O Irmão Alemão

O Irmão Alemão Chico Buarque




Resenhas - O Irmão Alemão


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Fabio Shiva 09/06/2021

Magnífico Chico!
Esse é um livro incrível por muitos motivos. O romance mistura autobiografia e ficção de forma extremamente original, partindo de um fato inusitado: a descoberta de um irmão alemão de Chico Buarque, filho de Sergio Buarque de Holanda, de quando ele, ainda solteiro, passou um período residindo na Alemanha. Na vida real, Chico ficou sabendo da existência do irmão alemão aos 22 anos, durante uma conversa com o poeta Manuel Bandeira, amigo da família, que em dado momento inadvertidamente perguntou por “aquele filho alemão de seu pai”. Muitos anos depois, graças ao trabalho de pesquisa do historiador João Klug e do museólogo Dieter Lange, Chico acabou travando contato com a existência de Sergio Günther, seu irmão alemão.

Essa história, por si só, poderia dar origem a uma narrativa muito interessante. Contudo “O Irmão Alemão” vai bem além da mera curiosidade biográfica ao mesclar fato e ficção de forma totalmente anárquica e irresistível. Chico inventa desbragadamente ao nos contar da busca incessante de seu alter ego Francisco de Hollander pelo irmão desconhecido na Alemanha, mas ao mesmo tempo mantém firmes e convincentes ancoramentos nos fatos históricos. Essa factualidade não se dá apenas quando Chico fala de sua família, mas especialmente ao se referir ao período da ditadura militar no Brasil, que aparece no livro como um horripilante contraponto ao período da ascensão do nazismo na Alemanha. E com essa mistura de invenção com verdade Chico consegue um feito notável: sua narrativa torna-se maior que a ficção, mais ampla que a própria realidade. A função artística do romance, que é retratar a vida como um todo, alcança em “O Irmão Alemão” um diapasão altíssimo.

Que ser é esse, que se intitula Chico Buarque de Hollanda? De que planeta veio? A ele não basta ser um dos compositores mais geniais e fecundos da Música Popular Brasileira, ainda quer se tornar um escritor pelo menos tão bom (se não melhor) que o músico? E nem isso é suficiente para o insaciável Chico: não é que a cada livro ele consegue se tornar ainda melhor que no livro anterior? Isso para não falar naqueles olhos lindos e naquele charme discreto que arrebatam legiões de fãs!

Se eu mesmo não tivesse tido a inesquecível experiência de assistir a um show de Chico no Canecão, seria difícil acreditar que tal magnífica criatura existe realmente, em carne e osso. Mas mesmo se não fosse por esse show, eu jamais iria crer, como acontece com tantos seres embotados e abobalhados hoje em dia, que Chico Buarque não passa da mais espetacular mentira da esquerda brasileira!

Pois que tanto talento, tanta verve, tanta erudição, tanta genialidade, tenham sido postos tantas vezes a serviço da conscientização do povo brasileiro a respeito das brutalidades da tirania e dos massacres cotidianos das injustiças sociais, é mais do que podem suportar os corações apequenados pelo fascismo. É por isso que tanta gente burra odeia Chico Buarque. Já há alguns anos percebi que um dos sinais infalíveis da boçalidade verde-amarela é o ódio babento e invejoso pela figura de Chico Buarque. Se o sujeito abrir a boca para falar mal de Chico, é batata: já sabemos em quem votou nas eleições de 2018. A inveja é mesmo uma merda...

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/06/o-irmao-alemao-chico-buarque.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Silvia Ferreira 09/06/2021minha estante
que resenha maravilhosa! me convenceu a ler o livro, obrigada!


Fabio Shiva 09/06/2021minha estante
Oi, Silvia! Valeu demais por seu comentário e por essa energia boa! Leia sim, depois comente o que achou, ok?


Marcelo.Alencar 22/09/2021minha estante
Fábio, tornastes a minha alegre fonte de novos livros para ler? para viajar.
Suas resenhas são demais! Parabéns!
Viva Chico! Será o meu primeiro!




Gugu 05/03/2022

O livro como livro é bem meh mas é muito maneiro saber como era a vida da família do chico e principalmente a relação do pai dele com os livros
Rafa 07/01/2023minha estante
Mas vale lembrar que mistura muito ficção e realidade, assim que não se pode tomar o livro como uma verdade




Natan Falconi 20/06/2023

Quem é vivo sempre aparece
O livro é bem interessante, uma mistura de autobiografia e ficção. O Chico Buarque joga várias fake news e várias coisas que realmente aconteceram na vida dele, e você fica lá tentando adivinhar o que é verdade, o que é mentira e o que faz parte da imaginação do narrador.

É muito massa acompanhar uma história que se passa na cidade de São Paulo. Conhecer as ruas que ele andava, os bares que ele frequentava, a relação dele com o pai, Sérgio Buarque de Holanda. Ele chega até a mencionar a USP, a FFLCH e a Freguesia do Ó, me senti representado.

Enfim, só não dei mais estrelas porque nessa de não saber o que é verdade, o que é mentira e o que é imaginação, acaba ficando confuso em algumas partes. Gostei mais de Budapeste porque é mais fechadinho. Mas ainda assim é um ótimo livro, vale a pena!

? | Citação: "Contudo, posso até conceber que ao se ver à beira do inferno, que em seus pesadelos talvez fosse uma eternidade sem livros, ou uma livraria infinita com livros em brasa, ele fraquejasse."
Jessqui 20/06/2023minha estante
Tá aí um livro que já comecei mas nunca fui além de 20 páginas pq ainda não superei Budapeste que virou uma referência




Wagner 06/01/2015

PERDA DE TUDO

(...) A vida não passa de uma longa perda de tudo o que amamos, disse Victor Hugo.(...)

In: BUARQUE,Chico. O irmão alemão. São Paulo: Comapanhia das Letras, 2014. PAG 178.
Erika 20/07/2015minha estante
Não supera o Leite Derramado ainda, mas o Chico é uma coisa. O cara brinca com a Lingua Portuguesa de uma forma que há anos não via. Ele joga o presente no futuro do pretérito e a narrativa passa a ser dubia. Coisa de gênio, narrar duas histórias numa só. Particularmente achei o "e se..." muito mais atraente.




KatiaMaba 29/04/2015

Eu Recomendo o romance brasileiro “O Irmão Alemão”
Em seu quinto romance Francisco de Hollanda apresenta temas de importante reflexão, oferecendo ao leitor a elaboração de um trabalho na primeira pessoa.
Hollanda associa passado e presente em fatos reais somente no universo da ficção, levando o leitor a um ambiente familiar que reserva entre cartas, livros e diálogos e a portas fechadas um assunto que ainda é tabu “filho bastardo”.
Outro tema importantíssimo abordado na obra “O Irmão Alemão” é o exercício da leitura no âmbito familiar, tema este constante do início ao fim da obra.
Eu conheço até o presente momento somente dois romances de Chico Buarque: Leite Derramado e O Irmão Alemão, material que oferece o melhor uso da palavra escrita por que proporciona a sensação de postergar ao máximo a conclusão da leitura, prolongando o prazer de ler de forma antropofágica.

site: http://katiareginamaba.blogspot.com/
lilly.angel.180 30/05/2015minha estante
Katia, Voce teria interesse de trocar ou vender o livro Dhea - A energia vital?
Estava tentando comprar esse livro mas a editora não publicou mais.




Camila 18/02/2015

esperava mais
Em O Irmão Alemão, Chico Buarque conta a história de Ciccio, professor de literatura (uma mistura dele mesmo e ficção, acredito) que descobre, entre os livros do pai, a existência de um irmão que nasceu na Alemanha quando lá esteve seu pai, antes de se casar com sua mãe.
Ciccio cria ilusões de como seria esse irmão, do que gostava, o que fazia, quais as características físicas teria herdado de seu pai; cria encontros e conversas imaginárias.
Na verdade, o personagem Francisco de Hollander vive mais em seu mundo idealizado do que na vida real. O que se vê nesse romance, é um vai e vem entre o que acontece e o que o Ciccio deseja que aconteça.
Romance de fácil leitura porém sem prender o leitor. Você vai lendo esperando pela ação, por algo que vai fazer você se prender ao livro, mas isso não chega.

site: http://blogeuleio.blogspot.com.br/
Carolina 07/03/2015minha estante
Camila, concordo com sua opinião. Você lê, lê, e parece que não leu...




rdallalba 17/11/2014

Não chega a ser fenomenal mas a leitura flui suave, dá pra ler em pouquíssimo tempo. Cansa um pouco da metade pra frente, mas ele acaba antes que se torne chato.
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Caio847 02/06/2024

Bom
É aquilo, a história é boa e cativante, a auto-ficção pode parecer confusa no início mas logo a gente se situa e claro né, é o Chico Buarque.
Porém, é aquela leitura que te entretém por aquele momento e não duvido que vá esquecer ela dentro de pouco tempo, tendo que fazer muito esforço para me lembrar de algo quando alguém for comentar comigo sobre. Resumindo, é uma leitura boa, mas não memorável.
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Cheiro de Livro 01/01/2015

O Irmão Alemão
Sou dessas fãs que gasta dinheiro como ídolo mesmo não levando muita fé no trabalho lançado. Como já escrevi aqui sou uma chicólatra, dessas que tem todos os discos e quase todos os livros (Roda Viva é uma raridade que ainda não cruzou meu caminho), logo quando li que Chico Buarque estava para lançar um novo livro comprei na pré-venda. “O Irmão Alemão” é uma ficção com toques de realidade e é um livro que penei um pouco para engrenar, não é o melhor do Chico.

O ponto de partida do livro é a historia real de um filho que o historiador Sergio Buarque de Holanda, pai de Chico, teve na Alemanha na década de 1930 e que seus filhos brasileiros nunca conheceram. O protagonista do romance chama-se Francisco Hollander ou Ciccio que descobre no meio de um livro uma carta de uma antiga namorada do pai falando sobre o filho alemão. Ciccio passa a fantasiar sobre o parente e se dedica a procurar Sergio Hollander, o irmão alemão. Tudo isso tem como pano de fundo a ditadura militar no Brasil e a Segunda Guerra na Alemanha.

O livro é todo em primeira pessoa, a narrativa acompanha o fluxo de pensamento de Ciccio, não se limita a contar a historia, delira sobre acontecimentos, antecipa cenários. O texto é escrito como esse fluxo de pensamento, são poucos os parágrafos, a narrativa é continua e passa de uma situação para a outra com rapidez e isso é o melhor e o pior do livro. O pior porque nem sempre essa estrutura funciona e, em alguns momentos, fica maçante e confuso. O melhor porque quando funciona, e funciona melhor no terço final do livro, torna a história envolvente e não se sente as páginas.

Meu livro preferido de Chico continua sendo “Budapeste”, “O Irmão Alemão” é melhor do que o livro anterior, “Leite Derramado”, mas isso não é dizer muito. Talvez eu espere demais de Chico Buarque, suas músicas tem poesia tão rebuscada que sempre me encantou e sua prosa nunca conseguiu chegar perto disso. Não sei dizer ao certo, sei que continuarei comprando seus livros, não posso evitar, e ouvindo sua música.

site: http://cheirodelivro.com
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@marcusvsco 04/01/2015

Interessante, mas não prende o leitor
"O Irmão Alemão" tem uma narrativa leve, no entanto, é um livro que dependendo do nível de vocabulário o leitor irá recorrer ao dicionário algumas vezes. A história da busca de Chico pelo seu irmão é interessante, e o fato de que essa história seja verídica (em partes), é um atrativo a mais. Porém, confesso que não me senti muito envolvido. O narrador divaga bastante e duas ou três linhas lidas com descuido te deixa perdido, sendo preciso voltar meia página para "se localizar". O livro tem 17 capítulos e a partir do capítulo 9 a história parece tomar um rumo definitivo, focando o tema principal. O final é muito pessoal. Confesso que demorei um pouco para absorver, mas visto as circunstâncias de ser uma ficção baseada numa história fragmentada e real, Chico Buarque soube dar um desfecho bastante curioso a trama. Um final para se adorar, não entender ou odiar.
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Charles 05/01/2015

O Irmão Alemão
As histórias do pai, a quem Chico tinha como ídolo, aparecem a todo tempo, como se o livro, mais do que servir para imaginar a trajetória do irmão, servisse também para o autor se conectar com seu passado,enfim mais uma bela obra de Chico e não poderia ser diferente.

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Aline-hime 11/01/2015

meu primeiro livro em 2015
Leia a resenha não BLOG --> http://migre.me/o4fla

"Não sei o quanto do contado no livro do Chico é verdade… mas definitivamente não consigo ver ele e o protagonista como sendo as mesmas pessoas…"

site: http://migre.me/o4fla
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Antonio 22/01/2015

O Irmão Alemão é bom ou ruim? É Chico.
Se você tem sinceramente a vontade de saber se o novo livro de Chico Buarque é bom ou ruim, desista. Há muito tempo, Chico Buarque ultrapassou essas categorias. Hoje, flutua acima do bem e do mal. Nessas alturas inalcançáveis, não há alma que possa dar uma avaliação precisa e justa.
Se um crítico apontar defeitos, é rabugice, uma tentativa de tirar uma lasquinha em benefício próprio. Se os críticos cobrem o livro de elogios, é subserviência à indústria editorial, ao ‘mito Chico’.
Como apontou o colunista Rodrigo de Almeida, de quatro romances escritos por ele, três ganharam o Jabuti. Houve até mudanças nas regras do prêmio para que pudesse ganhar o “livro do ano”. Teve gritaria, mas ficou por isso mesmo.
É como se a sociedade precisasse de um bem cultural que estivesse acima da crítica. Se você vai dar um presente a alguém, dê Chico. É como dar um canivete suíço, um relógio de ouro, um champanhe autêntico. Ninguém vai dizer que é ruim. Questões de gosto pessoal não entram nesse cálculo.
Mas o que há por trás dessa Unanimidade Nacional (como já dizia Nelson Rodrigues)? Livros que, para mim, são bem escritos, mas parecem ficar devendo alguma coisa, talvez personagens mais críveis e mais ‘relacionáveis’, talvez um pouco de autenticidade.
O Irmão Alemão tem fundo biográfico, pois Chico teve de fato um irmão na Alemanha, filho de Sérgio Buarque de Holanda — tive uma grande surpresa e me animei. Como assim, então as boas famílias também abandonavam seus filhos? Por outro lado, o tema escolhido poderia dar a autenticidade que faltava a esses livros...
Dou 3 ou 4 estrelas. Como previsto, o livro é bem escrito, ágil, criativo, mas a autenticidade (dito de outra forma, a ‘verdade’ que esperamos por trás da obra) ainda não está lá. É claro que Chico não vai escrever um livro ruim. Os procedimentos literários estão sob seu domínio. Ainda assim, alguma coisa falta.
Se o livro tivesse um título justo, seria “A Arte da Suposição”. É que o narrador descobre que tem um irmão alemão, e começa a fazer intermináveis suposições sobre o que teria acontecido. Assim, consegue ser divertido, anárquico, dramático, farsesco, dando asas à imaginação, sempre de uma forma criativa. Isso nos envolve. Por outro lado, as verdades que poderiam estar por trás desse irmão abandonado são postergadas, pois, provavelmente, não combinariam com esse tipo de escrita irreverente.
O verdadeiro irmão que salta das páginas não é o alemão, mas Mimmo, irmão mais velho do narrador, mais bonito, mais alto, mais tudo:

"Os cabelos italianos, que meu irmão deu para usar em longos cachos, na minha cabeça viraram lã de arame. E talvez por um direito de progenitura ele ficou com as cores maternas, os olhos esverdeados e a tez cor-de-rosa, relegando-me a pele rude do meu pai, além do prognatismo, olhos cinzentos e óculos. (...) Sem contar o que não estava em jogo, o seu metro e oitenta e os meus vinte centímetros a menos".

Temos que admitir, o cabelo do Chico Buarque é feio pra chuchu!

É à sombra desse irmão que a narrativa se desenvolve. Não sendo o preferido do pai, a busca pelo ‘irmão alemão’ é uma tentativa de reconciliação consigo mesmo, como se o narrador (Ciccio, ou Francisco) pudesse encontrar um igual que também foi rejeitado, e os dois pudessem se unir — uma compensação pelo espaço secundário ocupado na casa paterna.

De fato, esse irmão, Mimmo, é o grande personagem do livro, o melhor. A mãe, apenas uma italiana típica e caricata, ainda que crível. O pai, uma esfinge mergulhada em livros. O narrador, inseguro, como se ainda não tivesse uma identidade. Sobra o irmão, que consegue nos surpreender e envolver... Aliás, me espanta que nenhuma crítica tenha apontado essa contraposição entre o irmão real e o idealizado, num jogo de espelhos.

E o que aconteceu com o ‘verdadeiro’ irmão alemão? O melhor é ler o livro para saber. Mas sendo uma sombra, uma figura apenas imaginada, talvez essa não seja a melhor pergunta a fazer. Se quiser ler a crítica de alguém que vai contra a corrente, a crítica dura e exigente de Alcir Pécora. Mas a verdade, para mim, fica no meio termo. É mais para bom do que para ruim, mas também não chegou lá.


site: www.blogselivros.com.br
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JoaoPedroRoriz 23/01/2015

CHICO BUARQUE SOBREVIVE DE SEU MITO E ESCREVE LIVRO “SEM PULMÃO”.
Por João Pedro Roriz.

Chico Buarque é um ídolo de várias gerações. Como compositor, é quase uma unanimidade. Seus insucessos na música são tão raros que se tornaram hits. A "voz chinfrin" do Chico, tão criticada no passado, com o tempo se tornou aprazível e sedutora. Nos quedamos paralisados por sua desenvoltura, pelas obras de caráter social e político e pela facilidade com que discorre sobre os anseios femininos.

O que seria da MPB sem Chico Buarque? Mas na literatura, o gênio tem decepcionado. E muito! Seus livros são sucesso, mas graças ao mito de seu autor. Apesar de ser muito respeitado como dramaturgo, o autor de Gota d'água, Morte e Vida Severina, Opera de Malandro e Saltimbancos tem falhado como romancista.

Budapeste marcou a carreira de Chico, pois apresentou uma curva de amadurecimento literário. Aquele exercício textual ganhou admiradores no mundo todo e recebeu elogios de Saramago - criador do estilo literário no qual Chico se inspira para escrever seus livros com parágrafos longos e com diálogos sem travessão implícitos na própria narrativa. Chico escolheu bem o seu mestre, mas agora parece estacionado na categoria de aprendiz. Sempre muito sincero, já tinha causado estranheza no público ao declarar na FLIP seu descontentamento com a arte literária: "escrever é muito chato". Até aqui, tudo bem. O ofício do escritor não pode ser confortável demais. Mas a prova concreta da burocratização da arte literária de Chico veio através de Leite Derramado, lançado pela Cia das Letras. A obra foi um sucesso de vendas e recebeu o Jabuti. Mas o grande público, aquele que ama Chico – mas que não pertence ás altas classes intelectuais – sentiu a diferença em relação a Budapeste e em relação à sua forma de se comunicar com as pessoas. Chico parecia onipotente, onipresente, confabulando com a mesquinharia literária de grandes autores de outrora que parecem querer sobrepujar o próprio ego em detrimento das novas linguagens e do prazer universal e pleno de quem lê. A obra foi aclamada, é lógico, pois foi escrita em metáforas, projetada para ser uma obra de arte que alcançaria apenas os que se desdobram em lágrimas e sangue para ler um livro. Atrás de tamanho sucesso, a elite literária que tal qual os puxa-sacos do rei não podiam dizer ao monarca que ele estava sem roupa, nu em pelo.

Em O Irmão Alemão, infelizmente Chico parece jogar futebol. Ele está no Politeama, desclassificado para as quartas de final e apenas jogando para cumprir tabela. A obra cumpre bem o papel de existir e persistir para cumprir o irritante contrato com o editor. É possível descobrir na auto-biografia torta de Chico o motivo disso tudo acontecer: A gente esquece, mas Chico é (e sempre será) um menino mimado. Ele se convenceu – e parece querer nos convencer – de que não há limites para ser menino em uma terra paternal de tantas oportunidades. Ele fala com orgulho dos carros arrombados na juventude, de seu papel de comedor de mulheres, da educação liberal recebida pelos pais internacionalmente conhecidos. Evidentemente não podemos acreditar em tudo que o malandro diz neste livro. Existe um quê de romantismo até no ato de roubar carros, seduzir mulheres e ser um espinho no pé dos governantes quando se trata de um filho da meritocracia. É fácil ser comunista quando se nasce em berço de ouro. Não há impeditivos para a genialidade de Chico, é verdade, mas também não há contestações para ela. Esse "O Irmão Alemão" é a prova concreta de que o filho do seu Sérgio Buarque de Holanda está no poder, junto com os líderes do partido criado por sua mãe, o PT. O que ele produzir será um sucesso e eu estou louco de ansiedade para saber como é que o próprio Chico tão sedutor e genial lida com esse vexaminoso e estranho sucesso de seus romances.

O Irmão Alemão, de Chico Buarque, lançado pela Cia das Letras, engaja dois estilos em uma só obra. Trata-se de uma ficção de sua própria realidade - algo que o blindará contra acusações ou mesmo desconfianças. O realismo fantástico de Chico empolga nos momentos de intimidade. É muito bom conhecer esse falso Chico em sua casa, ao lado dos Hollander. O dia-a-dia de seu pai, o grande Sérgio Buarque e suas manias intelectuais nos afrontam e ao mesmo tempo nos seduz. O livro possui harmonia no começa da prosa e um ritmo gostoso que não se apoiam no mito buarquiano . Chico se apega aos jargões de sua música e canta uma cidade, um Estado e um penar com elegância. O conflito prende atenção até a metade da obra, quando começa a perder fôlego. A história gira em torno do filho alemão de Sérgio Buarque que o jovem Francisco descobre ao folhear um dos livros na famosa biblioteca de sua casa. Até esse momento, o livro é um parque de diversões. Mas Chico puxa o tapete do leitor e, a partir do quinto capítulo transforma a saga folclórica em um ritual imaginativo com solilóquios sem fim. A obra se torna chata, pesada, enclausurada em uma prisão de possibilidades que mais parece um rascunho de boa vontade do próprio autor em levar o bendito romance até o fim.

Eu sei, pois segui a mesma trilha que o autor e também perdi o pulmão. Fui até lá nos confins da falta de paciência de Chico para entender o que se passava por sua cabeça. Agora entendi que tinha muita gente aflita por essa obra e Chico, como um bom malandro, mandou "colocar água no feijão". Sempre idolatrei Chico e agora estou frustrado. É o que se diz de um mito: ele deve ser apenas admirado, nunca investigado.

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Todos os direitos do texto acima estão reservados ao seu autor


site: www.joaopedrororiz.com.br
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