Flávia 25/10/2020Quase um livro didáticoEsta é uma história com muitos personagens e, diferente do que imaginei quando percebi isso, é um livro que faz o leitor conhecer cada um deles em várias camadas. Temos um elenco grande na família Vanger, funcionários da Millenium, familiares de Mikael e Lisbeth e todos eles tem problemas, ambições, tem grandes desafios, medos e fragilidades, sem que isso se justifique por alguma característica biológica, o que me chamou muito a atenção. Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander partilham suas qualidades físicas e intelectuais de forma muito natural e tornam evidente a dependência que possuem das habilidades, um do outro.
É difícil falar do livro sem fazer um grande resumo e expor parte do que imagino que seja vantajoso descobrir e entender no decorrer da leitura, mas acho interessante ressaltar alguns pontos: o primeiro é o do quanto é uma leitura que traz tanto sensações de náusea e repulsa, como de afeto e força (sensações também sentidas na adaptação, que ao meu ver, foi bem fiel).
Outro ponto é o de ser extremamente bem escrito e amarrado. O autor trafega entre conceitos feministas, estatísticas sobre violência contra a mulher na Suécia, aspectos nazistas, motivações da mídia e do mercado financeiro de forma leve, não deixando de lado uma investigação instigante. Além disso, detalhes que podem ser julgados como irrelevantes, com certeza serão trazidos em algum outro momento do livro e serão importantes em alguma situação.
Por último, como um detalhe que eu talvez mudaria, fica a distribuição das resoluções. Faltando cerca de 100 páginas para o fim do livro, apenas um problema ainda precisava ser resolvido. Para mim, esse final foi um pouco arrastado (porque o que eu queria saber realmente, eu já sabia) e acredito que essa resolução poderia ter sido encaixada de alguma forma entre as demais.
São mais de 500 páginas que contém cenas de estupro e muita violência contra a mulher, com rispidez e muita tristeza. Entretanto, nas mesmas 500 páginas também existe muita parceria, superação e muitas evidências de que a fragilidade feminina é uma imposição social que está longe de ser revertida. Lisbeth entrou para a minha lista de mulheres favoritas e os demais personagens do livro, sou muito feliz por te-los conhecido e por terem me ensinado tanto.