Lorrane Fortunato 12/05/2016
Resenha - Max / Dreams & Books
"Nasci no dia do aniversário do nosso Führer para ser o modelo da raça superior.
E mesmo sabendo que era um predestinado, não levou muito tempo para que minhas crenças começassem, lentamente, a desmoronar..."
O que dizer sobre esse livro?
É o que eu me pergunto há exatos 45 minutos.
Só consigo encarar, sem ver, a tela em branco do notebook, enquanto minha mente viaja e passam por meus olhos as imagens e situações descritas nesse livro.
E eu, logo eu, não chorei. Em nenhuma das passagens, mesmo as mais tristes. Quando ele acabou, eu não surtei, não berrei e nem fiquei abraçada com o livro curtindo minha tristeza. Eu apenas disse: "Que livro é esse?" e fiquei encarando o vazio por vários minutos, estática, sem nenhuma reação.
E até agora, eu estou assim. Sem reação, anestesiada. Não sinto nada e só consigo deixar minha mente dar voltas e voltas e imaginar mil e uma maneiras de as coisas terem sido diferentes.
Como superar esse livro? Como parar de pensar nesse livro e em seus acontecimentos? Como lidar com não ter mais Max e Lukas? Eu prometo que aviso se chegar a achar as respostas.
"As meninas, após se tornarem mulheres, são submetidas a lei dos três K: Kinder, Kuche, Kirche - filhos, cozinha, igreja."
Eu não costumo ler livros sobre guerra. Apesar de, quando estudava, meu tema favorito de história era guerras, eu não tenho costume de ler/assistir sobre guerras, por não ter muito estômago mesmo.
Foto por Dreams & Books.
Instagram @dreamsebooks
Mas, Max tem algo de diferente que acabou me encantando e me deixando curiosa pela leitura. Então, eu resolvi arriscar e que bom que fiz isso!
Max é um livro como poucos, e o Konrad/Max é um protagonista ímpar. Você vai gostar dele, vai odiá-lo, vai sentir pena, vai odiar novamente, depois amar e vai chegar uma hora que você nem sabe mais o que sentir.
Será que você pode odiá-lo? Será que é mesmo válido ter raiva de uma criança por seus atos, quando ela foi imposta a pensar/agir daquela forma?
Novamente eu me pergunto: o que dizer sobre esse livro?
"O estupro, imagino, é a guerra das mulheres. É só nesse momento que elas estão no fronte."
A escrita da Sarah é uma das mais incríveis que eu já tive a oportunidade de conhecer. E com certeza, é um dos pontos fortes desse livro, que é narrado por Max. Esse menino apesar de nazista, apesar de suas atitudes e pensamentos nazistas é uma das crianças literárias mais incríveis que eu já "conheci".
Max é encantador, inteligente, perspicaz, engraçado, irônico e, as vezes, mordaz. Ele mistura características boas e ruins e, mesmo que, num momento você sinta muito ódio dele, sempre consegue amá-lo, mesmo que seja só um pouco.
O livro é viciante, é algo como uma droga, após iniciar a leitura, você sente necessidade de pausar sua vida e só voltar a rotina após ler a última palavra.
Eu li página após página sem nem ao menos me dar conta. O livro chegou, eu fui dar uma olhada nele e, quando percebi, estava na página 200. Fui obrigada a parar por causa do horário, no dia seguinte, li as outras quase 200 que restavam e pronto. Ele terminou e eu me encontro assim agora.
"Concebido sem amor. Sem Deus. Sem lei. Sem nada além da força e da raiva. Morderei em vez de sugar. Berrarei em vez de balbuciar. Odiarei em vez de amar.
Heil Hitler!"
Max está lindo! É fácil ver o cuidado da editora com esse livro. As páginas são amareladas, as letras têm um tamanho perfeito e ele é dividido em quatro partes.
A capa que é a original é maravilhosa! Ela te atrai e te faz refletir sobre o conteúdo. A suástica no braço do bebê e a na lombada do livro são elementos que te dizem o que esperar, sem precisar de nenhuma palavra.
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Ah, falando sobre as suásticas, você pode se preparar para olhares tortos e curiosos caso leia esse livro na rua. Eu tenho o costume de carregar meus livros pra todos os lugares e levei muitas olhadas feias por causa da capa.
Uma pergunta que acabou sendo feita dezenas de vezes sem ser, de fato, foi: esse livro incentiva ou apoia o nazismo?
A resposta é não. Só olhar a inscrição na capa pra ter certeza que não apoia. Não se preocupe, Max não te faz mudar ou rever seus conceitos sobre determinado assunto. Ele fala abertamente sobre o nazismo, mas, expõe o quanto ele foi absurdo e irracional.
Algo muito interessante também, que precisa ser dito é a forma da autora descrever determinadas situações. Ela fala sobre acontecimentos tristes, mas, faz de uma forma que não te choca, não te deixa mal ou deprimido. Não é algo forte ou detalhado. Ela joga uma realidade na sua cara, mas, de uma maneira que acaba por não te ferir.
Concluo essa resenha recomendando Max! Não pense em razões para não ler Max, até por que, não há. Não pense que é ruim refletir sobre o passado ou relembrar barbaridades, não pense que livros sobre guerra nem são tão legais. Não pense em nada disso. Jogue toda e qualquer desculpa pra não ler esse livro fora.
Apenas leia Max! Você deve lê-lo!
É necessário conhecer mais a fundo os erros do passado, para que eles não se repitam no futuro. Não é o que dizem?
"Minha mãe é a Alemanha.
O meu pai, o Führer!"
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