spoiler visualizardaniellequeiroz 20/09/2023
Escrevi no FB quando li (maio/2020) e trouxe pra cá agora...
Quando eu era adolescente, eu lia um livro a cada dois ou três dias. E eu tinha um blog para postar sobre os livros.
Depois a gente cresce, vai pra faculdade, começa a trabalhar e se tiver tempo de LER os livros já é lucro.
Nessa "quarentena", eu continuo trabalhando, mas eu tirei de mim mesma a pressão de ter que estudar o tempo inteiro. Então, nas horas que não trabalho, estou vendo séries e lendo livros. Mas ainda tento acompanhar as notícias.
Na semana passada, terminei "O Eterno Marido", do Dostoiévski, livro que, em outros tempos, comecei por três vezes e não tinha concentração pra continuar. Eu estava ansiosa, agitada. Esse mundo novo faz isso com a gente. Você precisa estar nas redes sociais. Você precisa saber as notícias. Você precisa saber tudo. Então com essa "pausa" que eu me dei, eu consegui concluir.
E logo comecei 1808, esse da foto. E esse, pelo tamanho e pelo tanto que me atraiu, me lembrou a minha adolescência. E dei vontade de postar sobre ele no meu antigo blog. Mas eu o excluí há alguns anos.
Percebei o quanto o trabalho do historiador é delicado: a história era registrada através de cartas, diários de bordo de navios e pinturas. Foi preciso investigar para saber o tanto que sabemos hoje.
Esse autor, Laurentino Gomes, tem outros dois livros: 1822 e 1889. Pretendo ler também os outros dois, pois esse autor traz uma riqueza de detalhes.
Detalhes sobre as características físicas e de personalidade de D. João VI e Carlota Joaquina, bem como da rotina deles. E do Brasil e dos brasileiros.
Eu preciso contar essa curiosidade: não tem registros de o D. João VI tomar banho nos 13 anos que ficou no Brasil. Nem de roupa ele gostava de trocar: seus criados notavam os rasgões e não falavam nada e, enquanto ele dormia, costuravam as roupas.
Gostaria de contar que, nessa data, eles já tinham a noção exata de onde estavam, com bom conhecimento marítimo e de coordenadas. E que eram cerca de 60 dias de viagem de Lisboa/PT ao Rio de Janeiro/BR. E que muitas pessoas morriam no caminho.
Se você ler, vai descobrir outras várias coisas engraçadas/interessantes.
Quando comecei, cheguei a pensar "esse livro é meio grande pra falar de 1808". Porém, não imaginava a riqueza de detalhes, a contextualização até chegar 1808 e que o livro vai até 1821, quando a família real retorna a Portugal. Às vezes, ele ainda menciona algum acontecimento mais a frente na história.
Desse livro, eu vou deixar dois pequenos trechos: "Em muitos casos, a liberdade era um mergulho no oceano de pobreza composto por negros libertos, mulatos e mestiços, à margem de todas as oportunidades, incluindo educação, saúde, moradia e segurança - um problema que, 120 anos depois da abolição oficial da escravidão, o Brasil ainda não conseguiu resolver".
(...)
"Entre a enorme massa de excluídos estavam as mulheres, os negros, os mulatos, os pobres, os analfabetos e destituídos em geral. Heranças mal resolvidas em 1822, todos esses problemas permaneceriam, nos duzentos anos seguintes, assombrando o futuro dos brasileiros - como fantasma de um cadáver insepulto."