Marlon Teske 27/10/2010
Mais Papel, Menos Texto
Quando se está com o primeiro sucesso e salvo engano único livro escrito por Laurentino Gomes em mãos, percebe-se inicialmente três pontos fundamentais: o primeiro é de que não se trata de um texto excessivamente complexo, o que é ótimo se considerarmos o quanto estamos defasados em relação a livros que tratam de nossa própria história voltados para o grande público. O segundo é de que o autor não é um historiador, e sim um jornalista e por último; a quantidade de texto é infinitamente inferior à quantidade de páginas.
Com uma tipografia “padrão”, o texto provavelmente ocuparia apenas dois quartos das 408 páginas que compõe o livro, contando aqui algumas das várias ilustrações em seu miolo. Outro ponto, especialmente notado logo no início, é que o texto às vezes torna-se repetitivo. Aparenta que por vontade de ajudar o leitor a relembrar trechos já citados, Laurentino acaba se atrapalhando um pouco. De qualquer maneira, isto não tira o mérito do feito de ter conseguido (ainda que com certo oportunismo em relação à data histórica de duzentos anos da migração da Familia Real Portuguesa até nosso país) não apenas emplacar a obra como também torná-la um quase best-seller.
Guiando o leitor desde a fuga apressada da família real frente à invasão dos exércitos de Napoleão até o regresso do já então Rei João VI, passando por toda a saga da chegada em Salvador e posterior mudança para o Rio de Janeiro, a abertura dos portos ao comércio e a efetiva criação da nação brasileira; 1808 retrata não apenas as mudanças bruscas que afetaram a população que assistiu a colônia transformar-se em país, mas também todo o contraste, a injustiça e a corrupção que igualmente ganharam força no Brasil da época.
Destaque para as informações referentes a família real, em especial ao próprio Don João VI, que era sem sombra de dúvidas um homem no mínimo singular e a sua esposa, Carlota Joaquina (que em minha opinião foi um pouco esquecida no todo da obra. Muitas das citações quanto à ela resumem-se a poucos parágrafos por mais curiosas que fossem, como suas tentativas de tomar o poder do marido). Algo que poderia ter sido incluso sem grandes dificuldades, já que, como citado, sobraram páginas no livro.
Aliás, por falar em páginas, muitas delas ao fim da obra são preenchidas pela impressionante bibliografia do tomo, nada menos que dezenas de livros que serviram como base de pesquisa para o autor (que recorreu ainda a internet para criar uma teoria interessante nos últimos capítulos). No geral, é um bom livro, de leitura leve e sem aquela cara de livro didático que traumatiza tanto a maior parte dos leitores. Recomendo para pessoas que assim como eu estão um pouco enjoadas dos romances e querem ler alguma coisa mais concreta, para variar.
E agora é esperar pelo prometido 1822 =)
Lido em Setembro/2009