Delírios e Livros 07/12/2015
Querido Mathieu,
Querido Thomas,
Quando vocês eram pequenos, tive algumas vezes, nos Natais, a tentação de lhes dar um livro. Um Tintim, por exemplo. Poderíamos ter falado dele juntos. Conheço bem Tintim, li todos, várias vezes.
Nunca fiz isso, não valia a pena, vocês não sabiam ler. Vocês nunca saberiam ler. Até o fim, seus presentes de Natal seriam cubos ou carrinhos…
O livro é de certa forma aterrorizante, me peguei diversas vezes desejando que isso (ter filhos “especiais”) nunca acontecesse comigo. O autor e pai em questão, faz duras críticas ao seus filhos e a falta de sorte em tê-los. Tamanha é a sinceridade e sentimentos contidos nessas páginas que somos pegos desprevenidos com a realidade fria e cruel por trás daqueles que convivem com filhos deficientes de doenças mentais ou motoras.
Durante a leitura nos deparamos com frases do tipo: “com frequência, não conseguia suportá-los”, “era difícil amar vocês”. Mas também, depois de vermos o autor comparar os filhos ao E.T. e ter a fantasia de deixá-los dentro de uma jaula de tigres em uma visita ao zoológico isso nem nos espanta tanto assim. Mas Fournier se justifica “com vocês era preciso ter paciência de santo, e eu não sou santo”. Mas afinal, quem é?
A leitura é fácil, em textos curtos, mas expressa intensamente cada palavra descrita. É um “tapa na cara” do leitor.
É triste a realidade de se ter um filho deficiente, e mesmo tendo lido e entendido cada descrição irônica, tristeza contida, ou cada frustração de um pai que não verá seus filhos crescerem, terem um carreira na vida, casar, lhe dar netos, ou até mesmo o simples fato de saber que nunca os ouvirá perguntando como foi o seu dia, ou lhe desejando um feliz dia dos pais, mesmo tendo lido tudo isso, eu não sei de verdade o que se passa no coração de um pai como este. E apesar, de ter vivido com seus dois filhos, considerados como dois ‘fins do mundo’, ele não perdeu a ternura ao cuidar e ao dar amor a cada um deles.
Resenha de Priscilla Paiva
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