Aione 17/12/2012"Três Céus", como o próprio autor diz nos agradecimentos, é a fusão de duas paixões de Enderson Rafael: a literatura e a aviação, e isso está nítido em cada momento do livro.
Sua paixão pela literatura se faz perceber por sua escrita. A narrativa, em terceira pessoa, tende para o lado formal, entretanto não deixa de ser fluida em momento algum. Os diálogos, por outro lado, são representações do coloquialismo e, nem por isso, tornam-se artificiais. A mistura entre os dois diferentes tipos de linguagem poderia não dar certo, mas, aqui, coube perfeitamente ao caso – o que só acontece quando se tem certa familiaridade com as palavras e com a escrita.
A paixão pela aviação não se dá apenas por esse ser o cenário do enredo. Há diversas informações sobre o tema, muitas das quais eu não fazia ideia. Enderson procura explicá-las da melhor maneira possível ao leitor, frequentemente leigo, não apenas no glossário, ao final do livro, mas durante a própria história. Contudo, não é pela quantidade de informações sobre a aviação que fica clara sua paixão, mas sim pela defesa e pela admiração do autor pelas pessoas que dedicam suas vidas a esse ramo. Diversos mitos ou preconceitos são quebrados pelo fato de a história ser narrada pelo ponto de vista de três diferentes pessoas envolvidas com a aviação.
Enderson Rafael tem um tato para falar sobre pessoas, como diz o próprio comentário da Priscila Braga no verso do livro: “Três Céus pode ser para alguns um livro sobre aviação; para mim, é um livro sobre pessoas”. Por trás de cargos como Comissários, Copilotos ou Comandantes, ele apresenta ao leitor as pessoas que ocupam tais funções, bem como seus receios, anseios, sonhos, buscas e dificuldades – como ocorre com qualquer um de nós. Apesar de serem contadas as histórias desses três personagens, tive a sensação de que o autor poderia contar muitas outras além dessas, principalmente em uma das cenas finais, na qual, com apenas poucas linhas, são mostradas as visões de diferentes passageiros naquele momento. Passageiros que, mesmo sem terem um nome de conhecimento do leitor, têm uma vida.
O livro foi diferente do que eu esperava, mas, nem por isso, foi uma leitura ruim. Ao contrário, foi interessante, prazerosa e, principalmente, me envolveu. Senti que as personagens ficaram marcadas em mim, de alguma forma. Desde que finalizei a leitura, sempre que olho para os céus e vejo algum avião, não consigo não pensar em Três Céus e logo começo a imaginar todas as histórias possíveis dentro dele. Ainda, é inevitável não pensar em todo o trabalho para aquele avião estar ali, em toda a equipe e organização por trás daquela viagem.
O que posso dizer é que jamais enxergarei a aviação com os mesmos olhos. "Três Céus" me mostrou a real função de toda a equipe presente em cada voo e, mais do que isso, do quanto podem abrir mão de suas próprias vidas para darem o seu melhor para cada passageiro. Enderson, mais do que explicar cargos ou termos, apresentou vidas. Se antes eu já pretendia ler "Todas As Estrelas do Céu", primeiro romance publicado do autor, agora é uma necessidade.