As ondas

As ondas Virginia Woolf




Resenhas - As Ondas


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3.0.3 08/01/2024

O conflito silencioso das marés, onde tudo reverbera em um estrondo oco
“E também dentro de mim a onda se ergue. Cresce; arqueia o dorso. [...] Que inimigo percebemos agora a avançar contra nós, você a quem cavalgo agora, parados aqui, escarvando este trecho do calçamento?“

Nunca suportei a ideia de terminar uma obra magnífica, então, sempre que leio uma passagem sublime, tenho o hábito de fechar o livro e sair um pouco para respirar. Com isso, tento suspender o inadiável ao máximo, fazendo o livro durar de todas as maneiras. A potência de outras vozes me enche tanto que quase me fragmento. É assombroso! Imagino que seja uma experiência comum a todos os leitores. Então, repito, quando me deparo com uma passagem linda, cesso imediatamente a leitura e saio, de qualquer forma, para respirar, para refletir os golpes que um livro potente me desfere.

“Quero arrancar-me dessas águas. Mas elas se amontoam sobre mim; arrastam-me por entre seus ombros enormes; reviram-me; sacodem-me; fico estendida entre essas longas luzes, essas longas ondas, essas veredas intermináveis, com gente que me persegue, persegue.”

As ondas (1931), de Virginia Woolf (1882–1941), é certamente uma obra-prima complexa. Diferentemente de publicações anteriores, que seguem uma estrutura mais “lógica”, onde conseguimos compreender com mais precisão o tempo e os lugares onde as personagens atuam, em As ondas isso não acontece, visto que o romance é dirigido por vozes de personagens praticamente incorpóreos.

Começando na infância e terminando na velhice, o livro narra – por meio de monólogos interiores – as vidas e os pensamentos de Bernard, Louis, Rhoda, Jinny, Neville e Susan em um fluxo de consciência altamente literário e elíptico – e talvez essa seja uma das grandes complexidades do livro, pois cabe ao leitor o trabalho de inferir e preencher os vazios do não dito.

Aqui, de ponta a ponta, cada acontecimento é mais súbito do que constante, ainda que a obra seja atravessada por uma linha condutora tênue. Nesse sentido, os conflitos que surgem ao longo da trama são psicológicos e internos. As personagens são as ondas da narrativa que colidem em fluxos e refluxos incessantes, que questionam a cada encontro, a cada contato com a morte e com o amor, a essência da existência humana.

“O som do coro vinha através das águas, e senti brotar aquele antigo impulso que me empurrou a vida inteira, o de ser lançado acima e abaixo no bramido das vozes de outras pessoas,cantando a mesma canção; jogado acima e abaixo no bramido de uma quase insensata alegria, sentimentos, triunfos,desejos.”

A maneira como as repetições são usadas na narrativa, ecoando sensações, pensamentos e passagens temporais, é sublime. Danças rítmicas, como os avanços e os recuos do ondular marítimo, as personagens falam a partir de suas perspectivas e se retiram de cena, traçando um panorama impressionante e singular da vida, pintando uma paisagem complexa e sensível da natureza. Pouco a pouco, trazendo à tona o incógnito que habita o mais profundo e escuro do humano, Virginia Woolf tece particularidades para as personagens, mas sem desmanchar a teia comum que as liga. Nesse compasso, o livro se desenvolve num redemoinho de vozes que se encontram e se complementam.

Não há cisão entre as personagens. Conforme os amigos amadurecem, passam naturalmente a ter outras visões de mundo, mas os elos que constroem não se partem, pois são conectados a um ponto em comum. Embora distintos, todos são os mesmos, isto é, os seis são um, e o um é Percival, o único amigo que não tem voz na narrativa. Percival realiza esse papel fundamental ao longo do livro. Expostas simbolicamente, a sua presença e a sua ausência são sentidas por todos os amigos, fato que colabora para a profundidade da história e dita as experiências e as reflexões das demais vozes durante as fases de suas vidas.

Além das vozes das personagens, a natureza está sempre presente, como a praia que é descrita no início da narrativa e que se prolonga por todo o livro. Também vozes incorpóreas, esses interlúdios – marcados sobretudo por movimentos sensoriais de águas, aves, sombras e luzes – narram a passagem do tempo como se fossem o próprio tempo que habita todo o espaço. O desenvolvimento dessa paisagem, que expõe o curso completo de um dia, ressalta simbolicamente os ciclos que as personagens atravessam ao longo da vida até chegarem à velhice, onde a solidão se manifesta mais ostensiva com a chegada da noite.

“O sol ergueu-se mais. Ondas azuis, ondas verdes derramam um rápido leque sobre a praia, circundando as pontas dos cardos-marinhos, depositando poças rasas de luz aqui e ali na areia. Atrás de si, as ondas deixaram uma tênue orla negra. As rochas, antes nevoentas e macias, endureceram, vincadas por fissuras rubras.”

Conforme as fases da vida avançam, os pensamentos ficam mais profundos, e as correntes de consciência das personagens submergem em uma imensa introspecção. Assim, os temas da noite e da solidão, que se tornam assuntos constantes, representam a chegada da morte e uma tentativa de união à brevidade da vida. Como devemos nomear a morte? Vemos as palavras se enlaçando como espirais de fumo e somos tragados pela noite. Os verdadeiros têm mais sucesso nas sombras da solidão, espaço onde as grandes frases nascem. Somos o nada, mas seguimos ribombando.

Se a maior relevância da obra é o estrondo de cada palavra, compreende-se que os princípios clássicos do romance foram deixados de lado para se buscar aquilo que existe antes da forma. A infância, a juventude e a maturidade: do mar, somos a potência da maré, a grandeza do inexplorado e a solidão da profundeza. Fragmentando o tempo e o espaço, a força da sua linguagem é uma agitação sísmica que sulca e estabelece outras conexões. A água, que é sobretudo indivisível, sustenta a complexidade do mundo antes do nosso surgimento. Atravessamos o tempo e a história ao longo da vida, mas tudo isso acontece em um único instante.

“As árvores, dispersas, ordenavam as coisas; o denso verde das folhas atenuava-se sob uma luz dançarina. Eu os recobri com uma frase súbita. Com palavras, salvei-os da condição amarga.”

Aqui, em diversos monólogos, as reflexões mais complexas que envolvem a existência durante a fase adulta ganham corpo como alguma coisa que sempre escapa ao manejo humano e que nunca cessa o seu curso. Na fímbria dos sentidos, compreende-se que também somos a água que ondula pelo tempo, a água que avança e se derrama na areia da praia, a água que avança e se choca contra o rosto da rocha, mesclando, embaralhando e marcando todas as fases de nossa vida, reconfigurando a cada segundo o que em nós é eterno.

“Saciado e repleto, sólido na satisfação da meia-noite, eu, a quem a solidão destrói, deixo que o silêncio tombe gota a gota.”

Tido por muitos como uma obra basilar do século XX, As ondas é um livro sofisticado que solicita a sua dedicação e a sua persistência. Percorrendo temas como a solidão, a amizade, a espiritualidade, o autoconhecimento etc., Virginia Woolf cria uma obra potente, sensível e inquietante. Quando compreendemos o seu ritmo, a sua belíssima prosa e a sua autenticidade, a leitura começa a fluir e a ganhar outros contornos. Virginia Woolf tem a capacidade de nos surpreender a cada livro – e As ondas é um maremoto.

E que maremoto! Estende-se a obra ao fechar o livro. E esse gesto representa sempre um diálogo com todas as formas que se manifestam ao longo da narrativa. Sem muros. Sem amarras. Sozinho, no cais deserto, vê-se mais íntimo do mundo. Com ele. Dentro dele. De súbito, fica óbvio que, quando Virginia Woolf escreveu As ondas, ela não se afastou do livro para admirá-lo de algum canto distante. Virginia Woolf escreveu As ondas e mergulhou em sua obra – essa partida que é, por fim, um excesso de intimidade com o mundo, não uma fuga; partida que não tem volta, como são todos os últimos encontros, extremos. Essa é a potência da criação.

“É a morte. A morte é o inimigo. É contra a morte que cavalgo com minha lança erguida e meu cabelo voando atrás de mim, como o de um jovem, como o de Percival, quando galopava na Índia. Cravo as esporas em meu cavalo. Vou lançar-me contra ti, imbatível e inflexível, ó Morte!”
Patrícia 05/06/2024minha estante
Resenha belíssima...




Guilherme Amin 05/05/2024

Um mar todo seu
Virginia Woolf sempre gostou de escrever alegorias sobre as ondas do mar em seus contos e romances, mas neste ela atingiu a culminância dessa representação.

Sob e por sobre as ondas que impulsionam, estremecem, retraem e amansam nossas existências, desfila no livro a abordagem lírica do tempo, da solidão, do amadurecimento, do amor, das carências, da nossa identidade e do perpétuo senso do que podíamos ter sido e não fomos.

São temas caros à obra da autora, que ela aqui desenvolve numa prosa de formato e conteúdo experimentais. Não há capítulos, mas ?episódios? compostos por um interlúdio, que descreve ações da natureza, e um consequente solilóquio, feito das expressões da consciência dos seis personagens, cujas ações estão implicitamente ligadas às forças naturais apresentadas nos interlúdios.

É um romance de difícil leitura, que demanda o idílico leitor ideal: generoso, comprometido, concentrado ao máximo da sua atenção. Um estado de corpo e espírito que, se não impossível, somos estimulados ao menos a buscar, dado o prazer intelectual que o livro proporciona.

Para tanto, a edição da Autêntica, com tradução do grande Tomaz Tadeu, conta com um bom texto orientativo, intitulado ?Para ler ?As ondas??. O tradutor nos oferece nele uma bondosa prancha, mas o romance exige nadar por nossos próprios meios.

Nesse ponto, pretensiosamente não darei a ?As ondas? ?cinco estrelas? porque, em comparação com os dois romances de que mais gosto da autora ? ?Mrs Dalloway? e ?Ao farol?, esse o meu livro preferido ?, o prazer da leitura, que é enfim o que busco, não alcançou a mesma grandeza. Foi comprometido, no decorrer do último terço, pela sensação de cansaço; o cansaço da repetição.

Em ?As ondas?, toda a natureza dos personagens, com exceção de um, é revelada nas primeiras 150 páginas. Depois vem a repetição, quase infindável. Como ir a um museu e ver quarenta pinturas de um artista sobre um único tema, e sair da sala entusiasmado, querendo conhecer mais desse pintor ? por certo também uma novidade, alguma variação ?, só para descobrir na galeria seguinte que a exposição continua com mais cem belas obras da mesmíssima técnica e temática.

Bebi, então, uns quantos goles de água salgada, mas meu cansativo nado preparou-me para a recompensa do final: uma ode à solitude que constitui uma das preleções mais lindas que já li. Quero levá-la comigo, confortável na memória mas alerta na consciência do presente, nutrindo-a com releituras, até o dia em que também o meu corpo afundará e se dissolverá nas ondas.
Gustavo Kamenach 06/05/2024minha estante
Que texto esplêndido, Guilherme!


Guilherme Amin 06/05/2024minha estante
Obrigado, meu amigo!


carlosmanoelt 28/05/2024minha estante
excelente texto




Namelass 03/02/2012

É toda a melancolia da vida neste livro, nesta leitura. É a melancolia da vida em forma de ondas, varrendo a mente a cada página.
Jacy 04/10/2012minha estante
Gostei :)


Kaua.Jorge 05/08/2021minha estante
Eu não dou conta de abrir


Kaua.Jorge 05/08/2021minha estante
Como faço


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Bela metáfora!




carlosmanoelt 28/05/2024

?As ondas quebraram na praia.?
?Sinto mil capacidades brotar em mim. Ora sou brejeira, alegre, lânguida, ora melancólica. Tenho raízes, mas sou fluida. Toda dourada, fluindo.?

Sabe aquele livro que fica ecoando na sua cabeça após a leitura e você tenta mensurar o significado dele e tudo que absorveu durante a leitura? Foi exatamente assim que me senti ao finalizar ?As Ondas? de Virginia Woolf.

Poético e sensível, toca nas feridas mais escondidas da dor humana, mesmo 90 anos depois de ter sido escrito. Uma leitura que transforma e que pode ser considerada tudo, menos confortável.

Composto basicamente de monólogos interiores, que apresentam os personagens, suas vidas, suas opiniões e seus passados e que eventualmente parecem se unir e se tornarem uma coisa só.

Woolf faz analogia a elementos como a água e a natureza para evidenciar as tensões dos personagens a partir de temas como a homossexualidade, a traição, o adultério, a amizade e o amor.

Um mergulho nas ondas da vida, um crescente dorso que arqueia-se. Um incêndio em todos os cantos do ser, do estar e do viver. Ler e conceber a ideia de haver algo assim, uma coisa assim, delírio inominável.
Guilherme Amin 29/05/2024minha estante
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carlosmanoelt 29/05/2024minha estante
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Alexandra 20/01/2024

Bela escrita e leitura densa
Ler Virgínia é sempre um privilégio. Em As Ondas Virgínia Woolf explora sons, cores, cenários e sentimentos a partir do universo de seis amigos, desde a infância até a maturidade. Escrita belíssima e delicada, porém densa e complexa. Indico a leitura.
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rafisreading 17/02/2024

Tudo de Virgínia é simplesmente genial, amo demais ela e tudo que ela escreveu que parece ter sido particularmente para mim.
Esse foi um dos livros de leitura mais difíceis que já fiz, mas meu Deus como valeu a pena cada segundo. Amo demais essa mulher, que mente!
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Punyama 05/09/2020

"As Ondas quebram-se na praia."
Eu não me sinto suficientemente preparado para fazer uma resenha completa deste livro ? tanto por não ter o fator idade/vivência suficiente quanto porque não conseguiria expressar em palavras o quanto ele é incrível (meu vocabulário não é vasto o suficiente para exprimí-lo) ?, mas vou tentar dizer algumas coisas. Pra começar, devo dizer que ele é um tapa na cara, um tapa seco e sem dó. O livro é narrado por "fluxo de consciência" ? o que só intensifica tudo o que está acontecendo ? e segue a história de 6 amigos, desde a infância até a velhice e morte. Pelo fato de ser narrado em fluxo de consciência não tem como a autora ficar explicando tudo, então ele apresenta várias lacunas onde o dever de supor e preencher é do leitor, e eu vi isso como um ponto positivo. Além de nós, leitores, termos poder criativo, a autora tem mais tempo de se focar no que realmente importa: o desenvolvimento dos personagens através de todas essas décadas. Como muita gente fala, "As Ondas não é um livro de história, é um livro de desenvolvimento de personagens". E isso a Virginia Woolf faz muito bem!
Os últimos 20% foram quase impossíveis de ler para mim. É onde o personagem já está idoso e começa a se lembrar do passado, num momento de reflexão. Nesse ponto a narrativa muda um pouco e o livro fica mais denso, pesado e seco, como que para representar a proximidade da morte, os sonhos que não se concretizaram, os amigos que se foram e toda a dor sentida. É triste ver toda essa amargura, mas é algo necessário.
Bom, este livro se tornou um dos meus favoritos da vida, e com certeza vou o reler daqui alguns anos, quando eu estiver mais experiente, e certamente vou o enxergar de uma forma mais completa.
Quando eu terminei As Ondas eu estava chovendo.
grs.neto 24/10/2020minha estante
Ótima resenha!!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
"Pelo fato de ser narrado em fluxo de consciência não tem como a autora ficar explicando tudo, então ele apresenta várias lacunas onde o dever de supor e preencher é do leitor" ? Bem observado!




Tiago 29/09/2021

Desfazer-se do corpo do romance e mostrar a voz que o antecede.
O romance clássico era construído por uma mesma estrutura, tendo por base fatos e personagens. Quando narrados em primeira pessoa, havia a presença dos fatos e de uma estrutura que o organizava o enredo; havia, em alguns romances, um narrador. Em As Ondas, o sétimo romance de Virgínia, a condução é toda feita por vozes. São seis: Rhoda, Susan, Neville, Jinny e Louis - e um espectro: Percival, um ponto de encontro, algo correlativo ao que o farol de Ao Farol era para os Ramsay. Em determinadas passagens, Percival é mesmo um ponto quase a ser alcançado, como o farol do romance anterior era um lugar a ser alcançado. É também o único que não é uma voz, mas um personagem.

Voltando a estrutura do romance. É importante considerar que este seja conduzido não por personagens com corpos, mas por vozes de personagens, quase sem corpos. Essa imagem nos serve para pensar que Virginia abandonou o corpo da literatura, suas formas clássicas, seus parâmetros, para trazer em As Ondas o que é anterior à forma. Virginia queria abandonar o corpo da literatura, trabalhar apenas com sua voz e o fez em As Ondas. Toda obra tem uma voz. Em As Ondas há tão somente vozes. As ações, a realidade, os dados objetivos menos importam do que “o som militar das palavras”, como bem trouxe Virgínia no conto A Marca na Parede, referindo-se ao que importaria aos romancistas do futuro.

As vozes do romance são de dois tipos distintos: uma narrada pelos personagens e outra pelo interlúdio. Que voz narra o interlúdio? É a mesma que narra o capítulo O Tempo Passa, que serve também de interlúdio para Ao Farol, romance anterior ao As Ondas. Uma voz também despersonificada, porém pertencente a personagem nenhum. Como se a Coisa mesma, o olho que há sobre os lugares que não habitamos descrevesse a cena que vê. Virginia também nos conduz de um romance a outro como nos conduz com a continuidade de seu fluxo de consciência. Elementos que se encontram aqui também podem ser encontrados ali. São pistas que marcam o fio que nos acompanha por seu pensamento, seu projeto literário, sua obra.

A experimentação com a temporalidade é algo que Virgínia em seus romances, sobretudo a partir de O Quarto de Jacob, que saiu pela editora que fundou com seu companheiro. Mas em Noite e Dia mesmo há uma marca da relação do tempo com os personagens: o título evoca os dois estados de um dia. Pela manhã, os fatos objetivos dos personagens, pela noite, suas questões, seus pensamentos, o que se torna difícil de distinguir as formas. O tempo sempre terá correlação com os personagens e a narrativa desde então. Em Mrs. Dalloway, o relógio são as ondas que conduzem os personagens tão menores diante dos fatos trazidos pelo tempo. Todo o romance se passa em um dia. Em Ao Farol, dois dias são separados por vários anos. Orlando é um personagem que, com uma só vida, atravessa séculos. Em As Ondas, um mesmo dia, com o sol em suas variadas posições, do nascer ao se pôr, dando lugar à lua, marcam o tempo do nascer ao morrer da vida das vozes que constroem o romance.
Outro elemento crucial, após o tempo, é a água: seu fluxo, suas ondas. Estão esses elementos presentes desde sua primeira obra, A Viagem: atravessa-se um oceano, e embora o romance seja estruturado em forma clássica, são os pensamentos mais do que as ações o centro do romance; O Quarto de Jacob se inicia numa praia; várias passagens de Mrs. Dalloway traz ondas e mar como símbolos do que se passa nos pensamentos dos personagens. Ao Farol se passa em uma ilha e além de também trazer esses símbolos em sua narrativa, tem um mar que separa os personagens do ponto derradeiro de encontro com o lugar que dá título ao romance. As Ondas é o ponto máximo, embora não último do encontro de Virgínia com as águas. O encontro derradeiro se dá com sua ultimíssima obra, seu suicídio. Não poderia ser de outra forma, penso, se não tendo um encontro real com o que sustentava imaginariamente os elementos de sua obra. É lançando-se no rio Ouse que Virginia entrega-se ao desconhecido que encontrava na água e que tentava simbolizar com sua escrita. Seu suicídio, portanto, não é um escape, mais um encontro. Um encontro final, derradeiro - e como todo encontro, sem volta.
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Só Paula 04/01/2021

"Há sempre alguma coisa para se fazer a seguir. Terça feira vem depois da segunda; quarta após a terça. Cada dia espalha a mesma ondulação. O ser vai crescendo em anéis, como uma árvore. Como uma árvore, há folhas caindo."

A vontade em ler "As ondas" veio com a leitura de "Por lugares incríveis" em que as personagens citam diversas vezes a obra de Virginia Woolf. Ao ler o livro, me deparei com uma narrativa complexa e intensa, com muitas passagens que me levaram a reflexão. O romance possui várias frases incríveis que vou levar pra toda minha vida. Confesso que, de início, foi muito difícil entender, mas ao longo da história, tudo foi ficando mais claro e apaixonante para mim.
Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Para mim também foi difícil de entender na primeira vez que tentei ler e abandonei. Mas alguns anos depois procurei ler devagar e procurando todas as palavras no dicionário e vi que o livro era uma obra prima, com reflexões sobre a vida em suas diversas fases.




Mi Hummel 31/01/2015

À deriva com Woolf
" - E também dentro de mim a onda se ergue. Cresce; arqueia o dorso. Mais uma vez tenho consciência de um novo desejo, algo que sobe por baixo de mim, como o altivo cavalo cujo cavaleiro primeiro o instiga, depois o puxa para trás. Que inimigo percebemos agora avançar contra nós, você a quem cavalgo agora, parados aqui, escarvando este trecho do calçamento? É a morte. (...) Vou lançar-me contra ti, imbatível e inflexível, ó Morte!"

Primeiro livro em que tive contato com Virginia Woolf.
Pontuo como duas estrelas não pela autora, mas pela ignorância da leitora. Foi um daqueles livros em que quanto mais lia, mais me pegava pensando se estava compreendendo o que cada personagem queria dizer.

Foi uma leitura difícil, confesso. Por não estar acostumada, parava a cada capítulo para respirar e descansar. Mas, eis que consegui completar a leitura.
Não posso dizer que amei o livro, pois isso seria hipocrisia.

" As ondas" é um livro que conta com seis narradores personagens - e eis aí o maior trunfo da autora. Frequentei um curso sobre escrita criativa e soube que um dos grandes problemas dos autores é a perspectiva da personagem. Coisa que Woolf não sofre. Imagine seis personagens. Além de um deles falar sobre si próprio, define a postura, movimentação e sentimento das demais. De repente, muda-se a personagem. A perspectiva é toda reformulada de acordo com o novo narrador e assim vai. Praticamente, o livro se conduz dessa forma. Numa roda viva de monólogos que se complementam.

Bernard, Neville, Louis, Rhoda, Susan e Jinny. Acompanhamos de perto as sua interações com o mundo e com eles próprios. Cada um deles é diferente, porém, permanece a mesma dúvida: a essência de ser. Seus encontros com a humanidade, com o amor e com a morte, definem a maioria de seus pensamentos.

Eles próprios são ondas. A entrechocar-se num ir e vir eterno.
Inclusive, eu própria me senti à deriva, em pleno mar ao ler. Pareceu-me que a própria narrativa simula esse ir e vir das ondas, uma vez que logo no início somos apresentados aos seis personagens, um atrás do outro. Como se não houvesse tempo para respirar a fim de se recuperar da onda que passou. Por isso, foi exaustivo. Até que as ondas narrativas foram se tornando cada vez maiores e mais calmas...A medida que as personagens envelheciam e se estabeleciam no mundo as suas falas iam se tornando mais longas, embora se pudesse observar uma calmaria aparente.

Não. Não foi fácil. As falas das personagens são acompanhadas sempre pela natureza. Há uma bela descrição de uma praia no intróito e essas descrições se estendem no decorrer da obra, como se pontuassem as fases de vida. Nascimento, infância, adolescência, maturidade e velhice.

O drama da obra é interno, psicológico. Não há movimentação externa, mas as dores .e questionamentos do ser humano diante de suas escolhas na vida e seu embate com a morte.

Seja como for, a própria morte é uma nova onda. E tudo deve ir algum dia, para voltar novamente.

Nalice 19/04/2015minha estante
Excelente resenha! *aplausos*


Mi Hummel 31/05/2015minha estante
Olá, Nalice! Obrigada. E você? Leu e gostou?


Felipe Guilherm 09/06/2017minha estante
Senti o mesmo ao terminar o livro, geralmente leio dois ou três ao mesmo tempo, mas para esse fui exclusivo, levou mais tempo que o normal, mas a introspecção o fluxo de consciência de cada personagem são de certa forma arrebatadores. As outras obras dela são mais palatáveis, mas o lirismo é sua marca registrada, experimente "Orlando" e "Um Teto Todo Seu". Excelente resenha, parabéns!!!


Mi Hummel 20/06/2017minha estante
Oi, Felipe! Obrigada pela dica! Realmente, preciso me preparar se for encarar uma outra obra desse tipo! Então, que bom que ela escreveu obras mais leves! Vou ver se encontro!




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Laryssa165 06/07/2023

As ondas
Eu não sei muito bem o que pensar desse livro. Eu nunca em 21 anos tinha lido algo assim. Um romance misturado com poesia. Foi uma leitura bem confusa e complicada, por vezes eu não tinha noção do que eu tava lendo, ou em que tempo os personagens estavam. Certamente, vou precisar reler algum dia lá compreender melhor. Por hora, digo que foi uma boa experiência literária.
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Gui 18/10/2011

Poemance
Perfeito. Incrível. Saboroso. Uma leitura maravilhosa de uma das melhores obras que já vi. Com um tom dramático, Virginia Woolf narra em solilóquios a vida de 6 personagens principais, que amarram o leitor do início ao fim. Como dito na introdução, é um verdadeiro poemance(poema em forma de romance)
Vitoria.Sanches 27/08/2017minha estante
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Ricardo256 02/03/2021

Overdose de fluxo de consciência
Considerado um dos livros mais densos da Virginia Woolf, As Ondas conta as passagens de tempos de seis pessoas (3 homens e 3 mulheres) na forma de fluxo de consciência. O livro é dividido em 9 capítulos, sendo cada parte separada por um prelúdio que mostra no decorrer do livro a passagem do sol em um dia. O livro tem uma musicalidade muito linda, sem contar o jogo de palavras que Virginia utiliza. Este é um livro que vale muito a pena ler na língua materna, pois muita da construção do texto é perdida com a tradução. No entanto, a tradução da Lya Luft está maravilhosa.
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bobbie 30/05/2018

Virginia Woolf é... Virginia Woolf.
Bom, apesar de ser Doutor em Literatura Comparada, não tenho vergonha de confessar: Virginia Woolf é para poucos e eu não me incluo nesse número. É um nível de abstração muito exigente para meu cérebro que exige digestão na mesma velocidade com que funciona. Reconheço o valor da obra da autora: é uma pintura abstrata, um trabalho poético, um trançado de ideias em fluxo de consciência da mais alta capacidade. Apenas não é para mim. O que não significa que desistirei de seus livros.
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