Lethycia Dias 29/11/2018Ódio entre irmãosO romance "Esaú e Jacó" tem seu título inspirado nos personagens bíblicos de mesmo nome, dois irmãos que rivalizam entre si, e isso sintetiza o mote principal da história.
Quando Natividade visita uma vidente para saber sobre o futuro de seus filhos gêmeos nascidos há pouco tempo, recebe a previsão de que os dois farão coisas grandes na vida. Mas a mulher comenta a gravidez conturbada, cuja explicação seria de que os meninos já brigavam entre si durante a gestação.
Os gêmeos Pedro e Paulo crescem parecendo competir em tudo na vida. Na infância, estão sempre dispostos a brigar e discutir. Conforme crescem, desenvolvem opiniões opostas sobre tudo, até na política. Um é abolicionista, o outro a favor da escravidão; um é monarquista, o outro republicano. A rivalidade chega ao extremo quando os dois se apaixonam pela mesma moça, que por sua vez não sabe de qual dos dois gosta mais.
A história se desenvolve bem até a trama envolvendo a moça, que se chama Flora. A partir daí, a trama fica mais lenta e ate arrastada. Os aspectos mais interessantes são a ironia de Machado, com comentários bastante críticos e divertidos sobre o caráter dos personagens; e a presença do Conselheiro Aires, personagem do romance Memorial de Aires. Aqui ele participa da história e há passagens em que faz anotações em seu memorial. Isso é que eu chamo de crossover!
Também é interessante a referência a fatos históricos, como a abolição da escravatura e a proclamação da república e como os personagens vivenciam esses momentos. Poucas vezes eu li sobre esses eventos na nossa literatura e adorei ver o núcleo de "Esaú e Jacó" reagindo a eles.
A edição que comprei num sebo, apesar de antiga, é bem contextualizada com muitas notas de rodapé, explicando referências históricas e culturais e lugares do Rio de Janeiro que deixaram de existir ou mudaram de nome após o tempo de Machado.