spoiler visualizarCanoff 19/09/2023
O autor romantizou tanto o "ser gêmeo" que acabou se perdendo e escrevendo algo clichê. Sou gêmeo e achei muito desproporcional. Há muito romance em torno de algo tão simples.
Não sei como resenhar esse livro. Acredito que o bloqueio criativo tenha me pegado mais uma vez… Por isso, optarei por apresentar a minha opinião através de uma lista enumerada com as características em ordem cronológica.
I - O autor soube desenvolver o protagonista. A escolha por narrar o livro em primeira pessoa, num diário, foi uma ótima forma de evidenciar a instabilidade emocional do protagonista. Acredito que, com base nas características emocionais do protagonista, o autor soube direcioná-lo corretamente no quesito ação. Todas as ações de Lucas estão condizentes ao seu temperamento.
II - A relação de Lucas com seus pais adotivos também é bem desenvolvida. Embora eu já tenha imaginado como seria, dada a previsibilidade do enredo, não tem como omitir a habilidade do autor em redigir diálogos problemáticos e, principalmente, dar singularidade ao protagonista.
III - A forma com que o livro se caminha à virada de chave não é nada satisfatória. Não há sentido nenhum naquilo e, pior, o autor, no fim do livro, escolhe omitir a verdade. Isso, para mim, ficou parecendo que ele não tinha ideia de como justificar toda aquela reviravolta. Além, claro, dos momentos em que o autor escreveu de uma forma bem apressada, pulando acontecimentos, não estabelecendo ligação entre diálogos, mudanças de cenários e outros momentos, nos quais a falta de ligação confunde o leitor.
IV - Uma coisa problemática também, e que me passa uma impressão de que o autor não planejou o livro corretamente, é o fato de alguns personagens desaparecerem do livro. Há personagens que se dizem importantíssimos, mas só estão no início do livro. No final, o autor menciona, mas não justifica o sumiço, não dá um final e tudo fica vago.
V - A diferença entre o ambiente do Lucas e do Rafael é bem construída. O autor consegue diferenciar totalmente as duas vidas e, primariamente, consegue fazer com que os personagens estranhem essa mudança de realidade também.
VI - Os personagens adjacentes e os acontecimentos exteriores à história são bons, mas poderiam ser melhores. Senti falta de detalhes, de ambientações e da interação dos personagens com o cenário.
VII - O final tem algumas características interessantes, mas, de forma geral, tudo é muito óbvio e improvável. Por exemplo: Rafael e Lucas são irmãos gêmeos separados pela doação e se encontram após Lucas receber uma mensagem de um número desconhecido enquanto estava no topo de um prédio prestes ao suicídio por conta de suas crises existenciais. As coincidências poderiam acabar por aí, mas não foi isso que aconteceu. No fim, sua mãe que, a princípio, era infértil, dá à luz gêmeos. Aí não tem como defender. E o pior, a mãe adotiva de Lucas deixa o filho e o irmão, agora conhecido, darem os nomes às crianças e um dos nomes escolhidos é em homenagem ao avô do irmão de Lucas. Como assim a mãe, que era tão egocêntrica, permite que um desconhecido dê o nome do avô ao seu filho? Improvável, não?
VIII - O encontro dos dois irmãos com os pais biológicos é completamente dispensável. A maioria dos leitores dirá que se não tivesse, ficaria pendente, mas acho que o livro ficaria bem melhor sem isso. O propósito do livro era causar reflexão, e conseguiu. Acabou, não precisava de mais nada. A forma com que a mãe biológica trata os dois é totalmente contraproducente. Ela não demonstra arrependimento e trata-os super mal.