Caio 29/04/2020
O que é que a gente tá fazendo como sociedade?
Se o cotidiano dos presídios masculinos é obscuro para quem está fora desse mundo, imagina a vida em presídios femininos, muito menos abordada em novelas, filmes e noticiários. Em “Prisioneiras”, o médico Drauzio Varella conta um pouco da sua experiência de mais de uma dezena de anos como voluntário na Penitenciária Feminina da Capital, em SP.
Uma importante descrição do presídio é feita e ajuda a nos ambientarmos. Com sua observação fantástica e escrita bem detalhada, o autor nos conduz pelos portões de ferro, corredores, galerias e altos muros onde as histórias se dão. A comparação entre penitenciárias paulistas masculinas e femininas nos trazem a ideia das características, relações, afinidades e distinções que existem entre esses dois mundos do cárcere.
Por fim, histórias com mais semelhanças do que diferenças. Mulheres, em sua maioria jovens, negras e pobres que, em boa parte das vezes, não deveria estar ali (ou poderia não estar ali).
Histórias de solidão, trabalho duro (sim, trabalho duro!), abandono, violência, estupros, vingança, prazer, amor e ódio servem como fio condutor para o debate sobre o problema do sistema carcerário no Brasil!
O autor nos faz refletir para, além das causas dos problemas sociais que levam nossas cadeias (masculinas e femininas) à superlotação e ao fracasso em seu objetivo e para além das histórias de miséria, ódio e sofrimento que colocam as pessoas em situações de vulnerabilidade. Coloca o leitor para refletir sobre "onde queremos chegar com isso?". "Qual é a utilidade do nosso sistema prisional hoje?", "Para que ele realmente serve?", "Ele está servindo?". São perguntas que precisamos fazer se queremos um mundo diferente.
Leitura fácil, capítulos pequenos, rápidos. Isso facilita muito a vida lê na correria do dia-a-dia e de quem não consegue parar de ler antes de terminar o capítulo (meu caso, rs).
PS: Embora seja um livro que te impacta, te assusta, te desconstrói, te abre para o desconhecido e, possivelmente, te fará pensar diferente, é importante ressaltar alguns pontos:
1) Trata-se de uma única experiência e em um único presídio. Não podemos generalizar e pensar que todos os presídios são exatamente daquela forma.
2) O autor, por diversas vezes, incide em frases carregadas de preconceito que não contribuem para a compreensão do universo carcerário feminino.
3) Para uma crítica mais incisiva sobre essas questões, recomendo a leitura: https://www.justificando.com/2017/07/06/caro-dr-drauzio-vamos-conversar/