Eri Guimarães 22/08/2014
O Inicio de Uma Grande Jornada
Bonjour Anges!!
Hoje na Pilha do Anjo eu trago um livro bem especial, afinal é raro ver um livro estrangeiro tendo como um dos cenários principais o nosso país. Lançado na 23º Bienal Internacional do Livro de São Paulo, As Sete Irmãs é o primeiro de uma serie de sete livros.
No dia 16 de agosto a nossa parceira Novo Conceito e a Livraria Cultura realizaram um encontro inédito e exclusivo com a autora, Lucinda Riley, o primeiro evento sobre As Sete Irmãs. Então, o evento foi apresentado na internet como hangout e várias perguntas tanto dessa série como sobre os outros livros da autora foram respondidas.
Lucinda mostrou que apesar de ser irlandesa de nascimento é brasileira de coração e esbanjou simpatia, deixando o bate-papo com um clima leve e divertido. Sua espontaneidade e carisma conquistando 100% de cada um que estava presente. E assim a expectativa de ver os brasileiros através dos olhos dela em seus livros fez com que eu pulasse varias leituras já programadas e pegasse o livro.
Logo de cara somos atraídos por um personagem muito misterioso: Pa Salt. Um senhor já de idade, que vive em castelo esplendoroso e isolado onde só se tem acesso através do Lago Léman, na Suíça. Atlantis é um lugar dos sonhos e realmente a história que se passa ali poderia muito bem ser um conto de fadas.
Pa Salt adotou seis meninas, vindas dos quatro cantos do mundo, trazidas enquanto ainda eram bebês e, as batizou com o nome das Sete Irmãs, sua constelação favorita no famoso cinturão de Órion.
Como sempre, numa família grande, todas receberam rótulos com suas características mais especiais. Então, por ordem de idade temos: Maia, a beldade; Ally (Alcyone), a líder; Star (Asterope), a pacificadora; CeCe (Celeano), a pragmática; Tiggy (Taygete), a diligente; e Electra, a bola de fogo. Como podem ver está faltando a sétima irmã, Merope, mas essa até então, não foi encontrada por Pa Salt.
Pa Salt sofreu um ataque cardíaco e veio a falecer. Antes que suas filhas pudessem chegar até o castelo e fazer todo o ritual do funeral, ele foi sepultado no mar, como tinha ordenado, impedindo-as de se despedir da maneira convencional.
Com as seis irmãs reunidas, coisa rara nos últimos tempos, o advogado da família pode então entregar uma carta deixada por Pat Salta a cada uma das irmãs e também mostrou a elas que em seu lugar favorito de todo o castelo ele deixou uma esfera armilar (que aparece na capa do livro), onde deixou uma frase com sete palavras em grego para cada uma das filhas e coordenadas de navegação, mostrando o lugar de origem delas.
Então, essa é a história de Maia. A primeira das irmãs a ser adotada. Que conviveu por três anos sendo única na vida do bilionário excêntrico. E a única irmã que não deixou o ninho, vivendo no castelo como a se esconder do mundo. Algo aconteceu e fez com que essa bela mulher se escondesse atrás de seu trabalho como tradutora de português e russo por quase 14 anos.
A frase que Maia recebeu de seu pai foi: Nunca deixe o medo decidir seu destino. E além da carta, Maia recebeu um pequeno ladrilho de pedra sabão com uma inscrição em português datado de 1929. Ao verificar suas coordenadas, Maia descobriu que sua origem estava no Rio de Janeiro.
Mas, mesmo com todas as informações, Maia estava disposta se dar mais um tempo antes de pensar em fazer qualquer coisa. Não apenas o choque do luto, mas o medo de abrir as asas a fariam se esconder no ninho mais uma vez. Então, o destino teve que dar seu empurrãozinho, e quando o passado do qual Maia tanto quis se esconder resolveu bater a sua porta, ela finalmente criou coragem e embarcou atrás de suas origens.
Ao chegar ao Brasil, Maia acaba por conhecer pessoalmente o historiador renomado e escritor Floriano Quintelas, com quem já tinha trabalhado ao traduzir seus livros do português para o francês. E com a ajuda dele ela começa a desvendar a verdadeira história sobre sua origem.
Nessa investigação somos transportados ao Rio de Janeiro de 1927, através de cartas que Maia acaba recebendo e com isso conhecemos Izabela Rosa Bonifácio, filha de Carla e Antônio, descendente de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café ao redor de São Paulo. Ela uma moça de espirito livre e com a teimosia do mediterrâneo, cresceu no campo e não é dada ao requinte aristocrático.
Porém, Antônio, é um homem que não se conforma com sua origem italiana humilde, e faz de tudo para ganhar reconhecimento da burguesia portuguesa. E para isso conta com um bom casamento arranjado para Izabela.
E o melhor partido encontrado é Gustavo Aires Cabral, um rapaz de origem portuguesa nobre, mas com o financeiro abalado. A nobreza de linhagem de Gustavo e a riqueza de Izabela formou o casamento perfeito aos olhos de ambas as famílias e com isso o destino da bela jovem de espirito livre foi selado.
Mas, antes que esse casamento pudesse acontecer, com a ajuda do noivo, Izabela convenceu seu pai a deixa-la acompanhar a família Da Silva Costa em uma viagem à Europa. Heitor da Silva e Costa, pai de Maria Elisa melhor amiga de Izabela era o responsável pela construção do Cristo Redentor e, sua família o acompanharia enquanto ele procurava o melhor escultor para esse trabalho.
E foi em Paris que Izabela conheceu o jovem escultor Laurent Brouilly. Esse encontro despertou nela os sentimentos que ela já esperava nunca experimentar. A jovem se viu apaixonada não só pela beleza do jovem, mas por sua maneira livre de ver a vida, por seu talento como artista.
O amor entre os dois nasceu de forma contida, silenciosa. Mas era evidente que era algo profundo, e não fogo de palha. E isso colocou Izabela na terrível situação de ter que escolher entre voltar ao Brasil e cumprir com seus compromissos como noiva de Gustavo ou decepcionar sua família e ser livre para viver um amor incondicional, porem conhecendo as dificuldades de uma vida sem o conforto que o dinheiro pode proporcionar.
Nessa parte da trama dois personagens se destacam. Heitor e Margarida. A alma de artistas deles faz com que Izabela se identifique e desabrocha sutilmente o lado artístico dela. E a amizade que nasce entre as duas mulheres por conta disso é interessante e se acompanhar.
Mais uma vez Lucinda Riley mostra que tem o dom de contar a história. A forma como o passado e o presente se entrelaçam, sem deixar ponta sem nó, criando um futuro surpreendente é incrível. A forma como cada coisinha se encaixa conforme a narrativa avança é simplesmente de tirar o folego.
A narrativa da autora tem o poder incrível de invocar imagens, a imaginação voa como se ao invés de ler estivéssemos vendo um filme. Apesar de ser um livro grande e denso, como é de se esperar dessa autora, o texto tem uma simplicidade que faz com que a leitura seja rápida.
A autora aborda temas bem interessantes. Pra começar, a adoção de crianças. Será que a origem biológica é importante para definir quem realmente somos? Será que apenas a carga que recebemos de quem nos cria é a que conta? Durante todo o livro temos Maia tentando descobrir um passado que ela não teria tido vontade de conhecer se não fosse um empurrãozinho de seu pai adotivo.
A parte de pesquisa da história brasileira foi minuciosa e incrível. Posso falar por mim, muitas vezes negligenciei essa parte da história para estudar a europeia e asiática. Mas Lucinda veio despertar o interesse, mostrando que o Brasil tem muito que contar com sua história e com seus erros e se todos prestassem um pouquinho de atenção esses mesmos erros poderiam ser evitados e um futuro melhor despontaria para todos nós.
A forma como Lucinda mostra para o mundo que aqui no Brasil não há somente mato, macacos e prostitutas enche o peito de orgulho de ser brasileiro. Ver nosso carisma, nosso calor pelos olhos de alguém de fora ressalta nossa força. Lucinda consegue transmitir que apesar de todos os motivos para sermos pessoas infelizes e amarguradas somos totalmente o oposto, somos alegres, hospitaleiros e guerreiros.
Não posso deixar citar que há algumas semelhanças entre esse livro e a Garota do Penhasco. Lucinda usou os mesmos artifícios como as cartas, os escultores e artistas e outras coisinhas. Mas, mesmo com as semelhanças, cada livro dessa mulher simplesmente é único e lindo à sua maneira.
Maia é, com toda a certeza, a pessoa mais fascinante de todo o livro. Facilmente comparada a um botão de flor que a cada descoberta sobre si mesma se abre, mostrando ao mundo toda a beleza contida em seu interior. E esse desabrochar traz em sua entrelinha o quanto nós não podemos nos isolar e nos aprisionar a sentimentos que pouco a pouco corrói a alma. Perdoar a si mesmo é o primeiro passo para se encontrar a verdadeira felicidade em vida.
Floriano é um personagem pelo qual muito me apeguei. Seu jeito prestativo, gentil o faz um verdadeiro gentleman. Sua empolgação pela história de Maia e o que ela revela sobre a história da construção do Cristo Redentor é contagiante. Mesmo assim ele não tem tanto destaque quanto achei que poderia ter. Ele foi muito passivo, apesar de suas palavras por muitas vezes serem o estopim para que as coisas viessem a acontecer.
As Sete Irmãs é um livro profundo, uma história bela de amor. Mais uma vez Lucinda Riley deixa sua mensagem sobre como as escolhas sempre deixam uma consequência e que basta nós mesmos para escolhermos viver e ser felizes.
E com o final da leitura bate a ansiedade pelo segundo, onde conheceremos a história de Ally que já começa com um mistério. Quem é o dono das saudades dela e o que a impulsionará a conhecer seu próprio mistério. Essa série promete ser grandiosa. Super recomendo!