spoiler visualizarBernardoo 13/01/2024
Lar dos Amantes
Está aqui um ótimo título; "Lar dos Amantes".
Raíza é uma mulher envolvida vorazmente no álcool, fumo e sexo. Apossa-se de uma carência amorosa e tem fome por atenção. O que é compreensível, quando ainda criança o pai morreu, homem este que equilibrava o vão não ocupado pela mãe, a qual imerge-se no núcleo da vida profissional ? escritora ?, mas, consequentemente, carece o seu posto maternal e familiar. Desse modo, com a perda do pai, Raíza dilata um sentimento já existente de abandono e desamor, ainda que tenha sua tia e prima para distraí-la dessa sensação de ser órfã. Além disso, o tio Samuel desregulou-se das faculdades mentais e está recluso no hospital psiquiátrico.
Raíza sente esse constante desamparo familiar e recorre seguidamente à memória, lembranças de um tempo perdido, em que o pai a envolvia pelos braços e o tio Samuel recortava as damas do baralho.
Assim, com todo esse desamor recaído a ela, Raíza encontra firmeza sentimental através do amante, Fernando, ao qual matrimoniou recentemente o sexto casamento.
Todavia, ainda que Raíza tenha uma vida constantemente pisada e nua, nem por isso justifica-se certas ações.
Poucas personagens irritaram-me tanto quanto ela. Recordo apenas de Tate, do livro "O Lado Feio do Amor", que é uma personagem tão grotesca e inferiorizada quanto a obra que pertence.
Mas o que mais foi de meu espanto e incrividez foi a perseguição à felicidade da mãe. Busca essa recorrida apenas para entristecê-la, para fazer desse júbilo um aborrecimento. Ou simplesmente um confronto às regras dela, uma provocação. Compreendo que esse mal condiz à fome por atenção, à carência por amor e à desestrutura sem um abraço. Todavia, o que Raíza fez com André foi inadmissível. O erro começou quando incluiu um inocente em um problema à parte. Inocente esse que já lutava e relutava com seus problemas uma hora vívidos e outrora mortíferos. Raíza recusou a ideia da mãe ter um possível namorado; dela receber amor puro, sentimento esse ao qual poupava-se distribuir à própria filha ? à própria família ?; irou a ideia da mãe alcançar a felicidade mesmo quando era a maior fonte de tristeza. Então, em mais uma tentativa de apanhar o foco da mãe, começou a ? em falhas tentativas ? seduzir André: Esticava suas lisas pernas na direção dele, questionava sobre o que a mãe dela tinha que a própria não podia ter, constrangia-o e intimidava com seu lascivo comportamento.
Não havia qualquer amor nesse interesse, apenas abalar a mãe. Essa última, a qual nem era da certeza de Raíza se de fato namorava André. Mas independente, de qualquer forma iria tremular a relação amiga dos dois se conseguisse ir para a cama com André.
Moço esse que relutou, negou e expôs seu desinteresse e falta de importância ou sentimento à Raíza. Não como algo mais do que amigo. Todavia ela continuou seguindo-o, constrangendo e implicando com a sua oferta. Quando descobriu o endereço dele, começou a visitá-lo, apertando ainda mais a angústia e desgosto de André por aquela mulher. Aquela vida.
Raíza foi o fundamento, foi a desculpa e o incentivo para André, numa terceira tentativa, suicidar-se.
Por mais bonito e simbólico que seja a reaproximação da mãe e da filha no final da obra, não pude evitar um certo nojo e repulsa perdurado do intermédio ao final do livro. Raíza me estressou muito!
Uma obra muito bem escrita. Simplesmente Lygia! Teles conseguiu carregar tal sentimentalismo e emoção em suas palavras ? verdade viva e real ? que o desfecho gerou em mim algum agudo, alguma pontada, algum remeximento.
Eu não choro lendo, porém essa obra foi o mais próximo de um marejar. Você mexe comigo, Lygiazinha.
* Mas é uma história maçante, isso não posso negar. História maçante que deve-se ler ??