Viane 16/07/2023
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Comecei a ler esse livro sem muitas expectativas, até porque já estava saindo de uma ressaca literária daquelas e só queria alguma leitura básica pra me distrair. Mas Coração de Tinta acabou me surpreendendo e virando uma das minhas histórias favoritas. Cornelia Funke tem uma sensibilidade impressionante para desenvolver personagens tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão carismáticos. Fui conquistada primeiramente por Meggie e por Mo, mas logo tia Elinor se tornou a minha personagem favorita, então acabei me apaixonando por Dedo Empoeirado e me intrigando profundamente com Basta. O que me surpreende é a complexidade de cada uma dessas pessoas: Elinor com seus livros e sua solidão transparente, pela qual a tia só percebeu depois que resolveu botar o pé para fora de casa; Dedo Empoeirado, enrabichado pra voltar para casa, cheio de enigmas e uma máscara de deboche que, assim como Elinor, usa para disfarçar a tristeza, sem falar no:
?[...] E ele a expulsara de seu coração, como sempre fazia quando alguém queria se acomodar ali de forma duradoura.?
Além de Basta e suas superstições, que foi uma característica chave para diferenciá-lo de todos os outros homens de Capricórnio, pois ela nos leva também ao fato de que Basta é sim, lá no fundo, inseguro, emocional e um pouco medroso.
Algumas partes me deram medo. Isso porque pela proposta, linguagem, história e toques de contos de fadas, eu achava que era um livro leve. Que os vilões eram malvados, mas praticamente tão inofensivos quanto eram dentro de seus próprios contos. Mas essa visão, em algumas partes do livro, é abruptamente corrompida, pois surgia bem do nada um simples comentário ou a citação de algum acontecimento estranhamente forte e mais profundo do que deveria, e nesses momentos eu ficava bem chocada.
Não consigo nem expressar o quão esse livro é lindo. A beleza eu encontrei nas paisagens escritas pela Funke, na delicadeza em que ela descrevia os sentimentos e pensamentos dos personagens, principalmente de Meggie. Na habilidade de não deixar nada escapar, sendo cuidadosa até nos mínimos detalhes (Como num dos últimos capítulos, Sombra, em que ficou perceptível a genialidade de Fenoglio ao escrever aquele final).
Eu amei o final!!!!
Claro que ficaram alguns assuntos para tratar depois, quero bastante ler a continuação.