Leonardo 31/08/2019
NOSFERATU - UM ROMANCE DE VAMPIRO DIFERENTE
Após a febre gerada pela série "Crepúsculo", de Stephanie Mayer e do surgimento de múltiplos derivados que banalizaram totalmente a literatura com temática voltada para o vampirismo, ficou difícil acreditar que surgiria um novo romance capaz de chamar a atenção dos admiradores desse tipo de narrativa. Eis que, em 2013, é publicado Nosferatu, de Joe Hill.
O maior desafio de qualquer autor, seja qual for o gênero que pretende escrever, é usar referências e influências para criar algo original. E Joe Hill já merece o crédito por isso. Charlie Max, o vampiro do romance, é um ser que prolonga sua existência através de um poder que lhe permite levar as almas de crianças para um lugar chamado Terra do Natal, onde todo dia é Natal e ninguém jamais se sente triste. Apenas essa premissa já intriga e envolve questões bem interessantes. Charlie Manx não é simplesmente uma criatura perversa buscando destruir a humanidade, mas um ser que acredita com convicção que suas ações são boas, uma vez que ele as estaria resgatando de pais abusivos e um futuro terrível.
Do outro lado, temos Victoria McQueen – Vic, que possui um poder peculiar que lhe permite encontrar o que quer que esteja procurando, usando sua bicicleta.
Os veículos têm um papel importante na narrativa. O próprio título do romance vem da placa do carro de Charlie Manx – NOS4A2, um Rolls Royce antigo, que parece ter personalidade própria. Quando adulta, Vic passa a usar uma moto Triumph, que, conforme o próprio autor explica em seus agradecimentos ao final do livro, é um de seus fascínios.
A primeira parte do livro se alterna entre nos apresentar Vic, ainda na infância, quando descobre seu poder, e Charlie Manx, através dos olhos de Bing, eleito para se tornar seu comparsa no rapto de crianças e no assassinato de seus pais. Apenas muitas páginas depois as duas linhas narrativas se cruzam, mas sem nunca se tornar tediosas ou arrastadas.
Comparações são sempre impertinentes, mas é preciso dizer, ao menos, que Hill, sem dúvida, herdou o talento e a criatividade e aprendeu muito com o pai, o mestre do horror, Stephen King. Sua escrita, como a de King, é direta e fluida, mas utilizando de recursos linguísticos com habilidade e naturalidade, além de se sentir à vontade para brincar com as palavras. Em alguns momentos, usa, também, alguns recursos mais visuais para mostrar placas e peças de jogos, por exemplo. Os capítulos não são nem muito curtos nem muito longos, o que ajuda a não tornar a leitura cansativa. Todos têm nomes de lugares, desde cidades até cômodos de casas, o que se explica pelo fato de toda a história ser baseada em “teletransportar-se” a diversos lugares.
O livro está recheado de referências à cultura pop, à literatura de terror, a obras anteriores do autor e as de Stephen King. Você certamente vai se pegar sorrindo ao reconhecer algumas delas.
Hill tem grande habilidade para manter o leitor interessado no progresso dos personagens, mesmo em momentos em que a história pode começar a tornar-se cansativa. No entanto, alguns aspectos talvez pudessem ter sido mais explorados, como a própria Terra do Natal, um lugar fantástico e bizarro, com suas localidades de nomes curiosos que aparecem em determinado ponto do texto. A personagem Maggie, uma das mais cativantes, poderia ter recebido mais espaço na narrativa.