentes de algum experimento literário/jornalístico do autor, a obra é fortemente marcada pela visão socialista de Orwell e pode-se ver facilmente reflexos dessas experiências em 1984 e A revolução dos bichos.
Incontestavelmente, o nível da literatura jornalística de Orwell não fica nada aquém dos seus 2 romances clássicos, produzindo no leitor sentimentos tão profundos como as experiências de Orwell vividas junto à escória de Paris e Londres.