Resenhas - A Ilha do Dr. Moreau

Davi Busquet 08/09/2020

A ciência antiética de Moreau
Não muito distante cronologicamente da Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, em 1859, “A Ilha do Doutor Moreau” (1896), de H.G. Wells, não só aproveitou o tema em uma narrativa tensa, instigante e cheia de reflexões, mas também traduziu o gênio visionário de Wells em uma obra que antecipou por mais de um século a tecnologia de manipulação e engenharia genética.
Na trama simples e objetiva, contudo rica em muitas das controvérsias vigentes na época (e até hoje) — os limites éticos da ciência, a fundamentação de experimentos, a prepotência e autodivinização de cientistas e a fronteira entre o humano e o animal —, o personagem principal se depara, em suas viagens, com uma ilha misteriosa e isolada, onde animais são combinados e operados pelo inescrupuloso Doutor Moreau, de modo a constituírem híbridos com características e expressões humanas, cuja visão acerca de seu criador é um misto de medo e adoração.
Ao contrário do conceito “acidental” e imprudente de Victor Frankenstein, de Mary Shelley (1823), Moreau mergulha no negligente e egocêntrico, experimentando sem pudor e punindo com torturas e mutilações os seres que, do seu ponto de vista, divergem do “normal” e humano. Através de um personagem são, contudo praticante de atos insanos, Wells mostra como o isolamento da ciência de noções morais e éticas pode levar à ineficiência — ou seja, em como ela pode se tornar uma coleção de atos vazios, despropositados e que inevitavelmente, além de não gerar frutos para a humanidade, desprezam os valores que ajudaram a erguer o mundo como ele é hoje.

Daubian 09/07/2020

Eu como biólogo fiquei impactado com a representatividade dos personagens. Queria muito que se encontrassem o Montgomery deste livro com o Montgomery Montgomery do Desventuras em série. O livro é muito surpreendente com questões bem relevante (isso q ele foi escrito no século 19). Algumas imagens são bem intensas e o ritmo é bem angustiante. Você sente a tensão. Como ficção científica não é exatamente realista, mas é absolutamente interessante e impactou diversas histórias no futuro. Excelente escritor e excelente livro

Matheus656 05/06/2023

Prefiro o Wilson, aos bichos-humanos
A ilha do Dr. Moreau é um clássico da literatura mundial. Misturando o horror com ficção científica, vemos aqui uma crítica à ética e também aos testes em animais. O nosso protagonista acaba parando nessa ilha após ser salvo por Montgomery, e descobre que ali então, era praticado testes em animais, ou mais especificamente, vivissecção. Os animais então de certa forma eram modificados, e o livro vai debater muito sobre isso, e também sobre religião e evolução. É um livro curto, devorei em poucas horas, a narrativa prende o leitor para que ele fique com a pulga atrás da orelha, para querer saber o que vai acontecer e não largar o livro até ter terminado. Interessante, agora divagando aqui, é raro eu ler algum livro de ficção científica que seja sobre experimentos em laboratórios, já que, talvez o tema, apesar de englobar também esses experimentos, parece estar mais ligado ao espaço; naves, extraterrestres e por aí vai. Foi meu segundo livro lido do autor, e pretendo ler mais coisas dele.

EduardoCDias 25/06/2020

Uma ilha
Um náufrago é recolhido no mar e levado à uma misteriosa ilha onde faz-se algumas experiências horripilantes com animais. Um clássico da ficção.

Aldemir2 17/02/2022

Humanos que agem como animais e vice versa (não, não estou falando do presidente)
Enfim cheguei no último das quatro grande obras de H. G. Wells: *Guerra dos Mundos, A Máquina do Tempo, O Homem Invisível* e *A Ilha do Doutor Moreau.* Assim como os outros três, este último é um daqueles clássicos que por mais que não se tenha lido ele, a pessoa sabe do que se trata por cima. Um homem chega em uma ilha estranha, comandada pelo Dr. Moreau, e lá encontra seres metade humanas metade animais e precisa lutar para sobreviver. Portanto, o prazer da leitura deste livro não se encontra na história em si, pelo contrário, ela se encontra na verdade nas discussões que os experimentos feitos por Moreau traz, a filosofia por trás deles além da sensação de suspense e mistério que ronda o personagem.

Não falando muito da história pois, como já disse, ela é bastante conhecida e seu plot é aparentemente até bastante simples, mas ao ler o livro percebi que por mais simples que o *plot* seja, as nuances por trás são extremamente complexas, assim como as outras obras de Wells. Das quatro, essa foi a que achei mais bem escrita e construída, além de bem trabalhada em suas questões humanas, por mais que para mim a leitura tenha sido lenta e um pouco densa. Primeiramente, acerca da questão ética dos experimentos, eles não foram feitos com humanos, mas sim com animais, num processo que Moreau chamará de vivissecção. Ele altera o corpo e a mente dos animais para torná-los mais “humanos”, mas afinal, o que é ser humano? Essa é a primeira questão que a leitura irá trazer ao leitor enquanto o protagonista, Edward Prendick, tenta conviver no meio daquela comunidade estranha, enquanto os seres que Moreau tenta transformar em humanos voltam às suas origem animalescas. E é aqui que se encontra a segunda questão: é a negação dos instintos naturais que nos separa dos animais? É isso que nos torna humanos? A abordagem de que o ser humano tem o seu lado sombrio e escondido dentro de si, o lado animal, é um dos pontos mais importantes do livro e que traz mais reflexão, sendo com certeza um dos motivos para dar nota máxima a ele. Além disso, também há a questão de criador e criatura, o se tornar um deus daqueles seres que ele criou e as questões de até onde a ciência pode ir, o quão ético realmente foram aqueles experimentos.

Essa é uma leitura que não deixa o leitor sair ileso dela e com certeza a que eu considero a melhor das quatro grandes obras do autor, por mais que ela não tenha sido fácil para mim. Por vezes sentia sono enquanto lia, era meio densa e não muito fluída, mas é uma coisa que vai de cada um. Se eu pudesse recomendar somente um dos livros do autor (o que não é fácil visto que os quatro que li são muito bons) esse é o primeiro que vem na minha mente, seguido de *O Homem Invisível.*

Junior Melo 22/10/2022

É uma ótima análise sobre a relação do homem x natureza e homem x homem. H.G. Wells nós traz novamente um dos primeiros exemplos de "cientistas loucos" da ficção. A narrativa é simples e dinâmica mas confesso que fiquei perdido em alguns momentos quando ele tentava descrever algumas criaturas.

Guacira.GonAalves 01/01/2023

Uma edição com narração humana muito boa. Um livro de aventura com o relato de um sobrevivente de uma ilha de experimentos de um médico em tornar animais em homens.

Domenica Mendes 10/05/2020

Um livro muito melhor do que a gente espera
Que livro!!! H. G. Wells faz um trabalho incrível em "A Ilha do dr. Moreau". Diferente do que muitas pessoas esperam de uma ficção científica, o autor se foca em estudar a sociedade e comportamentos sociais, em uma escrita leve e fluída que encanta e conta. Vale muito a pena a leitura, é um livrão! Já o filme... o último... deixa pra lá.

Marcos 30/04/2022

O retorno ao animal
Wells se baseava na degenerescência para a origem ao instinto animal. Nessa ficção, Moreau utiliza de cirurgias para transformar animais em seres humanóides que falam, pensam e expressam sentimentos. Porém, Moreau tal qual Frankenstein não alcança seu ideal de criação. Assim como em Frankenstein, a criatura destrói seu criador em um ímpeto de vingança pela dor e angústia causada por este. Creio que a particularidade de Wells é que ele vai para uma linha de análise social do povo animal, ao contrário de Shirley que analisa muito mais a psicologia e filosofia por trás da criatura. A religião como forma de controle funciona com o povo animal enquanto esse possui humanidade, mas deixa de surtir efeito pela degenerescência. Wells é sensacional ao trazer reflexões sobre a vivessecção, cirurgias, ética animal e religião. O livro poderia explorar até mais alguns assuntos, mas talvez tenha se limitado pela época.

Anderson.Rios 15/09/2020

Essa é a lei, ninguém escapa
Um dos diferenciais do Wells é sua narrativa distópica/ilusionista e imaginária. Ele consegue fazer a narrativa parecer despretensiosa, pura, real. Mesmo, ou principalmente, em seu absurdo. Impulsionado pelas narrativas de desbravamento marítimo o autor narra a história (a clássica narrativa em diário) de um homem naufrágado, que vai parar em um navio, salvo por Montgomery, e acontecimentos que fazem ele ir parar em uma ilha, a qual seu salvador levava animais. Esses animais servem de experimentos do Dr Moreau, a quem Montgomery segue ordens. Na ilha as coisas começam a dar errado. As coisas por isso só tinham esse caminho: a tragédia. (talvez mesmo sem o protagonista, o à história tomaria o mesmo rumo). Dr Moreau, que assim como Viktor Franksteim procura na ciência formas de ser um criador, ou melhor para esse caso, um reconstrutor. Desmembra animais, cria e recria, une, constrói e destrói. Da a eles conceitos humanos, pernas, braços... linguagem. Os torna sem imagem, e a pouca semelhança do homem que já é incompleto.

A narrativa é simples, mas o autor tem sim intenções nessa suposta despretensão. Os personagens são extremamente alegóricos, o narrador suscetível a quebra desse absurdo, sendo representante da histéria de qualquer humano ao ver as atrocidades do Dr. Moreau. Os animais, dominados pela imposição metafísica feita pelo seu mestre, são alegóricos aos humanos em inúmeros aspectos, alguns bem claros na narrativa e outros menos explícitos.



Meu ponto principal a detalhar é como a linguagem é marcada como meio do pensamento, o diferencial, o estopim para o começo e o fim da vida dos personagens (ou o começo é o fim de cada um na narrativa). O Dr Moreau, não chega a ser o foco da obra, nem a ilha, ou o protagonista, acredito que nem os animais; a despretensão do autor eleva a obra a um caracter alegórico, e a maior alegoria, é a própria alegoria, a linguagem, nosso verdadeiro mestre, essa é a lei, ninguém escapa.

Mychel 28/12/2021

Sensacional.
Eu simplesmente sou apaixonado por essa capacidade de Wells de, com poucas páginas e escrita simples, construir uma trama tão rica e atemporal. Toda a mensagem nas entrelinhas do pano de fundo é arrebatadora, com momentos de muita tensão e frenesi.
Amo dms!

LanNa 31/03/2021

Por trás de cada um há um lado animal ?
🐯 A ilha do Dr. Moreau foi meu primeiro contato com H. G. Wells, escritor conhecido por seus romances de ficção que, mesmo escrevendo sobre outros tempos, lugares e até forma de vida, sempre dava uma alfinetada no Senai comum.
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🦊 Aqui acompanhamos o relato, narrado em primeira pessoa, de Pendrick, um náufrago socorrido por um navio com uma tripulação bem estranha e hostil. Depois de diversas brigas com o capitão do navio, ele é lançado ao mar novamente, porém dessa vez ele é salvo por Montgomery que, com pena, resolve levá-lo junto com sua carga para a ilha na qual desembarcou.
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🦁 É aí que a história pega rumo e passamos a conhecer o Dr. Moreau e suas criaturas.
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🐷 Pendrick relata sua experiência de uma maneira muito clara, seu desespero, aflição e surpresa são diretas e isso nos aproxima dele deixando a leitura envolvente e reflexiva.
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🐍 Dividido em 22 capítulo curtos, Well dá um ritmo acelerado e com muito suspense a história. Por vezes ele nos leva a questionar o quanto nos adaptamos ao que anteriormente achamos estranho, não habitual.
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"Posso dizer que me habituei ao povo-bicho, que mil coisas que me pareciam antinaturais ou repulsivas logo se tornaram normais ou corriqueiras pra mim" (p.120)
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🐶 Wells vai além do conflito na ilha, quando Pendrick volta a Inglaterra, ele segue vendo por trás de cada pessoa uma certa bestialidade destrutiva.
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"Creio que nas vastas e eternas leis da matéria existe algo no qual nosso lado animal encontra conforto e esperança." (P.189)

Vc tbm acha que cada um trás um lado animal?

perrydelgay 22/02/2022

Livro que me tirou de uma ressaca literária de alguns dias e simplesmente me pegou desde a primeira página. Nao podia ser diferente H.G Wells mestre quando o assunto é ficção científica não pecou em nada nesse livro, história que para alguns pode ser algo distante da realidade e para outros algo possível de acontecer. O livro me fez refletir muito sobre várias questões, O que nós torna humanos? A fala? andar ereto? ter 5 dedos? Na minha percepção a empatia, os sentimentos e o nosso livre arbítrio nós torna humanos, diferente dos animais retratados na ilha a maioria de nós (não digo todos pois existem N questões e situações distintas em todo planeta) não vivem com medo de um chicote ou de uma sala de tortura, não temos algum superior observando nossa forma de beber água entre outras ações que eram proibidas pela Lei retratada no livro. É um livro para refletir, se divertir e para amantes de ficção científica até agora a melhor leitura de 2022 para minha pessoa.

Sarmentox 27/06/2021

H G Wells é um gênio
Primeiramente, esse cara é um absurdo, já é o terceiro livro que eu leio dele, e em questão de ritmo você nunca vai imaginar que esses livros já tem quase 150 anos, é claro que você percebe que é antigo por outras coisas, vestimenta, como os personagens se comportam, o mundo em volta etc.

Spoiler: Fiquei feliz de achar que conhecia a historia e não conhecia, eu sempre achei que era um livro sobre homens animais, e não animais homens, e o livro te leva muito a pensar que são homens animais, gostei muito dessa quebra de expectativa.

Jéssica 21/04/2023

Uma crítica perturbadora à ciência e sua arrogância
O livro é uma crítica à ciência e sua capacidade de desafiar os limites éticos e morais. Wells retrata a crueldade e a arrogância do homem em tentar brincar de Deus, além de questionar a validade de experimentos que visam transformar seres vivos em algo que não são. A escrita de Wells é envolvente e consegue prender a atenção do leitor, ao mesmo tempo em que expõe questões profundas sobre a natureza humana.
O personagem principal, Edward Prendick, é o narrador da história e seu ponto de vista permite ao leitor acompanhar de perto as atrocidades cometidas pelo Dr. Moreau em nome da ciência. Prendick é um homem sensato e inteligente, que consegue questionar a moralidade das ações do Dr. Moreau, ao mesmo tempo em que tenta entender a natureza dos seres humanóides que habitam a ilha.
No entanto, o final do livro é um tanto abrupto e deixa algumas questões em aberto, o que pode deixar o leitor um pouco frustrado. Além disso, a história pode ser um pouco chocante para aqueles que são mais sensíveis, já que há descrições detalhadas de experiências cruéis em animais.
No geral, "A Ilha do Dr. Moreau" é um livro que vale a pena ser lido, principalmente por aqueles que se interessam por ficção científica e questões éticas e morais relacionadas à ciência. É uma obra atemporal e que ainda hoje pode ser relevante para discutir as implicações da experimentação científica em seres vivos.