Vanessa1409 13/10/2023
Adolescente Anos 90
Fugindo dos padrões em voga e mantendo a moda do sobrenatural, Meg Cabot nos presenteou com uma história rica, divertida e, de certa forma, inovadora.
A protagonista ? Suzannah, ou apenas Suze, para os íntimos ? é uma adolescente estudante. ?Clichê?, podemos pensar. Porém, ela não faz a mocinha frágil e desesperada para conquistar o amor do rapaz mais popular da escola ? no caso dos sobrenaturais, um vampiro. Porém, tratando-se de Meg Cabot, nada é ortodoxo. ? Pelo contrário, Suze é osso duro de roer e não leva desaforo para casa.
Como a narração é feita em primeira pessoa, os comentários sarcásticos são divertidíssimos, e os apelidos que a personagem guarda em sua mente ? e que somente nós podemos conhecê-los ? são os pontos altos da escrita bem humorada de Meg.
Afinal de contas, do que se trata a série? Bem, conforme mencionei acima, a autora se mostrou tão rebelde quanto sua personagem. Então, invadindo a mente de Meg, creio que, certamente, encontraremos a questão: Por que escrever sobre vampiros e lobisomens ? extremamente clichê ?, se eu posso criar uma personagem que interage com... Fantasmas? Exatamente isso: fantasmas! E, para variar, mantendo sua rebeldia em altos níveis, a autora não criou um príncipe encantado loiro de olhos azuis. Não... Para arrebatar de vez a mente das leitoras, Meg Cabot criou um fantasma sedutor, latino, de traços fortes e uma morenice de tirar o fôlego ? caindo perfeitamente como uma luva aos nossos pensamentos brasileiros mais lascivos, estereotipados em um moreno alto, bonito e sensual, se é que me entendem...
Já expressei as idiossincrasias da protagonista, uma adolescente forte, determinada e impulsiva. Nada de fragilidades e prantos mimados ? e desnecessários. ? Suze não é dramática, a maturidade lhe alcançou cedo. Afinal, além da morte prematura do pai e da nova união da mãe ? que lhe acarretou uma mudança de estado e o fardo de três irmãos adotivos ?, ela teve que lidar, desde a mais tenra idade, com seu dom: mediar as almas desencarnadas que insistem em não cruzar o Cabo da Boa Esperança. Porém, isso não a impede de fazer besteiras vez ou outra.
Jesse, o nosso fantasma latino e sedutor, parece ter a deliciosa bipolaridade. No entanto, retiro a culpa dos seus ombros. Interagir com uma adolescente humana, mediadora e marrenta, não é uma tarefa das mais fáceis ? sem contar o fato de que Jesse não pertence ao mesmo século, sendo que seu falecimento ocorreu há mais de cento e cinquenta anos, em uma época em que os homens eram educados, cavalheiros que cortejavam suas damas respeitosamente. ? Dessa forma, o sedutor príncipe desencarnado toma para si a tarefa de proteger a desmiolada Suze, que insiste em usar métodos nada ortodoxos nas suas mediações.
Padre Dominic é outra figura importante do enredo. Diretor do colégio onde Suze foi matriculada na Califórnia, o monsenhor Dom também é um mediador ? o primeiro que a protagonista encontra em toda sua louca carreira sobrenatural. ? Paciente, padre Dominic tenta ajudá-la a exercer seus talentos de maneira ética, primorosa e bem sucedida. Ou seja, o pobre homem tenta convencer Suze a não chutar os traseiros ectoplasmáticos dos fantasmas e a não exorcizá-los com macumba... Macumba brasileira, para ser mais específica!
David, chamado de Mestre pela protagonista, é o mais novo dos três filhos de Andy, padrasto de Suzannah. Extremamente inteligente, David é atencioso com a nova irmã, conquistando-a com suas idiossincrasias e gentilezas. O garotinho ruivo também é enigmático, sendo que é diferente dos irmãos mais velhos não apenas na aparência, mas, também, na personalidade. Como se trata de uma série, a autora, sabiamente, deixou o mistério no ar, guardando o segredo de David para ser revelado nos próximos volumes.
Resumindo: Temos um livro com linguagem coloquial, estilo adolescente anos 90, com muitas gírias, citações e piadas que apenas a antiga geração conseguiria entender. Porém, a narração ? em primeira pessoa ? é divertida. A protagonista é ousada, mas sempre mantendo o bom humor.
Logo no segundo capítulo, a autora estereotipou atitudes casuais e típicas como particularidades de uma adolescência rebelde com tendência criminosa, como o uso de piercing, orelhas furadas, esmaltes escuros nas unhas e cabelos pintados... Simples adornos, que eram mais que comuns até mesmo na década de 90, foram usados para descrever uma pessoa jovem fora do normal... por uma novaiorquina!!! Fora isso, devo dizer, Meg Cabot foi fantástica.