João 19/06/2021
AUTISMO: UMA HISTÓRIA DE ERROS
Outra Sintonia é um livro de cunho jornalístico que se propõe a recontar a história do Transtorno do Espectro Autista (TEA), escrito por John Donvan e Caren Zucker, que trabalham desde o início do século com comunicação e autismo, tendo produzido reportagens em vários veículos da mídia.
Como toda história precisa de um começo, os autores convencionam ?o primeiro filho do autismo?, isto é, a primeira pessoa diagnosticada, como o começo dessa história, um estadunidense. Os autores não ignoram o fato de que antes do médico Leo Kanner notar esse padrão de comportamento que viria a diagnosticar como autista tenham existido muitas figuras ao redor do globo que se encaixariam no TEA, o que rende um dos capítulos mais interessantes do livro.
Embora a estratégia que os autores escolheram para contar essa história, basicamente centrada nos estudos desenvolvidos nos EUA e na Inglaterra, seja bastante didática e interessante, eu não pude deixar de notar, ou melhor, de me incomodar como a história das pessoas no espectro é uma história de erros cometidos contra elas. Desde antes do diagnostico surgir, quando era normalizado o genocídio às pessoas com transtornos mentais ?graves?, entre eles muitos autistas, e mesmo depois do diagnostico, quando os tratamentos estudados e convencionalizados eram muitas vezes cruéis. O livro explicita muito bem todos os erros, contando a história de muitos desses pacientes e suas famílias.
Um ponto que eu considerei negativo em alguns momentos da leitura é a overdose de exemplos e histórias, eu senti falta de mais informações técnicas e de educação social. Eu entendo que para o jornalista contar essas histórias é muito importante para expor uma causa e diluir as informações, tornando a experiência mais interessante para o leitor, mas para um livro tão longo (mais de 600 páginas) a gente acaba aprendendo muito da história e pouco sobre o transtorno em si. Outro ponto que me incomodou foi a ausência de imagens na edição, como a história é longa, complexa e cheia de figuras, acho que uma galeria de imagens (como é comum vermos em livros-reportagem) seria um bom acréscimo para a experiência do leitor.
Ainda que eu sinta necessidade de explanar esses pontos que me incomodaram, não existiriam parágrafos suficientes para argumentar o quanto vale a pena conhecer essa história, uma história cheia de erros que pode servir como farol para a maneira como enxergaremos o TEA através do tempo. O autismo é um transtorno que mobiliza famílias e sempre foi assim, desde o seu ?primeiro filho?. Como costumam dizer nas associações de pessoas no TEA e familiares ?todo autista é o amor da vida de alguém?, inclusive meu.