Livrendo 17/01/2023
Espetacular!!!!
Toda a identificação entre leitor e personagens decorre com a construção de personalidades fortes, que conversam não apenas com a realidade do leitor, como também com as realidades de outros livros do mesmo autor sem que você fique perdido, caso não os conheça. E como uma história repleta de informações do universo de um devorador de cultura em geral, posso dizer que não é só com essas realidades que a história da protagonista Victoria McQueen se entrelaça. E isso vou deixar para você que resolver dar uma chance ao livro, descobrir e se encantar (ou não ? quem sabe?) por si.
Por falar em Victoria McQueen, vamos falar do enredo:
Quando pequena, Victoria descobre que possui um poder especial. Descobre também que não é a única a ter um dom. Mas enquanto ela usa sua habilidade para encontrar coisas perdidas e tem dificuldades em compreender a veracidade dessas ocasiões, outras pessoas fazem uso de suas habilidades com um propósito? que elas acreditam ser o correto. Charlie Manx, por exemplo, consegue levar crianças à Terra do Natal, um lugar onde a infelicidade é contra a lei e fica situada em uma realidade que só pode ser acessada através dele.
O interessante da narrativa é que acompanhamos o desenvolvimento dos personagens e entendermos como o ambiente familiar pode moldar e transformar a vida de uma pessoa. Acompanhamos uma protagonista disfuncional, com problemas que vão além dos causados pelo vilão. Vemos, como sem querer, reproduzimos comportamentos que condenamos, pois foi assim que aprendemos a agir. E acredito que a grande questão do livro seja justamente essa: a formação psicológica de uma pessoa a partir de suas vivências e convivência com pessoas amadas.
Assim como conhecemos uma protagonista que não hesita em buscar complicações e comete erros que ela mesmo condena, encontramos um antagonista que acredita, de fato, fazer o bem ? ainda que por vias duvidosas. Para ele, suas ações se justificam como apenas um mal necessário para um bem maior. E é a dualidade dos personagens principais que nos permite exercer a empatia por ambos.
No fim das contas, o que Vic precisa enfrentar não são monstros, mas homens. Homens carregados com sexismo e preconceitos gerados por suas relações familiares, pela sociedade da qual fizeram parte. Homens que não precisam de poderes para serem aterrorizantes, violentos, nojentos e perigosos. Mas isso, é claro, não significa que monstros não existam?
Imagino que todo leitor tenha suas peculiaridades para julgar se acha um livro bom ou não, e essa é uma das minhas: um bom livro para mim é aquele em que antes das primeiras 100 páginas você lê e é fisgado não por causa de um acontecimento ou frase épica, mas por algo que aparenta ser totalmente casual ou por um bom jogo de palavras. ?Nosferatu? é um desses livros recheados de surpresas ao longo das páginas, que te prendem e te fazem experimentar das mais variadas sensações, inclusive a de impotência.