Jow 18/11/2011Ves’-Ka Gan“You could take a picture of something you see
In the future where will I be?
You could climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody had sung or do
Something that's never been done”
Coldplay - Talk
O músico procura fixar em cada verso, em cada palavra por ele eleita para constituir um conjunto e se tornar a sua canção, uma espécie de cântico disperso. Algo que seja, compreendido primeiramente por ele, algo que seja a sua situação espiritual do momento, suas angústias e mágoas, alegrias e vitórias, certezas e dúvidas, para que depois, ela possa ser compreendida e adotada por outros. A música é uma das mais fortes representações para aquilo que chamamos de sentimento, ela tem o poder de nos elevar, de traduzir os mais súbitos segredos escondidos no vento, nas águas e na luz...
“A Canção de Susannah” é um livro erguido sobre os mais finos sustentáculos da sintonia. Não existe um único ponto desse livro que seja desequilibrado naquilo que ele pretende abordar. É um livro direto, objetivo e acima de tudo esclarecedor. Temos aqui, um Stephen King maestro, que de batuta na mão vai nos guiando através de sua história rápida e ressonante, nos envolvendo com cada estrofe magnificamente pensada de sua complexa canção. Uma canção que não pode ser calada, uma canção que ressoa pelos poros do livro, e que inunda o nosso ser com uma única pergunta: “Você pode ouvir A Torre chamando?”
King nos escreve um livro potencialmente perturbador. Ele brinca com conceitos como realidade, percepção, sentidos e principalmente Tempo. “A Canção de Susannah” é um livro, que assim como a música, necessita de um tempo uniforme, de uma harmonia hercúlea para que todas as escolhas possam ser trazidas a baila de uma maneira que não deixe brechas, portas entreabertas e palavras sem sentido. E a divisão do Ka-Tet em vários tempos e mundos evidencia essa necessidade de um trabalho em equipe, que mira sempre uma harmonia nunca vista, algo que nem o Ka-Shume é capaz de separar.
Eddie e Jake e Oi, mais uma vez, são de fundamental importância para a continuação da saga. Roland por sua vez, mostra o porquê se ser o último Pistoleiro da linhagem do Eld, Susannah trava uma batalha hercúlea com uma adversária que muitas vezes se confunde com ela mesma, e com suas outras personalidades, e Padre Callahan concede o ultimo suporte de que o Ka-Tet precisa: A fé de a busca de todos não é vã. A certeza de que o fim, para o Branco ou para o Vermelho, é eminente. E como diria um King personagem: “Não há mais como fugir, isso faz parte de mim como o ar que eu respiro.”
Assim, por entre os sons da música, que é ouvida como se por uma porta que ficou entreaberta, aquilo que nos é revelado ganha sentido, e todas as canções são uma, Ves’-Ka Gan, e tudo que é sustentado por ela, aponta para ela: A Torre Negra.