Luke 25/01/2022
Desde o início dos anos 1990, a tendência literária de subvertar os paradigmas de heróis e protagonistas vem ganhando espaço. Se por um lado George R.R. Martin, autor da aclamada (e extensa) série das Crônicas de Gelo e Fogo, já introduzia o conceito de que um protagonista clássico que luta contra o mal e é aclamado como herói é tão conflitante como uma analogia que não faz sentido, por outro, Bernand Cornwell também ocupa uma posição de destaque ao desmitificar a história do clássico herói Artur.
Artur ou O-Rei-que-nunca-foi-rei é amplamente conhecido no imaginário popular e nas lendas das ilhas britânicas desde o século XI. Embora sua existência seja questionada ou mesmo sua inexistência seja mais aceita, a história do guerreiro bastardo que foi incubido do dever de proteger o futuro rei da Britânia e ainda defender o país do domínio saxão após a retirada dos romanos nas ilhas, atravessa séculos.
Sob o ponto de vista de um de seus homens, O Rei do Inverno, apresenta um Artur que foge do imaginário popular, assim como os demais personagens dessa conhecida história: um Merlin que apesar de sábio e amplamente conhecido e respeitado, possui um caráter nada convencional e atitudes questionáveis. Uma Nimue devota e vingativa ou então uma princesa Guinevere sagaz, grosseira e pouco respeitosa. Ainda assim, um primeiro-cavaleiro Lancelot, que não é exatamente um guerreiro exemplar, tido como covarde, imoral e nem um pouco honrado.
Contudo, a vida desses personagens passam a se entrelaçar conforme a guerra se desenrola e um grande conjunto de intrigas e conflitos se fortalece. Juramentos mantidos e juramentos quebrados, mentiras e traições a torto e a direito, a Britânia não passa de uma terra devastada pela violência, pela fome e a desunião de seus povos.
O Rei do Inverno mostra-se como o oposto do que poderia se esperar de um romance arturiano, mas ao mesmo templo contrapõe-se aos clichês e as situações banais que tanto são comuns, principalmente ao situar os diversos personagens mesmo involtos em suas próprias tramas, em único cenário cujos ideais tendem a se perder e todos estão sujeitos a cometer qualquer tipo de erro.