Queria Estar Lendo 24/06/2018
Resenha: As Filhas da Noiva
As filhas da noiva é o lançamento do mês da editora Harlequin, e que nos foi cedido para resenha. O livro de Susan Mallary conta a histórias de três irmãs no pouco tempo que antecede o casamento da mãe delas. Com humor e leveza a trama que tem seu foco nos romances não perde sua característica mais própria, o drama e as relações familiares.
Maggie está prestes a se casar, vinte e quatro anos depois de ter perdido seu marido e ficado sozinha com três filhas para criar. Agora as três mulheres se encontram cada uma em uma fase da sua vida, com seus próprios problemas e cicatrizes do que a perda do pai deixou. Courtney é a mais nova e o patinho feio da família, desajeitada e tendo sido aquela que "ficou para trás", tem uma relação complicada com a mãe e a irmã do meio. Sienna, a mais bonita e inteligente das três, tem um emprego que ama e onde pode ajudar outras pessoas, mas acaba de ficar noiva pela terceira vez e não faz a mínima ideia se ama o noivo ou não. E por último Rachel, a irmã mais velha, que apesar de estar divorciada a dois anos após a traição do marido ainda se encontra total e completamente apaixonada por ele.
"- Você me rejeitou. - A mãe suspirou. - Talvez dê para dizer que eu rejeitei você primeiro."
O que parecia apenas mais um livro bobinho de romance acabou se mostrando uma história que tem em seu cerne os dramas familiares, que mostra como essa relação afeta a todos das mais diversas formas, que todo mundo tem suas cicatrizes e que, no final, mesmo aqueles que nos amam podem nos machucar. Ainda que não intencionalmente.
Uma das coisas que eu mais gostei é que você pode ficar buscando culpados e apontando dedos, mas a verdade é que no fim todas tem sua culpa e também suas cicatrizes. Sim, podemos nos identificar e apoiar mais uma do que outra, mas é inegável que todas ali exercem influência sobre a vida de todas. Exatamente como acontece na vida real e nas famílias reais.
Courtney foi minha personagem preferida e aquela com quem mais me identifiquei. Talvez seja o fator da idade, ou por seu momento de vida ser mais parecido com o meu do que as demais, ou por eu também ser caçula, quem sabe. Mas o fato é que a garota alta e desajeita a quem todos julgam e esperam algo melhor acabou conquistando meu coração.
"Courtney conhecia o perigo. O amor doía. Sempre. Todos os tipos de amor. Se você ama alguém, vai se machucar. Era assim. E não queria isso. Nunca."
O fato sobre ela é que Courtney teve problemas de aprendizagem quando criança e demorou muito para perceber, por isso acabou perdendo dois anos da escola e adquirindo um complexo relacionado a sua capacidade. Agora, aos vinte e quatro anos e com o cargo oficial de camareira do hotel, ela sente que precisa provar aos outros e a si mesma que é muito melhor do que eles pensam. É parte deste complexo de inferioridade que faz com que ela não acredite que Quinn, um produtor musical muito famoso e também neto da dona do hotel em que trabalha, possa ter algum interesse real nela além de sexo sem compromisso.
"Ele tem razão, pensou ela, sentindo-se zonza. Estava deixando seus medos tomarem conta. David a amava. Deveria confiar nisso. Confiar nele. Talvez, ao fazer isso, aprendesse a confiar em si mesma."
Sienna por outro lado é a garota de sucesso da família. Além de linda e confiante, ela é a melhor em seu trabalho em uma ONG que ajuda mulheres que sofreram agressão domiciliar. O drama de Sienna está em sua vida amorosa, agora que seu então namorado acaba de lhe pedir em noivado em pleno jantar de noivado da sua mãe. Porque Sienna não sabe se ama ou não David, e esta já é a terceira vez em que ela fica noiva. Será que o problema está nos noivos, que não eram certos, ou nela?
Rachel, por fim, vive uma situação muito diferente da das irmãs. Divorciada há dois anos e com um filho de 11 pronto para entrar na adolescência, ela precisa se multiplicar para dar conta do salão, cuidar da casa e ainda participar de todas as atividades extras que envolvem Josh, como por exemplo ser a mãe responsável por levar os lanches nos jogos de beisebol. Para completar, adicione na lista um ex-marido lindo - e que ela ainda ama! - que nunca se faz ausente e que, diferente dela, não parece ter sofrido nada com a separação. É claro que com tudo isso no seu prato, Rachel acabou deixando algumas coisas de lado, sendo uma delas a si própria.
A relação entre os personagens foi muito interessante, principalmente entre as irmãs e a mãe. Gostei principalmente de Courtney e Quinn, que poderiam ter dado errado de inúmeras formas, mas que se mostraram como um casal saudável e shippável. Vou ressaltar, porém, que não acredito que a diferença de idade fosse necessária e que esse ponto, na verdade, apenas serviu para ressaltar a questão de autoridade, o que me incomodou um pouco. Não aprecio histórias onde seja necessária uma presença masculina para que uma mulher perceba todo o seu poder, e ainda que de forma leve acredito que isso possa ter ocorrido um pouco aqui sim. Courtney é muito mais do que um projeto, e talvez se a autora tivesse manerado nas características autoritárias e de poder dadas ao Quinn isso teria ficado muito mais claro.
"- Vai fazer alguma coisa a respeito?
- Ainda não decidi.
- Por que é você quem tem que decidir?
- Porque você não o fará.
- Ah, isso é verdade. Vai me contar quando decidir?
- Você vai ser a primeira a saber."
A trama da Sienna é a que menos empolga, assim como a personagem, e em parte pode ser por causa da sua prepotência e porque ela é "a mais bonita e inteligente", e nós somos condicionados a torcer pelos em pior situação. O ponto alto do plot da Sienna, pra mim, é a sutileza que a autora usou para mostrar como não estamos salvas, que não importa o quanto a gente saiba e enxergue situações abusivas, todas somos suscetíveis a vivenciar ou chegar perto de vivenciar uma nós mesmas. O abuso também vem por forma de carinho, de manipulação, de um jeito que faz com que você olhe para seu parceiro e se questione o quê há de errado em você, porque obviamente o problema nunca é ele. A mensagem foi bem sutil e infelizmente não acredito que todas vão perceber, mas está lá e é muito importante. Muito mais do que o final, um tanto tosco e corrido - embora totalmente esperado -, dado a personagem.
"Isso era amor? Não parecia nenhuma das definições que já tinha ouvido, mas talvez fosse diferente para cada pessoa. Talvez aquela fosse a sua versão do amor."
O mais complicado pra mim, afora a relação das meninas com a mãe, foi o relacionamento da Rachel com o ex-marido, Greg. O casamento acabou após uma traição, do qual ele prontamente se arrependeu, mas a verdade é que os problemas já eram muitos e existiam muito antes do fato em si. Rachel e Greg eram o casal perfeito a quem todos queriam ser, casaram tão logo ela completou o ensino médio e logo tiveram Josh. O problema é que Greg nunca deixou de ser o garotão atleta da escola e Rachel teve de tomar todas as responsabilidades pra si, algo que ela já estava acostumada já que fez o mesmo com as irmãs mais novas. E agora vem o que me incomoda na relação entre eles: eu entendo que eles se amam, eu sei que ele se arrepende e que a traição não significou nada, mas eu não consigo lidar com a presença constante dele na vida da Rachel e do filho ou em como ele simplesmente decide ser agora o homem que nunca foi antes.
Porque esta é a trama da Rachel no livro, seu ex-marido tendo descoberto suas falhas no casamento, assim como as dela, e ter decidido tentar ser um homem melhor. Isso é ótimo, realmente é, principalmente porque eles ainda se amam, mas a imposição da presença constante me dá nos nervos, assim como todo o papinho de auto ajuda pra cima dela. Ele está certo, eu sei, mas não rola pra mim. Eu já teria mandado a merda há muito tempo. Ou seja, minhas críticas nessa questão são muito mais pessoais e dizendo respeito a minha personalidade do que ao livro ou o personagem em si.
As filhas da noiva é um livro muito bom e que eu li rapidamente, dá pra perceber as nuances que a autora colocou e, se quiser, muitos pontos da história podem ser analisados mais a fundo. Para evitar qualquer possibilidade de spoilers, não vou fazer isso, mas estou aqui caso alguém queira discutir sobre. Quanto a parte gráfica a capa é linda e eu amei o trabalho com os tons das cores, mas preciso dizer que encontrei erros de revisão no texto: nomes trocados, palavras erradas e até uma ou outra frase com pequenos erros de tradução.
Perfeito para uma leitura de final de semana, leve, divertido e com uma boa trama familiar para contar. As filhas da noiva é o livro indicado para quem gosta de um bom romance com uma história sólida de fundo.
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