Letícia 20/02/2022
A coletânea que me fez gostar mais de ler contos
Boris Schnaiderman nos conta, no posfácio da edição da Editora 34, que procurou escolher não apenas os melhores contos de Tchekhov, o que seria extremamente subjetivo, mas fazer uma seleção que refletisse as diferentes facetas do contista. Nesse sentido, o tradutor faz um ótimo trabalho.
Por outro lado, não sei se a apresentação cronológica dos contos foi a escolha mais acertada. Os melhores contos acabaram ficando concentrados na segunda metade do livro, especialmente entre os contos mais longos que aparecem nas últimas 100 páginas. Prova de que a escrita de Tchekhov foi sendo aprimorada ao longo dos anos e só melhorou com a maturidade literária do autor. O ônus, porém, fica com o leitor, que precisa passar por contos mais arrastados e insistir na leitura para descobrir os verdadeiros tesouros desta coletânea.
Entre os contos mais curtos, meus preferidos foram ?Do diário de um auxiliar de guarda-livros?, cômico e irônico na medida certa; ?Angústia?, que descreve os sentimentos não apenas do protagonista, mas também do leitor após terminar a leitura (algo semelhante acontece com ?Aflição?); e ?Olhos mortos de sono?, magistralmente construído e com um desfecho arrebatador.
Já entre os contos mais longos, adorei ?Homem num estojo? e ?Queridinha?, que evidenciam o quanto os autores russos do século XIX tinham uma percepção acurada da psique humana, antecipando questões que mais tarde seriam desenvolvidas pela psicanálise. Já ?A dama do cachorrinho?, com forte interlocução com Anna Kariênina, traz uma resposta tão brilhante ao conservadorismo de Tolstói que me deixou encantada.
Agora entendo perfeitamente porque os contos de Tchekhov são tão celebrados.