MiCandeloro 02/03/2015
Hilário e revelador!
Mary Maguire era uma jovem irlandesa que tinha cinco irmãs e uma mãe completamente durona e meio maluca que vivia chamando-a de girafa e molenga inútil. O curioso é que ela via a conduta de sua mãe com bons olhos e achava que esta era a forma que a vovó Maguire tinha de expressar o seu amor por ela.
Mary começou a trabalhar numa repartição pública quando jovem adulta e, casualmente, conheceu Jack Walsh no trajeto de ônibus que fazia todos os dias. Quando Jack a pediu em casamento, não pensou duas vezes antes de dizer sim. Como dizia sua mãe, era uma chance que ela não podia desperdiçar porque podia ser a única.
Jack e Mary eram um casal perfeito. Ele era muito tranquilo de se lidar e ela gostava de sua função de esposa e dona de casa, apesar de, no fundo, sentir falta de algo a mais. Ao se tornar mãe, se entregou ao mundo da maternidade, só nunca pôde imaginar o quanto ter cinco filhas mulheres, completamente instáveis e malucas, podiam levá-la ao limite da sanidade mental.
Como será que Mamãe Walsh lidou com os problemas de sua família ao longo da vida sem entrar em depressão ou fugir para as colinas?
Querem saber o que aconteceu? Então leiam!
***
Vocês precisam saber, eu sou completamente fã da família Walsh e dos livros escritos por Marian Keyes. Até então, vocês nunca viram uma resenha deles por aqui no Blog porque eu os li há anos, antes mesmo de ter o meu cantinho. De todos, só falta eu ler Chá de Sumiço, que já tenho em minha coleção, mas desde que soube do lançamento desse "pequeno dicionário", decidi passá-lo na frente porque fiquei muito curiosa para saber todas as fofocas que a Mamãe Walsh tinha para nos contar.
O livro é narrado em primeira pessoa, por Mary, e escrito no formato de um dicionário. Para cada letra do alfabeto, Mamãe Walsh escolhe alguma palavra e disserta sobre ela, geralmente nos contando sobre o quê ela está relacionada.
Não pensem que por ser contado de uma maneira diferente o livro é chato. Não, de maneira nenhuma. Além da escrita da Marian ser deliciosa, informal e intimista, Mary é uma personagem ímpar, que nos deleita com conselhos, divagações, pensamentos íntimos e revelações de segredos sobre essa família que tantos amam.
"Não sei como aconteceu nem quando foi, mas uma vez eu ouvi uma frase dita por Eleanor Roosevelt, uma mulher sobre a qual eu sei pouca coisa, praticamente nada, a não ser que usava roupas diferentes com ar de desespero. Ela disse: “A felicidade não é um objetivo, e sim um produto secundário.”Eu “saquei” o que ela quis dizer. O que tentava transmitir é que devemos ir em frente com as nossas coisas e rotinas, fazendo o melhor possível a cada momento, ajudando as pessoas, descobrindo prazer e contentamento onde conseguimos encontrá-los e — para mim, isso é o mais importante — sentindo alegria em vivenciar tudo isso. Se assumirmos que “a vida é um vale de lágrimas”, quando alguma coisa boa acontecer — quando ganharmos uma caixa de chocolates Thorntons, encontrarmos um cardigã pela metade do preço, assistirmos a um capítulo duplo de Fair City na tevê —, poderemos saborear o momento e nos sentir gratos."
Se vocês não leram nenhum livro da série da família Walsh, cuidem, porque vocês podem pegar spoilers nesse livro, já que Mary nos conta tanto sobre coisas que já vimos nas outras obras, quanto sobre coisas que nem fazíamos ideia que aconteceram. Então, este dicionário meio que complementa os demais volumes e nos dá uma visão estendida sobre cada uma das irmãs Walsh.
Mas Mary não se limita a contar sobre elas, ou sobre os vizinhos. Ela também fala muito sobre si e, finalmente, conhecemos quem a Mamãe Walsh realmente é e entendemos o seu lado da história. Achei legal ver que existe uma pessoa com defeitos e qualidade por trás da posição de matriarca suprema da família.
Mary é uma mulher que possui muitas frustrações e desejos não realizados na vida por conta da maternidade. No livro, descobrimos como foi a sua trajetória e a dificuldade que ela teve de criar suas cinco filhas que parecem não entendê-la e não valorizá-la como gostaria.
Mamãe Walsh é uma personagem fantástica e um tanto quanto controversa. Divertida e sarcástica, parece uma daquelas típicas velhas fofoqueiras que adoram bisbilhotar na vida dos outros e possuem uma língua bem ferina. Por mais mandona ou politicamente incorreta que seja, também tem um coração grande e é impossível não amá-la.
"Sei que não é elegante usar a palavra que começa com V. (Essa confusão com palavras que podem e que não podem é uma coisa que me deixa tão enrolada que eu não consigo acompanhar. Agora não se pode mais usar a famosa palavra com V, mesmo que seja para descrever algo tão esquisito e inquietante. E também não se pode usar a palavra perfeita para o pobre diabo que “não bate bem da cabeça”. Não se pode mais usar palavra alguma, em nenhum momento, nunca, sobre nada. Eu me recordo do tempo em que, na minha língua, “gay” era uma palavra que transmitia alegria, era saltitante e exuberante, mas agora adquiriu “conotações” completamente diferentes."
Para quem já é fã da série, certamente vai adorar Mamãe Walsh. Eu ri demais enquanto lia e também aprendi muitas coisas novas com ela, acreditem! Embarquem nessa leitura rápida e desopilante e torçam para nunca virarem objetos de análise dessa mulher tão cheia de ideias.. hehe.
site: http://www.recantodami.com/