Mari Siqueira 20/11/2015Genial, fantástico e absurdamente viciante, Todos Os Nossos Ontens é uma distopia que promete fazer os leitores pensarem sobre o futuro e a consequência de suas ações. Envolvendo ficção científica (das melhores) e muito romance, o livro de Cristin Terrill tem uma complexidade única, se dissecando os mais profundos desejos da humanidade, até mesmo aqueles que nos tornam menos humanos.
O enredo que Terrill nos apresenta é tão inteligente e bem construído quanto bem costurado. Cada ponta solta se conecta com uma ação que ocorreu ou vai ocorrer em outro tempo. Não há linearidade narrativa - são viagens temporais - portanto, nos primeiros capítulos, a trama pode parecer confusa, mas o tempo vai explicar tudo - literalmente.
O ser humano sempre controlou tudo o que o cercava - do meio-ambiente até as pessoas - e, agora, ele também pode controlar o tempo. Uma poderosa máquina que permite curvar o espaço-tempo foi criada para corrigir as coisas que deram errado no passado. No entanto, seu criador foi corrompido e passou a usá-la para o mal. Prever o futuro e alterar fatos podem influenciar acontecimentos, negócios, relações internacionais e ajudar, principalmente, a espionagem internacional.
Em um futuro nada distante do nosso, as tensões políticas e econômicas, a competição capitalista, as disputas religiosas e a desigualdade social são a realidade e a posse de um objeto tão poderoso quanto uma máquina do tempo faz dos Estados Unidos uma superpotência. Se algo dá errado, eles voltam no tempo e evitam, modificam. E assim, por um bem maior, todos são espionados, interrogados e vivem sob terror militar. As preocupações e medidas de segurança que vieram com a possibilidade de conhecer o futuro mantém os próprios cidadãos reféns e suas vidas são propriedade do governo. Não há segredos e se há, eles podem apagá-los.
Em e Marina vivem em tempos diferentes. Suas personalidades e vivências fizeram delas quem elas são, ou seja, o total oposto uma da outra. Em é uma guerreira, ela luta por um mundo mais justo, pelos direitos dos cidadãos e por sua própria vida, já Marina é uma garota fútil e inocente que se apaixona pelo seu melhor amigo e vê seu mundo virar de cabeça para baixo. Elas estão separadas pelo tempo - quatro anos de distância, mas unidas por um segredo bastante previsível, mas ainda assim estrategicamente óbvio. A autora não floreia a narrativa, ela é direta e clara, sem esconder o futuro de suas personagens.
Em tem uma missão: voltar no tempo e impedir o "Doutor" de construir a máquina do tempo, ela e o parceiro Finn já tentaram fazer isso outras vezes - dezenove no total - mas a máquina sempre acaba sendo construída, independentemente do que eles façam. Dessa vez só há um meio: eles têm de matar o Doutor. O problema é que nessa missão eles encontrarão um passado do qual eles preferiam não lembrar.
Toda a engenhosidade com que Cristin Terrill descreve as viagens, os paradoxos e as curvas no tempo é fascinante e, como fã - fã mesmo - de viagem no tempo, preciso afirmar que este é um dos melhores livros que já li na vida. Ciência, política e muitas teorias sobre relatividade fazem desta distopia uma crítica afiada à nossa sociedade ou ao que caminhamos para ser. A mistura perfeita entre romance e ficção científica garantiu definitivamente o meu coração e Finn, James, Marina e Em nunca serão esquecidos.
Na vida real, nós vivemos repetindo os mesmos erros de novo e de novo, portanto, Todos Os Nossos Ontens é uma espécie de máquina do tempo, em que vemos o futuro e os avanços científicos desenfreados e observamos as consequências das nossas ações. Como o Doutor, nós temos fé que um grande paradoxo possa consertar tudo e mudar o passado, mas nós somos corruptíveis e nossas crenças também são. Não existe - ainda - algo que possa desfazer o que já aconteceu, nada que possa realizar os 'e se...' que tanto nos incomodam ou que traga de volta alguém que já se foi, mas existe uma coisa que nem o tempo pode tirar de nós: esperança no futuro.
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