Bruno 02/06/2024
Uma (estressante) vida pequena
Esse livro seria uma leitura coletiva que - felizmente - não aconteceu. Ainda assim, por já estar na minha lista, decidi ir em frente, sozinho.
O começo foi um tanto arrastado e acabei abandonando a leitura por um tempo até retomá-la há algumas semanas.
Uma vida pequena é um livro denso, com uma história bastante pesada e, diria, de um sofrimento gráfico, palpável.
Quando, no começo, digo que felizmente não foi lido em conjunto, é por se tratar de um livro que não é fácil de ser absorvido e vai demandar um tempo diferente de cada leitor, além do emocional que vai contar bastante para saber separar ficção de vida real e não ficar limitando a literatura (esse é outro papo que não cabe aqui).
Enfim, pensei que gostaria mais do livro e me emocionaria mais, no entanto, achei bastante estressante. A escrita de Hanya, apesar de muito boa, não me prendeu em vários momentos. Soube que o tamanho do livro se dá por conta da dificuldade dos personagens se comunicarem o que faz com que eles circulem sempre nos mesmos pontos e demorem a avançar. Entendo essa proposta, mas, para mim, não funcionou. Não tenho problemas com capítulos grandes, mas eu cortaria muitas partes repetitivas que tornou a leitura (que já nos demanda um certo esforço emocional) desnecessariamente cansativa.
Alguns personagens tem um bom desenvolvimento, outros nem tanto. Não consegui me apegar a nenhum deles e nem olhar essa história com um olhar romântico. Pelo contrário, me irritei bastante com todos os personagens em algum ponto por trazer muito a história para a realidade e ver a inércia deles em alguns momentos foi agoniante. Nesse sentido, isso acaba sendo um ponto positivo para o livro porque, para o bem o para o mal, nos faz sentir, nos provoca a reflexão acerca desses comportamentos.
Alguns detalhes acabaram sendo bastante problemáticos e mal desenvolvidos pela autora e que, apesar de detalhes pequenos na história que, por vezes, passam rápido demais, são essenciais dos personagens e que podem calcar muitas ideias erradas nos leitores. Mereciam um tratamento mais cuidadoso.
Obviamente o livro tem seus méritos e cada experiência é única e vai atribuir maior ou menor força a ele, então não sinto que me caiba indica-lo ou não, uma vez que minhas considerações são baseadas puramente em gosto pessoal, na minha experiência com a história e nada técnica. Apenas sugiro que adentrem com cautela, cientes de que serão abordados temas sensíveis e que podem ser difíceis demais para algumas pessoas e, nesse caso, eu não recomendaria a leitura. E, sobretudo, sugiro uma leitura crítica. Esse livro não é daqueles que a gente se joga e segue o fluxo achando tudo lindo, emocionante, maravilhoso, deliciosamente triste, que deixa uma "tristeza boa"... Seja crítico e questione o narrador em suas colocações também, provoque-se reflexões porque também é possível gostar do livro mesmo discordando dele.