Fernando Lafaiete 05/11/2017O Rei do Inverno: O livro que me decepcionou por diversos motivos!
Bernard Cornwell é o autor que os meus amigos mais me indicavam. Todos afirmaram que as descrições dele eram fantásticas, que as cenas de batalhas eram épicas e sanguinárias e que os livros eram viciantes ao ponto de uma vez começada a leitura, abandoná-la seria algo impossível de se fazer.
Sabe qual é o problema deste tipo de indicação? - A criação de uma expectativa absurda que dificilmente um autor consegue suprir.
O Rei do Inverno é um livro bem realista, onde através da narrativa de Derfel Cadarn, vamos conhecendo a história de Artur, o famoso rei Artur, que na verdade nunca foi rei, somente o filho bastardo do rei Uther, que ao falecer, designa a proteção do verdadeiro herdeiro do trono à Artur.
A narrativa é em primeira pessoa e logo no início, Derfel (o narrador e protagonista) deixa claro que ele poderá fazer algumas alterações na história que está contando a princesa Igraine. Derfel foi membro fiel da cavalaria de Artur e por isso, mesmo diante de contestações, ele afirma que tudo relatado de fato ocorreu. Gostei de Derfel, mas tê-lo de maneira solitária como narrador me fez ter uma visão bem limitada de tudo que ocorria. Óbvio que diante da estruturação narrativa escolhida por Cornwell, isso faz total sentido; mas ainda assim, me incomodou bastante. Sou muito mais a favor da polivalência narrativa do que da monopolização narrativa. Algumas cenas de batalhas quando não sofriam um corte abrupto por parte do narrador, eram descritas de maneira bacana, mas não o suficiente para se tornarem completamente imersivas pra mim. Não me senti em nenhum momento junto com os personagens vivendo aqueles momentos tensos.
Fiquei durante as viradas de páginas, o tempo inteiro querendo saber o que ocorria nos outros reinos citados pelo autor. A limitação do narrador me irritou e fez com que parar de ler a qualquer momento passasse longe de ser algo difícil de se fazer.
Artur é um bom personagem, carismático, bom caráter e leal ao Príncipe herdeiro. Mas confesso que ele é bom demais e um pouco inativo. Queria um Artur mais presente, mais decidido e mais real. Tanta bondade fez com que ele se tornasse irreal até demais. Para uma trilogia denominada de "As Crônicas de Artur", apresentá-lo como coadjuvante foi mais uma coisa que me incomodou. Faz sentido? Sim, faz. Mas em vários momentos me senti cansado durante a leitura devido a limitação do narrador e a ausência do famoso e lendário "Rei Artur".
Agora vamos falar das personagens femininas... Que decepção!!
Temos neste livro as seguintes personagens:
Morgana, a irmã "feiticeira" e deformada de Artur. Ela é uma personagem mal aproveitada, nula, apagada que me foi tão mal apresentada que eu tive dificuldade de visualizá-la. Nimue, a "feiticeira amante" do mago Merlin, tem um início sem sentido, onde o autor me apresenta alguns diálogos e situações com a intenção de explicar o apego emocional que tal personagem tem com um determinado local. Mas foi uma introdução tão rápida que quando ela toma uma decisão crucial de permanecer neste local, não senti pena da personagem, apenas a vi como uma idiota. Guinevere, a princesa decadente que se torna a esposa de Artur é preconceituosa, fútil, manipuladora e mal caráter. Ou seja, é uma pessoa horrorosa. Ceinwyn, princesa de Powys é outra personagem apagada, que acreditei durante muito tempo que ela fosse muda, já que não abre a boca pra nada. Essa minha teoria cai por terra, quando quase no final ela fala meia dúzia de palavras. Outra "muda" do livro é Elaine, mãe de Lancelot, outra inútil. Norwenna, mãe do herdeiro do trono é burra, teimosa e grossa. Outra personagem difícil de se gostar. Ladwys, amante do rei Gundleus de Silúria, é uma coitada que só sofre e é estuprada. Igraine a princesa que escuta a narração de Derfel não fede e nem cheira. E Aillean, amante de Artur até é uma personagem interessante, mas é descartada e nem chega a ter a chance de crescer na história. Não existe nenhuma personagem feminina deste livro que tenha de fato me agradado. A Nimue cresce ao longo do desenvolvimento, mas não o suficiente pra eu considerá-la uma boa personagem. Segundo alguns leitores do autor, ele escreve para homens e não para mulheres. Independente pra quem ele escreva, tratar personagens femininas com negligência é algo que nunca irei aceitar, seja quem for o autor. E cenas de estupro deslocadas é outra coisa que me irrita. Algumas eu relevei por questões históricas... Mas outras me soaram forçadas e injustificáveis.
Lancelot, o famoso e leal membro da Távola redonda, é descrito por Bernard Cornwell como covarde, manipulador e mentiroso. Outra figura retratada de maneira negativa.
E o que achei do tão amado Mago Merlin?
Todo mundo me dizendo que o Merlin de Cornwell é o melhor Merlin de todos. Gostaria de saber em que sentido. Ele quase não aparece. Vive sumindo, aparece em momentos oportunos e some de novo. Não tive tempo de gostar ou de não gostar deste personagem. Ele é muito ausente e ainda não entendi o amor que sentem por ele. Espero passar a entender quando ler os próximos livros. (E sim... Continuarei lendo esta trilogia).
A magia do livro é inexistente e é uma arte de charlatões. Foi essa a impressão que eu fiquei deste aspecto da história. Não me agradou e apesar de ser algo que contribui para o realismo do livro, eu achei que isso so fez com que os druidas e as sacerdotisas parecessem um bando de loucos que afirmam falar com os deuses.
O livro tem bons momentos, trata de amizade, fidelidade, amor e a busca quase impossível pela paz. Mas embarquei na leitura esperando uma escrita mais bruta, mais sanguinária e uma narrariva mais ampla. Encontrei uma escrita simples, uma história tranquila e personagens femininas péssimas! O bom é que agora iniciarei a leitura dos próximos volumes sem esperar nada. Infelizmente, devido as minhas expectativas, sinto em dizer que O Rei do Inverno se tornou mais uma decepção do ano!