Mari 31/01/2024Um livro incômodoO título do livro é muito oportuno, porque além de abordar este incômodo na narrativa, é exatamente essa sensação de desconforto que o leitor sente.
Nunca tinha conseguido compreender bem o conflito que sinto ao ler os livros da Ferrante, porque me sinto agredida, massacrada como as personagens, sentindo um certo incômodo ao testemunhar essas histórias, mas ao mesmo tempo quero conhecê-las, quero ler o que a Ferrante tem a entregar.
Dessa vez me veio a compreensão do que sentia. A violência que as mulheres sofrem nos livros da Ferrante é assustadora, é como se o leitor também fosse agredido, porque só sendo perturbado, atingido e atacado para conseguir compreender totalmente as violências cotidianas que as mulheres sofrem só por ser mulher.
O que me chamou mais atenção foi a relação meio simbiótica da Delia com Amalia, um apego inseguro, algo que fazia Delia querer fundir-se a mãe, a ponto de não conhecer a própria identidade e unir a imagem corporal da mãe a sua própria depois que Amalia morre.
Delia nunca conseguiu enxergar a mãe de verdade e, consequentemente, também não sabemos quem é Amalia, pois a Amalia das lembranças de Delia é apenas uma figura idealizada. O machismo é tão impregnado que corrompeu a relação mãe-filha, porém achei que faltou a Delia assumir também sua responsabilidade na história materna, pois ela culpa o pai violento e o Caserta pelo sofrimento da mãe, mas não parece compreender como ela também fez parte dos castigos e dores de Amália.