Aione 03/01/2015Desde que assisti a Desejo e Reparação, anseio por ler Reparação, de Ian McEwan, obra que originou o filme. Embora ainda não tenha tido a oportunidade de fazer essa leitura, acabei me deparando com A Balada de Adam Henry, mais novo romance do autor, e não pensei duas vezes em solicitá-lo.
Apesar de ter poucas páginas, o livro é extremamente denso em seu conteúdo. Com uma escrita direta e rápida, o autor consegue muito bem descrever cenários e situações, bem como revelar os mais íntimos anseios e pensamentos de suas personagens. No caso, em terceira pessoa, temos a visão de Fiona, juíza do Tribunal Superior que vive uma crise em seu casamento.
A primeira característica a me chamar completamente a atenção na obra foi a facilidade com que Ian McEwan transita por diferentes intervalos de tempo sem perder o foco, atrelando passado e presente, e, acima de tudo, a vida profissional de Fiona com sua vida pessoal. Não há uma distinção entre a juíza e a mulher – embora o sucesso da primeira seja contraposto ao fracasso vivido em seu relacionamento -, temos Fiona e todas as facetas de sua vida conectadas umas às outras, tornando possível estabelecer relações de causas e consequências nas situações por ela vividas.
“Ela tinha o poder de afastar uma criança de um pai insensível, e às vezes o fazia. Mas afastar a si mesma de um marido insensível? Quando se sentia frágil e solitária? Onde estava o juiz que iria protegê-la?”
página 14
Depois, é completamente notável a maestria do autor em debater assuntos polêmicos, fazendo um paralelo entre as convicções religiosas e o racionalismo. Com argumentações formidáveis de ambos os lados, traz a questão do jovem Adam Henry, acometido por leucemia e que se recusa a aceitar uma transfusão sanguínea por essa ser contrária as suas crenças e as de sua família. Assim, acompanhamos, durante parte da história, o debate no tribunal até o veredito de Fiona, capaz de gerar acontecimentos na história além do esperado.
Terminei a leitura fascinada pela escrita do autor e por sua capacidade de debater questões morais, de demonstrar diferentes opiniões e valores, de expor sentimentos conflituosos e, sobretudo, de humanizar suas personagens. Se antes eu já ansiava por conhecer outras obras do autor, após A Balada de Adam Henry, fazê-lo se tornou praticamente um dever a ser cumprido.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2014/12/30/resenha-a-balada-de-adam-henry-ian-mcewan/