MiCandeloro 12/09/2014
Arrebatador!
Alguém aqui já parou para pensar na veracidade das maldições? E se elas realmente existissem? E se fossem mais comuns do que a gente pode imaginar? E se você, que está com bloqueio criativo, não consegue nunca terminar seu livro ou sua obra de arte, estiver amaldiçoado? Ou então, aquele que tem dificuldades de se concentrar, e esquece facilmente do que estava pensando, estiver amaldiçoado? Sabem aquelas pessoas que nunca conseguem achar um táxi disponível na rua? E se elas estiverem amaldiçoadas?
De acordo com Millie, existem os mais diversos tipos de maldições rondando a humanidade: algumas são brincadeiras maldosas, outras, são capazes de arruinar o dia das pessoas ou sua vida profissional, enquanto há as que são capazes de matar, poderosas e cruéis. Também existem alguns tipos de encantamentos, como o da sorte, por exemplo, que podem ser bons, a princípio, mas também podem custar um preço alto as suas vítimas. Mas alguém aqui já ouviu falar na maldição da invisibilidade? Já pensaram em como seria ser invisível para todos?
Pois bem, apresento a vocês Stephen, um menino que nasceu invisível. Nem a mãe dele era capaz de vê-lo. Às vezes, ela conseguia senti-lo, quando ele se concentrava muito para se tornar "palpável" para o mundo material, e podia ouvi-lo, quando Stephen decidia falar. O pai de Stephen não aguentou a situação e foi embora quando ele ainda era pequeno, assim, durante anos, Stephen viveu apenas com a companhia e o amor da mãe, que lhe ensinou tudo o que considerava importante para ele sobreviver num mundo que não estava preparado para abrigar um menino invisível.
"A cidade de Nova York é um lugar no qual é muito fácil ser invisível, desde que você tenha um pai ausente que contribua com sua conta bancária de vez em quando. Tudo: mantimentos, filmes, livros, mobília, pode ser comprado pela internet. O dinheiro nunca passa de uma mão a outra. Pacotes são deixados nas portas."
Stephen não tinha ideia de o porquê ninguém conseguir enxergá-lo, só sabia que era fruto de uma maldição. A vida toda cresceu em meio a muitas dúvidas que nunca foram respondidas por sua mãe. Quando ela morreu, deixando-o sozinho para suportar tamanho fardo, Stephen acostumou-se a viver nas sombras, como espectador, sentado na plateia assistindo a um complexo espetáculo, sem poder participar. Até a chegada de Elizabeth Josephine.
"Sinto saudade da minha mãe. Quando era pequeno, ela me ensinou a me concentrar, a me conceder um peso quando o instinto começava a falhar. Desse modo, ela ainda conseguia me carregar nas costas e dizer para eu me segurar. Ela queria que eu vivesse no mundo e não longe dele. E não tolerava nenhuma malcriação de minha parte: nem roubar, nem espiar, nem levar vantagem. Eu era amaldiçoado, mas isso não significava amaldiçoar as outras pessoas. Era diferente, sim, mas não era menos humano que o restante. Por isso, precisava agir como um ser humano, mesmo quando eu não me sentia nem um pouco assim."
Elizabeth era uma jovem de dezesseis anos, repleta de amargura e raiva no coração, por causa de alguns acontecimentos drásticos que ocorreram e obrigaram a sua família a saírem fugidos de onde moravam e mudar-se para Nova York, a duas portas de distância do apartamento de Stephen. Jo, como gostava de ser chamada, era escritora de histórias em quadrinhos e não via a hora de terminar a sua primeira obra e se tornar famosa.
Logo depois da mudança, ficou responsável por arrumar a zona do novo lar e desempacotar as caixas, enquanto seu irmão caçula, Laurie, frequentava a escola de verão, e sua mãe cobria inúmeros turnos como enfermeira em um hospital local. Os dias de Jo eram entediantes e ela estava fadada a aguentar o calor insuportável da cidade que nunca dorme. Até avistar seu vizinho no corredor, pela primeira vez. Lizzie "via" Stephen, como nunca ninguém foi capaz de enxergá-lo, ela só não imaginava que era a única. Mas o que Elizabeth tinha de tão especial? A resposta para essa pergunta não era algo tão agradável de se desvendar.
Inicialmente, Stephen ficou em pânico, sem conseguir reagir, quando alguém não só olhou para ele, como falou com ele. Será que a maldição tinha acabado? Depois entendeu que Jo podia ser a sua conexão com a realidade. Como era bom ter alguém para conversar, passear e quem sabe, por quem se apaixonar? Mas Stephen não podia contar para Elizabeth a sua real história, já que corria grandes riscos de não ser compreendido e perder a sua amizade. Mas as mentiras têm pernas curtas, e Jo descobre sobre sua condição da pior maneira possível.
Com o coração despedaçado, por não suportar mais viver em meio a tantas mentiras e decepções, Elizabeth irá enfrentar o maior desafio da sua vida: terá que decidir se embarca nessa missão para ajudar o menino invisível a quebrar a sua maldição, mesmo que isso custe a sua própria vida. Quando não escolhemos por quem nos apaixonar, e quando a mesmice nos leva a ansiar pelo diferente, como fugir dos nossos destinos?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
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Quando o livro é bom, o livro é bom.. simples assim.. Não temos que criar empatia com a história ou com os personagens, ela já está lá, desde a primeira linha.. não temos que nos esforçar para ler mais algumas páginas por dia, temos é que nos obrigar a parar de ler para dormir. Não ficamos pensando na morte da bezerra, e esquecemos de acessar o facebook e até de comer.. porque simplesmente somos absorvidos pela trama.
No momento em que terminamos de ler, não precisamos ficar pensando se ele é realmente bom e em qual nota daríamos, já sabemos disso desde o princípio. Não temos que criar justificativas para nos convencer do que gostamos, ficamos é importunando os outros a ler porque não conseguimos parar de pensar em quão bom aquele livro é. Bom me lembrar dessas coisas.. Porque é exatamente assim que me sinto em relação a Invisível.
Fui arrebatada por essa trama no momento em que abri o livro. Minha identificação com Stephen e sua história de vida foi imediata. Ele é um menino forte, que lutou para sobreviver em meio a todas as adversidades e venceu. Elizabeth ganhou meu respeito e simpatia desde as primeiras birras, teimosias e primeiros instantes de valentia. Laurie me fez desejar ter um irmão tão querido, cuidadoso e protetor perto de mim quanto ele. Adorei ver a forma com que cada um se relacionava com o outro, íntima, debochada, sarcástica, altruísta e incondicionalmente, ou seja, bem humano. O amor, a amizade e o relacionamento fraternal aqui retratados foram um dos mais lindos e intensos que já li numa obra. Apesar de já imaginar que fosse me deparar com uma história fantasiosa, afinal, não estou acostumada a ver protagonistas invisíveis por aí, não estava preparada para o rumo que o enredo ia tomar.
Achava que o cerne giraria em torno do romance impossível entre Stephen e Elizabeth, e dos dramas pessoais que cada um carregava nas costas: ele, tendo que coabitar num mundo que desconhecia sua existência; ela, tendo que se recuperar das feridas de tragédias que tentou deixar para trás, forçando-se a voltar a confiar nas pessoas ao redor. Sem esquecer de Laurie, que tinha a árdua tarefa de assumir a sua homossexualidade e pleitear pelo seu lugar de direito na sociedade. Mas não. Este contexto apenas sobreviveu à primeira parte da obra, até Stephen descobrir acerca da maldição e de como isso envolvia Elizabeth. A partir de então, tudo foi uma grande surpresa e descoberta para mim. Invisível transformou-se, de um livro jovem adulto de fantasia, para sobrenatural, com direito a muita magia, ação, mistérios, violência e até algumas mortes.
Se eu já havia ficado fascinada pela premissa do texto, fui tragada para um universo que quase me fez desejar que existisse, se não fosse pela crueldade enredada do ser humano que, apesar de eu saber que há, ficou em extrema evidência na história. Os autores também me fizeram pensar acerca da invisibilidade das pessoas, não só no sentido metafórico, como no literal. A construção da trama é tão perfeita e palpável, que fiquei imaginando a possibilidade de pessoas invisíveis realmente viverem no nosso meio. E se aquelas causalidades que nos ocorrem no dia a dia não forem obras do destino, mas sim delas, que resolveram intervir, saindo dos seus papéis de meros espectadores? E se o que chamamos de anjos da guarda não forem simplesmente pessoas invisíveis que habitam o nosso plano?
"Eu não existo. E, mesmo assim, existo."
Elizabeth tinha o dom de enxergar Stephen, assim como vários têm o dom de enxergar coisas que nem todos são capazes. Não é porque não vemos que não existem, certo? E isso é uma das coisas que mais adoro nos livros, quando eles conseguem me fazer viajar na batatinha e ficar tão conectada ao enredo que já consigo imaginar diversas possibilidades.
Invisível é narrado em primeira pessoa, e todos os capítulos são intercalados entre Stephen e Elizabeth e, assim, somos convidados a compartilhar das experiências íntimas de ambos protagonistas, que, ao decorrer da história, completam-se e nos fazem perceber um extenso panorama em relação ao quebra-cabeça da obra.
Se eu não os convenci a lê-lo até agora, não tenho mais o que dizer a não ser LEIAM! kkk Estou realmente apaixonada por esta história como há muito não ficava. Quero que leiam e depois venham me dizer o que acharam. Vou torcer para que fiquem tão arrebatados quanto eu, a ponto de quererem se tornar invisíveis para que ninguém os incomode durante a leitura deste livro.. hehe.
Resenha originalmente postada em: http://www.recantodami.com/2014/09/resenha-invisivel.html