O leitor

O leitor Bernhard Schlink




Resenhas - O Leitor


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Patty Lima 16/12/2022

Memórias de Michael Berg
Sabe aqueles sonhos que parecem sombras? Dos quais não nos lembramos nitidamente ao acordarmos? Foi assim que me senti nessa leitura. O narrador conta suas lembranças algumas vezes com nitidez, outras de forma confusa. Não sei se é devido à distância temporal dos acontecimentos para a narrativa ou se foi intenção do narrador. O que sei é que a história nos prende ora com emoção ora com raiva. E o desfecho só começa a ser anunciado somente nas páginas finais. Apesar da confusão expressa em algumas partes é uma leitura bem interessante.
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Bia 12/06/2022

O Leitor
O Leitor é um livro direto que trabalha muitas questões como da culpa e redenção. Que durante a leitura nos prende em um emaranhado de questionamento e definiçães que não se cabe dentro de poucas palavras. Além de demostrar como se dá didática entre um adolescente e uma mulher madura em relacionamento romântica, ainda os impactos que esse relacionamento pode trazer para um garoto.
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Tiago 24/03/2017

O LEITOR
A obra “O leitor”, do escritor alemão Bernhard Schlink, meche um pouco com uma questão, que a meu ver é bastante significativa, que é a superestimação do julgamento moral. A convenção humana mais falsamente aceita pela maioria esmagadora da população é a de que nossa sociedade funciona a partir de conceitos morais.
A obra é mundialmente conhecida e apreciada. Trata-se da historia de um adolescente chamado Michael Berg, de 16 anos, que se envolve casualmente em uma relação amorosa com Hanna Schmitz, uma mulher misteriosa de 36 anos. A relação dos dois segue uma rotina: todos os dias Michael sai mais cedo da escola e se dirige para a casa de Hanna. Lá os dois primeiramente tomam banho juntos, em seguida Michael lê um livro para Hanna e em seguida os dois fazem sexo.
Hanna é uma mulher bruta, sensual, forte, pouco carismática, mas ainda sim sedutora. Ela trabalha como cobradora de bondes mora sozinha em um pequeno apartamento na cidade de Neustadt, localizada na Alemanha ocidental. A historia se inicia no ano de 1958.
Um belo dia Hanna desaparece. Michael a reencontra anos mais tarde - ele como estudante de direito e ela como ré em um julgamento de crimes de guerra. Hanna havia servido durante a guerra em um campo de concentração. Ela havia sido integrante da SS – a força de elite nazista responsável pela guarda dos campos. Durante uma evacuação cerca de trezentas prisioneiras foram queimadas vivas dentro de uma igreja durante um bombardeio. As guardas optaram por deixar as prisioneiras trancadas dentro da igreja em chamas para evitarem que escapassem. Entre essas guardas estava Hanna.
Este texto não é um resumo do enredo de “O leitor”. Trata-se de uma avaliação critica que surgiu após o termino da leitura. Hanna possui um segredo que explica a natureza de seu comportamento. Obviamente que não direi qual é esse segredo. Não retirarei do leitor a emoção de descobri-lo sozinho.
A conscientização da importância da ética como ferramenta social obviamente representou um progresso no sentido em que deu aos indivíduos uma espécie de pluralidade de perspectiva social. Por outro lado essa incorporação de valores éticos naturalmente parece ter legitimado uma forma mais estúpida, e eu diria mais recorrente, de invocar valores morais no sentido de expor as falhas do outro.
Na excelente adaptação cinematográfica da obra, lançada em 2008 – com a vencedora do Oscar, Kate Winslet no papel de Hanna Schmitz, existe uma cena - que não existe no livro - onde a personagem de Hanna faz um comentário negativo sobre uma passagem da obra “O amante de Lady Chaterley”. O interessante é que ela vê a descrição bruta que o autor faz do ato sexual como algo repulsivo e vergonhoso, como se aquilo não fizesse parte da sua realidade. A própria personagem alimenta a hipocrisia social de condenar no outro aquilo que faz na sua intimidade. É como se a moral funciona-se como um escudo onde não apenas se espelha a “imoralidade” alheia, mas também se oculta à própria “imoralidade”.
A primeira questão polemica do texto é o relacionamento de Hanna com um garoto adolescente. Para a maioria dos leitores esse relacionamento desencadeia um processo de desconstrução do caráter de Hanna justamente porque explora, num primeiro momento, o julgamento moral de cada um. A imagem de uma pervertida sexual é logo invocada sem que se preocupe com uma avaliação mais criteriosa. Basicamente é aquela velha história de “a primeira impressão é a que fica”. Essa pré elaboração de uma opinião a partir de um único fato é tão forte que quando a personagem começa a ser julgada por crimes de guerra ela praticamente já foi condenada moralmente pela maioria dos leitores.
O julgamento que o leitor submete Hanna se encontra atrelado a uma avaliação moral do comportamento. A pratica precede a norma jurídica. O fato de se contar atualmente com leis que restringem o comportamento entre adultos e adolescentes para alem dos limites sexuais significa que esse tipo de relacionamento já existia no passado. A responsável por empurrar esse tipo de relação para a esfera do reprovável é a aceitação da ética.
Hanna Schmitz é a imagem daquilo que toda sociedade busca: um culpado. Sempre se buscam exemplos daquilo que se reprova como se o que é considerado certo só fosse plenamente compreendido se fosse confrontado com seu conceito antagônico. Ambivalência é a palavra que define hoje a construção de um conceito que não é considerado isoladamente, mas sempre em relação ao seu contrario. Um conceito é sempre aceito como uma unidade, mas sempre se expressa de forma dialética.
A idéia de distinção é muito forte num grupo social. Distinção por critérios econômicos, ideológicos, de raça, por ocupação ou de crença são costumes perenes. É natural, portanto, que nesse contexto surgi-se alguma forma de distinção pelo comportamento, que no caso do romance “O leitor” seria o envolvimento amoroso de uma mulher, já na casa dos trinta, com um adolescente.
Eu diria que o fato de Michael ter apenas 15 anos não é algo tão determinante para que se faça a condenação moral da personagem. O grau de repúdio seria o mesmo se ele tivesse 18 e ela 38 anos. A questão aqui é a diferença de idade e não a questão legal da relação. Esse incômodo social com relação à diferença de idade entre duas pessoas que se relacionam é nada mais que um exemplo claro de que coletivamente o que importa é uma avaliação quantitativa e não qualitativa do comportamento.
As pessoas estão tão acostumadas a atribuir valores a tudo que elas se esquecem que num relacionamento o que importa é a qualidade dessa relação e não fatores numéricos. Talvez seja por isso que existam tantos casamentos indo por água abaixo e tantos casais infelizes em sua união “moralmente adequada”. Talvez se nos permitíssemos abandonar o peso do julgamento moral isso de alguma forma nos liberta-se de pelo menos uma das inúmeras falhas que nós como seres humanos cometemos.
A figura de Hanna é tão predominante que em nenhum momento se questiona sobre o papel do próprio Michael naquele tipo de relação. É importante avaliar não apenas a relação em si, mas também o papel de cada uma das partes envolvidas. Em primeiro lugar trata-se de uma interação consensual, portanto, não se configura abuso. Em segundo não se pode caracterizar nenhum dos envolvidos como “criança”, portanto são pessoas perfeitamente conscientes do que fazem.
Se pensarmos, portanto, que numa sociedade de direito onde o julgamento moral e mais adotado que aquele estritamente legal, então o próprio Michael é tão culpado quanto Hanna, pois trata-se de um adolescente que embora não possa ser responsabilizado por suas atitudes ainda assim compreende as implicações das mesmas. Logo se age conscientemente contra a moral disseminada em seu meio é tão amoral quanto Hanna.
Talvez fosse muito mais valido questionar, por exemplo, que na maioria dos casos uma relação entre pessoas com uma diferença de idade muito grande acabe caminhando numa forma de interação muito superficial e basicamente resumida a satisfação sexual. A meu ver isto sim configura um aspecto negativo desse tipo de relação, claro que não do ponto de vista legal, mas porque se resume a uma troca que satisfaz mais que não beneficia nenhuma das partes.
Eu diria que as pessoas ainda não compreendem bem a diferença entre satisfação e beneficio. Uma relação não pode ser resumida a pura satisfação; algum grau de beneficio deve surgir. O beneficio a que me refiro não é material e sim abstrato, seja na forma de algum aprendizado como, por exemplo, aprender a aceitar as diferenças do outro ou perceber, mesmo que de forma dolorosa, que não somos capazes de satisfazer plenamente uma pessoa em todos os aspectos. Em algum ponto nos falhamos, por isso os relacionamentos são tão difíceis porque é através deles que enxergamos nossos limites.
A questão da culpa alemã é outro aspecto polemico trazido à tona pelo autor. O julgamento de crimes de guerra, que ocorre mais ou menos no meio do texto, coloca essa questão em debate. Surge o tema da importância de se punir os culpados. É claro que ninguém é favorável a impunidade. Quem sabe alguns nomes ligados a política o sejam, mas a grande maioria da população não é.
O regime nazista cometeu inúmeras atrocidades, não há duvidas quanto a isso. Ver um nazista no banco dos réus é quase como se a sentença já houvesse sido promulgada. O julgamento em si aparece como mera formalidade. Não hesitaríamos em nenhum momento em condenar um ex carrasco de Auschwitz. É por que não hesitaríamos? Porque nosso julgamento moral nos impede de olhar a questão de forma mais ampla.
O habito de julgar o comportamento do outro por meio de valores e crenças pessoais nos leva a extrapolar e generalizar os dados que um único fato pode fornecer. Trata-se de uma sistematização da suspeita: pega-se um fato e o julga de forma isolada, uma espécie de análise morfológica do comportamento. Algumas palavras são substantivos se observadas isoladamente, mas dentro de uma frase podem se tornar verbos, assim como um comportamento pode tanto significar um ato de extrema covardia como um ato inconsciente.
A maioria de nós se esconde atrás do escudo da moralidade sem que se permita enxergar que ela não é um recurso, mas o refugio para nossas fraquezas. O que é ser ético atualmente? É corresponder a expectativa social! É onde encontro espaço para minha espontaneidade diante disto? Devo seguir um caminho só porque ele carrega as marcas das pegadas dos outros? Sinto muito se esses grifos de percurso não me servem como guia. De que me serve seguir os mesmos caminhos sempre? Eles não possuem o prazer da descoberta, eles apenas levam ao mesmo destino de tantos outros.
O paradigma da moral é o que nos leva a cometer falhas quando ousamos julgar um tempo que não foi o nosso. O tempo passa e arrasta com ele as oportunidades de corrigir seus erros. Julgar o passado é impossível! Os mortos não querem justiça, eles querem paz. Justiça é algo que se busca em vida... depois de morto ela não significa mais nada.
Quando passamos a enxergar o predomínio da postura critica durante a leitura e posteriormente avaliamos nossa postura em retrospecto a imagem que temos é a de um julgamento constante, contra tudo e contra todos, e isso de alguma forma nos mostra que a história real, e não aquela fabricada por ideologias é aquela onde a culpa se dissemina por todas as camadas sociais, sem respeitar diferenças de idade, diferenças culturais ou de raça. No fim, de alguma forma, somos todos culpados.
Pessoalmente o comportamento privado das pessoas não me interessa. Confesso que talvez ele me intrigue, mas não me interessa assim como não acho que um comportamento sexual diferenciado possa servir como rotulo social ou como uma espécie de termômetro moral.
Erotismo é algo que não pode e nunca ira se alinhar com a moral coletiva. Isto porque o erotismo está fortemente relacionado à transgressão, a inversão radical do comportamento social. A nudez é algo quase fundamental no erotismo, mas não se pode simplesmente sair às ruas e ir ao trabalho sem roupas. A própria linguagem do ser social precisa ser polida, contida, clara. Já no erotismo a linguagem é obscena, bruta, vulgar. Não se pode avaliar socialmente o individuo a partir do que ele faz na sua privacidade.
O que torna o comportamento de Hanna incompreensível, não apenas em relação aos crimes, mas também quanto ao estilo de vida que ela abraçou e que obviamente cria muitos problemas para ela própria, é que sempre que analisamos um fato qualquer nós, por antecipação, aceitamos a idéia de que toda ação se fundamenta em um motivo. Basicamente é a analise que se constrói por meio da relação de causa e conseqüência. Analisar o nazismo por estes termos é algo comum, ainda que de pouca validade, pois não existem motivos para justificar a brutalidade do nazismo. Essa postura analítica praticamente define o comportamento de Hanna como inexplicável. Isso ocorre porque estabelecer uma conexão valida entre o motivo da ação e a ação propriamente dita não é uma tarefa simples. Primeiro porque ainda que cheguemos a uma conclusão ela será sempre passível de questionamentos; e segundo e que o conceito de motivo como fundamento da ação é falho.
A sociedade contemporânea possui inúmeros exemplos de que a ação é na maioria das vezes uma etapa para um objetivo, particular, que transcende aquilo que a ação afirma ter como meta. É comum vermos analfabetos políticos, por exemplo, no meio de manifestações políticas. Neste caso sua presença ali não ocorre por simpatia com as propostas de reivindicação, mas por algum motivo particular que foge da esfera da política.
Quanto à personagem Hanna o autor não fornece muitas informações sobre o seu passado, o que impede uma busca efetiva pelo real motivo de suas ações. Esse é um aspecto muito interessante do texto porque à medida que o autor se exime da responsabilidade de construir em detalhes o passado de seus personagens ele abre precedentes para uma serie de interpretações e conjecturas e isso promove um resgate constante do texto como elemento de debate nos grupos de leitura. Hanna parece ter sofrido algum tipo de violência sexual durante a guerra pois sua relação com Michael é de subordinação, quase que uma determinação em retratar o amor como algo tosco e descartável.
A obra possui um substrato tão amplo que é possível colocar em relevo até mesmo a questão da antinomia das leis, ou seja, da contradição das leis. A lei seria aplicável a todos com igual rigor. Na pratica não é bem assim. Essa falha da pretensão jurídica em julgar a todos com a mesma cartilha, a revelia das considerações individuais de cada caso, acaba promovendo uma injustiça justamente por aqueles encarregados de serem justos.
Uma serie de perguntas interessantes surgem após a leitura: Somos suficientemente instruídos acerca de um individuo a ponto de sermos capazes de julgar suas atitudes? O passado pode ser corretamente interpretado pelo presente? É possível corrigir o passado? É correto combater a crueldade com a injustiça?
Quando o segredo de Hanna finalmente é revelado alguns podem até questionar a relevância desse fato quanto aos crimes da acusada. Fica de fato muito difícil vislumbrar o impacto desse segredo no comportamento de Hanna se você não for capaz de considerar os inúmeros desdobramentos que esse segredo teria na vida de qualquer pessoa.
Guerras são eventos que promovem a escassez nas opções de sobrevivência. Caso você se encontre na mesma situação que a própria Hanna essas opções se tornam ainda menores. O caráter de uma pessoa pode ser determinado por seu grau de instrução? Em muitos casos sim! Isso não significa que uma pessoa que não tenha doutorado ou uma formação acadêmica não possa ter um bom caráter. Existem indivíduos sem nenhum conhecimento acadêmico que são exemplos de humanidade. Mas é inegável o papel da instrução na formação de uma pessoa. Como diria Isaac Azimov “se o conhecimento nos cria problemas não é com a ignorância que vamos resolve-los”.
Acho que a grande proposta do autor é reavaliar nossa postura critica diante de nossos semelhantes. Como em muitos casos julgamos erradamente um tempo que não era e nunca será o nosso.
A vida em sociedade fez do homem um animal ávido por critérios de distinção. A separação entre grupos opostos, em termos morais, amplia as possibilidades de eliminação de um destes grupos por meio do incremento constante da hostilidade entre eles. Uma vez eliminado o grupo “vencedor” abre espaço para a introdução de adicionais valorativos em seu núcleo. Novas distinções são criadas, novos grupos são definidos e novamente a violência se encarrega de definir quem fica e quem sai. É assim que a espécie se “purifica” e se adapta. O que diria hoje Charles Darwin se ele pudesse ver sua teoria sendo demonstrada em termos tão irracionais? Seria ele, de alguma forma, convencido de que não apenas o homem e o macaco possuem um ancestral comum, mas que o ultimo representa uma forma infinitamente mais evoluída que o primeiro?
Ao se envolver com Hanna, Michael começa a tomar consciência tanto do valor da relação de envolvimento com outra pessoa como também de suas regras. Esse é um processo natural em adolescentes. Ao se identificar com um grupo especifico o adolescente tende a valorizar mais os valores do grupo que os de si próprio. A lealdade, nesse contexto, surge como uma das mais importantes características do grupo.
É impossível olhar a vida de forma racional. Olhar racional é determinista e a vida é contingente. Os eventos podem se desenvolver de inúmeras formas aleatórias. Se a vida não pode ser objeto da razão, dada a inobservância de uma relação de causa e conseqüência bem definida e pelo predomínio do relativismo, ou seja tudo depende do ponto de vista, como e possível definir o que é certo e o que é errado? Como é possível estabelecer os limites de um comportamento que quando extrapolado se torna loucura? Posso ser louco pelo olhar de alguém e gênio pelo olhar de outro. Como saber qual imagem é a correta?
A palavra “moral” vem do latim “moris” que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”. Ética e moral não são sinônimos. Ética pode ser definida como uma espécie de filosofia da moral enquanto a moral seria o desdobramento teórico e pratico de como a ética é assimilada coletivamente. Por isso a moral e tão pouco diversificada, ela não e construída individualmente, mas de forma coletiva. O comportamento ético é fundamental para a atividade humana. Como seria se cada um agisse apenas por suas próprias vontades? Mas o fato é que existem limites quanto à invocação dos valores morais. Não se pode adotar um valor coletivo para julgar uma ação individual porque o comportamento individual não e orientado pela moral constituída, mas pela realidade do momento.
São inúmeras as variáveis que orientam o comportamento humano – tempo, meio, momento histórico – a moral é apenas uma constante nessa equação. O paradigma nos mostra que a moral possui prazo de validade. Ela muda como conjunto de valores a medida em que mudam-se as necessidades do meio social que ela se insere. Vista por estes termos fica difícil enxergá-la como uma evolução nas relações humanas. Trata-se apenas de uma ferramenta que limita a liberdade de ação individual. Uma prisão no qual aprisionamos a nos mesmos de livre e espontânea vontade.
Por que a moral pode ser considerada como uma chaga social? Porque ela não possui uma consciência moral como amparo. Não é critica, pelo contrario, é aceita sem questionamento. Pessoas conscientes de seus próprios pecados são mais humildes. São pessoas com uma expressão moral neutra. O caráter permissivo de cada um não lhes parece um motivo valido para que apontem o seu dedo e decretem sua sentença.
Os puritanos e moralistas invocam a moral cristã para legitimar sua própria hipocrisia. Parecem ignorar que o próprio Jesus se cercou daqueles ditos imorais: ladrões e prostitutas.
Porque existe a necessidades de julgar o próximo? O que torna esse comportamento tão irresistível? A vaidade. A autopromoção, o elogio fabricado por si mesmo, a auto-avaliação feita diante do espelho, a pura e simples vaidade. Sentimos o desejo incontrolável de sublinhar nossos pontos positivos, nossas supostas virtudes. A beleza se torna mais clara diante do repulsivo, o virtuoso se torna mais grandioso diante do imoral. De novo a velha formula de conceito que se constrói por sua expressão contraria. A vaidade fez do homem um juiz eterno que aplica a tudo e a todos o crivo torpe de sua auto avaliação.
O obra “O Leitor” é um texto fácil de ser lido e difícil de ser digerido. Foi uma das mais expressivas experiências literárias que já tive. Uma obra magnífica, cativante e profunda. Hanna Schmitz tornou-se para mim uma das personagens mais impressionantes da literatura. Ela não foi apenas uma entre centenas de carrascos do Holocausto, foi também uma vitima do nazismo! Ela representa aquilo que faz dos humanos seres primitivos: Carentes por atenção, reféns de seus desejos, brutos em seus modos e sempre mais conscientes de seus limites do que de seus atos.



AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO




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escrivadocaos 23/06/2022

uma história realmente muito diferente de tudo
A história é narrada pelo personagem Michael Berg que conta sua própria trajetória desde sua adolescência até a idade adulta acerca de um envolvimento com uma mulher 21 anos mais velha chamada Hannah. Ele diz: "Durante muito tempo pensei que era uma história muito triste. Não que agora pense que seja alegre. Mas penso que é verdadeira; por isso, a questão de saber se é triste ou alegre não tem nenhuma importância."

Esse trecho captura bem a essência da história que na maioria das vezes permanece neutra e não tece comentários positivos à relação completamente problemática de um jovem de 15 anos com uma mulher de 36. O livro é tenso, denso e possuí muitos gatilhos. O relacionamento muitas vezes se apresenta tóxico, e o menino por não ter noção da vida se vê embrenhando e preso em sentimentos que não consegue decifrar. Esses sentimentos indecifráveis acompanharão Michael pro resto da vida.

Mas, a grande reviravolta e parte realmente empolgante do livro é quando, depois de muitos anos, Michael (agora estudante de direito) encontra Hannah num tribunal sendo julgada por crimes de nazismo. É realmente interessante esse julgamento, as questões filosóficas e éticas que são trazidas à tona e também os comentários de Michael sobre os próprios sentimentos.

Ademais, não achei a relação dos dois romantizada, o que seria um problema enorme se fosse. As marcas traumáticas estão presentes a todo instante da jornada do personagem principal.
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Lori 16/07/2010

Como já tinha visto o filme sabia qual era o grande mistério que era avisado já na sinopse. Claro que isso tirou um pouco da graça de descobrir, contudo permitiu que eu visse as pequenas dicas dadas. E foram muito bem distribuídas durante a obra, se não creio que teria percebido. Toda a trama, aliás, é bem construída. O relacionamento dos dois, as passagens do tempo e como tudo vai se unindo. Alias vale apontar que a escrita dele é direta, poderia até dizer seca. Ele não floreia a situação, simplesmente a descreve. Talvez o seu livro seja mais uma grande descrição das memórias de Michael do que a interpretação das mesmas. No início foi um pouco estranho, com o tempo dá para se acostumar e ver a beleza em uma escrita desse estilo.

Enquanto há livros que se apóiam em bons personagens, que cativam e te mantém durante a leitura, Bernhard se utiliza de uma trama cativamente. Ele cria um desejo de saber sobre o que vai acontecer com essas situações, principalmente a partir da segunda parte. O único personagem realmente explorado e trabalho é o Michael, o qual conta a história. Mesmo assim, você sabe mais de sua história do que suas características. Nem mesmo a Hanna, você conhece muito. Ela é sempre vista como uma pessoa a ser descoberta, talvez seja assim por que o próprio narrador a não conhecia tanto.

Uma reflexão que ele traz que eu gostei muito foi sobre a geração após a guerra. Eles não haviam cometidos os erros dos pais, contudo de qualquer forma trazem a marca. Principalmente por que esta ligada diretamente, o mundo ainda estava saindo dos escombros da guerra. Porém, o principal não é como são vistos, sim como reagem. Eles não tiveram controle sobre as ações, contudo como condenar aqueles que viveram na época enquanto ama os seus pais? Como condenar, se tudo o que indica ao seu redor que o que tem que ser feito é esquecer? Cada geração tem o seu peso, porém duvido que alguma tenha tido o mesmo que aquela que vem após 45.

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http://depoisdaultimapagina.wordpress.com/
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thais791 05/10/2023

Não importa o que eu fiz e o que não fiz e o que ela me fez, tudo isso se tornou a minha vida.
Que leitura boa! Li tão rápido que esqueci de registrar aqui.

O filme eu vi primeiro, já achava incrível e a leitura foi muito boa. Na verdade teve uma ou outra coisa diferente, até gostei mais do final do filme e a interação do personagem com a filha.

É um livro curto, poético, intenso, tem tanta profundidade e tantos assuntos abordados, e mesmo assim eles não são tratados de forma rasa.

Vai ser sempre uma indicação minha! Marquei tantas passagens que é difícil escolher uma só. Obra sensacional!
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Jhosi 26/01/2022

Vale a leitura.
Se é um romance fofo com final feliz que você procura, este livro não é pra você.

O Leitor nos traz a história de Michael Berg, um jovem adolescente de 15 anos que, através de um encontro inusitado, acaba se envolvendo com Hanna - uma mulher cheia de segredos, enigmática e 20 anos mais velha do que ele.

Uma peculiaridade de Hanna é fazê-lo ler para ela durante seus encontros, algo que ele não entende, mas acaba aceitando.

Até que de forma abrupta, Hanna vai embora sem deixar para trás nenhuma pista ou indício de para onde pode ter ido.

Anos mais tarde, agora aluno na faculdade de direito, Michael a reencontra. Só que desta vez, Hanna está no banco dos réus, acusada por ser envolvimento nos campos de concentração nazista.

Todo um misto de emoções e sentimentos conflituosos surge então, já que Michael não consegue lidar com as lembranças que ele tem de Hanna e com a mulher que de fato ela é - ou dizem que ela seja.

À medida em que acompanha o penoso julgamento, Michael começa a desconfiar que Hanna guarda um segredo que poderia mudar o rumo das coisas. Mas cabe a ele interferir?

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Este é um livro curto, porém denso em conteúdo. Bastante intenso e com uma carga emocional bem pesada.

Os dilemas de Michael são comoventes e dolorosos: afinal, como ele pôde amar uma pessoa capaz das crueldades das quais ela é acusada? Por outro lado, seria mesmo ela capaz de ser esse outro alguém tão terrível?

O livro aborda a culpa e a forma como os alemães lidaram com criminosos de guerra após o nazismo, mas mostra também a injustiça de que muitos não sofreram penalidade alguma enquanto que sobre outros foi depositada a responsabilidade por coisas que lhes eram impossíveis.

O final é doloroso. Mesmo já tendo assistido à adaptação e estando certa de que o final seria o mesmo, não deixa de ser triste - porém também não consigo imaginar algo muito diferente .

Sabe aquele livro que te faz pensar muito? Que deixa um gostinho agridoce? Pois é. Este é o caso.

No entanto, preciso falar que a escrita do autor me surpreendeu e me cativou muito. E apesar de não ser um livro fácil, ele traz muito sobre o que pensar e vale muito a pena!
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Pandora 22/11/2009

É triste, é realista, é sensível. Uma história de amor sem glamour, sem clichês, lírica e tocante. Gostei muito.
Pandora 04/01/2013minha estante
Que honra, Wagner! Obrigada. :))




Fernanda Serrão 19/05/2023

Maravilhoso
Uma história contatada de forma simples, porém devastadora. Amei a leitura, o autor escreve tão bem que nem dá pra sentir o tempo passando, história super bem amarrada e cativante. Amei!
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Caroline Vital 27/08/2022

Livro bom. Achei muito curto, senti a necessidade de maior narrativa. Senti falta de uma profundidade em um livro tão sucinto.
Suelen 27/08/2022minha estante
O filme é incrível!


Caroline Vital 27/08/2022minha estante
Sim! Também gosto!




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arthur966 21/07/2020

"fugir não é só correr de algum lugar, é chegar também a outro.".
li esse livro achando que era um romance, e a primeira parte dele até se parece bastante com um. mas na verdade ele é muito mais que isso. o autor viveu a época retratada, viveu as dúvidas retratas, viveu a alemanha retratada. por isso não duvidei nem um segundo que tudo era verdade. a história pode não ter acontecido na vida real, mas com certeza ela é verdadeira.
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Anna Laitano 08/01/2015

Um clássico caso de beleza trágica
Este foi um dos raros casos em que fiz o processo inverso: vi o filme para depois ler o livro. Na verdade, não tive muita escolha; vi o filme no primeiro ano de faculdade, durante uma aula, para uma atividade. Depois, como amei o filme, acabei lendo o livro também, no mesmo ano.

O livro é dividido em três partes: a primeira acompanha as memórias da adolescência de Michael e seu romance com Hanna. A segunda, sete anos mais tarde, narra o julgamento no qual eles se re-encontram. Por fim, a terceira parte traz os acontecimentos que sucederam o veredicto.

Narrado em primeira pessoa, acompanhamos um Micahel maduro lembrando de sua vida. Em geral, a narrativa é linear, mas por vezes ele faz interferências com comparações entre passado e futuro, como o que aconteceu com determinado prédio que costumava ficar em tal lugar, ou o que ele não sabia em determinada época e agora sabe, etc.

Acredito que são, justamente, algumas das observações e pensamentos do narrador que enriquecem a história e a elevam a outro nível. As perguntas que ele vai levantando em sua mente deixam de incomodar apenas o protagonista para fazer morada também na mente do leitor, que é colocado de frente com situações complexas e delicadas da história mundial

Michael começa como um garoto comum, relativamente ingênuo, que acredita se apaixonar por Hanna. A verdade é que na primeira parte ele está fascinado com a descoberta do mundo sexual, e se deixa levar por isso, acreditando que seja amor. Mais tarde, ele já começa a se tornar um homem mais centrado, conforme estudava e crescia. Ainda assim, ele muda novamente após o julgamento, preso a um relacionamento que por um motivo ou por outro (por ter sido seu primeiro "amor" ou por ter resultado em algo tão trágico) acaba o arrastando de volta e interferindo em seu presente e continuando a marcar e determinar sua vida.

Hanna, por sua vez, se mantém a mesma durante a maior parte da história. E ela é uma personagem complicada. Complicada, porque não importa o que seja dito, ela sempre será a mulher que trabalhou para a SS. Porém, ela é uma pessoa alienada, que não consegue entender o certo e o errado por si só. Ela acredita que o certo é cumprir ordens, então é isso o que faz. Sua visão humilde e simplista não consegue entender a calamidade de tudo aquilo. Afinal, para ela, um trabalho é um trabalho — que outra opção ela tinha senão fazer o que lhe era ordenado?

'O leitor' é um livro incrivelmente intenso. Há emoção e complexidade, em níveis éticos, psicológicos e emocionais. Com seus personagens, ele consegue abordar questões da Segunda Guerra e fazer críticas e questionamentos oportunos e diretos, de forma que é impossível o leitor não sentir uma conexão profunda com a história.

O romance entre Michael e Hanna é absurdo, a diferença de idade me incomodou bastante, especialmente na primeira parte, mas nunca foi exatamente um romance. Há diversos níveis no relacionamento de ambos, razões para estarem juntos nas três partes, e em cada uma delas, são um emaranhado de diferentes coisas que os prendem um ao outro.

A terceira parte, especialmente no final é impactante. Não posso discorrer plenamente a respeito sem dar spoilers, mas peço que prestem atenção e tentem analisar todos os ângulos das situações quando chegarem lá (ou que repensem, caso já tenham lido). Há questões de liberdade, culpa, medos, e muito mais que merecem todo o destaque e são, de fato, motivos que tornam o livro tão importante e aclamado mundialmente.

A edição é simples, de páginas amareladas e fonte confortável. A com imagens do filme é preta e abre um padrão para todas as outras obras do autor, o que me agrada bastante.

A tradução é boa, sem erros que eu possa me recordar. Porém – e aqui devo ressaltar que não sei quanto tem a ver com o fato de o idioma original do livro ser o alemão –, a construção de frases às vezes parecia curta e um pouco truncada. Ainda assim, são em raros momentos e, novamente, enfatizo que não sei se é uma característica própria das construções de frases no idioma original. De qualquer forma, o resultado final é totalmente compreensivo e bastante satisfatório.

Você precisa ler este livro. O filme, de fato, é maravilhoso. Mas você ainda precisa ler este livro. Há algo bastante diferente no tom do livro, e algumas pequenas divergências que também acabam por apoiar os motivos para dar uma chance aos dois. Perfeito para quem gosta de dramas intensos, complexidade ética e psicológica, história mundial, e leituras que geram questionamentos e tópicos para debate. Totalmente recomendado!

site: www.tecendopalavras.com.br
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