Lane 06/02/2012Acabei de ler Anna Karenina, e já sinto uma saudade imensa dos
personagens, da história, das descrições dos ambientes, dos
sentimentos, dos dialogos inteligentes, e acima de tudo, da narrativa do autor.
Tolstói me encantou, fascinou e me inquietou.
A sensação que tenho após ler esse clássico é de pertubação, dos sentimentos e pensamentos. Tolstói mostrou, nesta obra, os
comportamentos e sentimentos em relação a familia e aos amores.
É um clássico, sem dúvida! E, se não fosse, seria um erro abominável.
Intenso, envolvente, cheio de dilemas, Tolstói, nos apresenta uma
abordagem da alma humana.
Vários temas são discutidos: adultério, politica, filosofia, religião,
agricultura, aspectos sociais, educação, guerra, casamento, situação
social da mulher, aristocrácia, moral, familia, algumas teorias, como por exemplo a de Darwin e outros.
Neste contexto complexo, escrito numa época complicada [final do século XIX], Tolstói, extravaza a imagem de uma Rússia, precedente ao
comunismo. E mesmo, o livro sendo escrito há vários anos atrás, sua
essência é real e nada tem a ver com ficção.
Muitas situações familiares encontradas no roteiro, faz o leitor refletir, avidamente sobre esta instituição, chamada familia.
A obra é escrita em partes, e confesso que teve momentos que fiquei
impaciente, e queria logo saber o desfecho da história. Contudo, apesar de ter ficado ansiosa, não consegui deixar de desfrutar deste romance dramatico.
O enredo, engloba sempre em paralelos contrastantes: a cidade e o
campo, o homem e a mulher, a aristocracia e homem simples, o bem e o
mal, a ciência e a religião, filosofia e praticidade, etc...
No entanto, há sempre um ponto comum, os embates se cruzam de
forma singular e justificada.
A primeira parte, é nos apresentado os personagens e suas
caracteristicas. Engana-se quem pensa que por ter a obra o nome de
"Ana Karenina", está será sempre a centralização do roteiro.
Há dois personagens principais: Ana e Levine, que no decurso de um
pouco mais de 800 páginas, estes, se encontram uma vez somente, e nem por isso, suas vidas não são interligadas.
Ana, mulher da alta sociedade, possui uma beleza singular, um
encanto natural, inteligente e bondosa, casada com um homem de alto
escalão público, que é vinte anos mais velho que ela. Mãe devotada,
entregue a rotina de uma vida social ao qual pertence seu status, se vê envolvida num caso extra- conjugal com um homem mais novo, o
conde Vrosnky.
Inicialmente, Ana me impressionou, por sua coragem como mulher e
diversas vezes compreendi suas atitudes, no entanto, no final, ela me
decepcionou. Em colapso consigo mesma, atormentanda pela culpa e
pela hipocrisia da sociedade e suas malediscencias, Ana mostrou-se
infantil e superficial. Diante da análise psicologica que autor atribuiu ao desfecho da personagem, foi contraditório pra mim entender.
Apesar de ter ficado estupefata com o final, tanto que não consegui
interromper a leitura até compreender, percebi que o romantismo, pode
ser o obstaculo para a felicidade.
E percebi a intencionalidade do autor, em deixar o leitor como
expectador de vidas humanas na obra, ao comparar com o desfecho de
Dolly.
Dolly, esposa do irmão de Ana, e ao contrario desta, é ela quem é
traída, se submete ao desprezo por si mesma e agarra ao amor dos
filhos como justificativa a sua anulação de romantismo.
E entre, essas duas personagens, o autor aborda um tema que tem
como objetivo a reflexão: Quem é mais feliz Ana ou Dolly? É preciso ler para descobrir.
Levine, outro personagem principal, foi o que mais me agradou. Sua
simplicidade, seus pontos de vista, sua crise existencial, sua timidez, seus conflitos, seus receios e medos. Definitivamente, Levine, é o "ser fora da casinha"...rs.
Proprietário rural bem sucedido, Levine busca respostas aos seus
infortunios no amor, e é atraves dele que temos questionamentos
profundos.
O autor, atraves de Levine, coloca toda a beleza e poesia a
trama. É inegável e imprensidível entender este personagem, para a
compreensão do final da história.
Outros personagens trazem sua contribuição ao drama:
Kitty, irmã de Dolly, que inicialmente enamora-se de Vrosnky, a qual
Levine é apaixonado, sofre uma decepção ao ser literalmente trocada
por Ana. Seu crescimento e amadurecimento é muito interessante na
obra.
Oblansky, irmão de Ana, marido de Dolly, despreocupado com a
familia, que incialmente vê seu casamento condenado [ que Ana o
salvou deste destino], apesar disso, não sofre nenhuma consequencia
em sua vida familiar e nem em sociedade. Leva-nos a refletir sobre o
dilema homemX mulher e seus direitos. Será que hj em dia, as
mulheres são tratadas da mesma forma que os homens?
Alexie, marido de Ana, finge não ver a traição da esposa, por receio de julgamentos da sociedade e pelo cargo que exerce. Vê seu amor
transformado em ódio. E, incialmente eu não gostei dele, mas teve
momentos que ele me despertou pena.
Mas, como Tolstói sempre levanta uma questão polêmica. Será ele capaz de perdoar Ana? Suas atitudes e decisões são pautadas no amor sincero ao proximo?
Eventualmente, deixei de citar aspectos desta belissíma obra, afinal são mais de 800 páginas, que merecem ser desfrutadas por aqueles que
amam analisar um bom livro.
Simplesmente, não é uma obra de amor romantica e de ficção. Seus
personagens são expostos nus e de carne e osso. Tolstói nos envolve
numa atmosfera realista, cheia de questionamentos.
Até onde eu sou capaz de ir por amor?
A opinião dos outros, até que ponto é importante pra minha felicidade?
Eu sei compreender o sofrimento do outro, entender e perdoar?
Casamento, é ou não uma instituição falida?
Recomendo muitíssimo, mergulhem nesta obra com Tolstói!!!
Avaliei com 5 estrelas.