Esdras 20/08/2017"Estou esticando o braço para a frente, através do tempo, para tocar em você... você está estendendo o braço para me tocar."Uma garota escreve um diário.
Anos depois uma mulher o encontra.
O livro conta com duas protagonistas.
Uma delas é Nao Yasutani. Estudante prestes a completar 16 anos.
Nao mora atualmente no Japão e sua vida não é nada fácil. Ela e a família passam por problemas financeiros.
Seu principal pensamento diário é cometer suicídio. Seu pai também tem grandes tendências a isso.
Nao sofre bullying na escola.
O diário, a princípio, seria pra escrever a historia da vida de sua bisavó Jiko(uma senhorinha que eu curti muito conhecer), mas acabou servindo para contar seu dia a dia sofrível.
Foi sua maior e melhor válvula de escape.
A outra personagem é a Ruth.
Romancista, casada, sem filhos e vive numa ilha remota do Canadá.
Ela encontra a diário de Nao, junto com outras coisas, durante uma caminhada na praia.
O livro vai intercalar os capítulos entre as páginas do diário de Nao enquanto são escritas e as leituras que Ruth faz delas. E vai , teoricamente , mostrar todo o trajeto que liga esses dois tempos.
As personagens são bastante distintas, mas são igualmente cativantes. Suas tristezas nos tocam.
E a conexão que surge entre elas é espantosa. Assim como entre Nao e o leitor, já que ela cria ali um diálogo página após página que, imperceptivelmente, se torna mútuo.
Essa história não é muito fácil de ler.
É tensa. É incômoda.
As situações pelas quais a Nao passa são muito cruéis. A ponto de despertar em nós, acima de tudo, uma revolta. E misturado a isso, uma angustia e uma tristeza imensa.
É ainda uma história muito ampla, até um pouco complexa.
Isso porque envolve terceiros personagens e suas historias igualmente perturbadoras.
Guerras e desastres da natureza(fatos reais inseridos aqui). Tudo isso contribue para que a trama se torne pesada.
Conta ainda com uma quase-que-total influência da cultura japonesa. O que pode dificultar um pouco a leitura caso você se incomode de parar para ver as traduções dos dialetos no fim dos capítulos – assim como eu. Mas que vai te dar uma pequena bagagem de conhecimento acerca.
Gostei muito da ambientação em todas as “épocas” inseridas. Amei ler as cartas e o diário de Haruki n°1. Tem tanta coisa pra se refletir nesse livro!!
Os personagens possuem uma imensidão de conflitos interiores e lutam numa batalha diária contra eles mesmos.
É preciso um pouco de paciência pra ir absorvendo as coisas e lidando com esse tanto de personagem problemático.rs.
O livro tem, ainda, um toque bem filosófico (de acordo com a cultura trabalhada) e também um tanto sobrenatural.
O diário de Nao proporciona a Ruth uma janela para ver a coisas sob um outro ângulo. Assim como fazê-la sentir-se tão íntima a ponto de querer acolher, proteger e ajudar a Nao independente da linha de tempo. O grau de envolvimento da Ruth para com tudo isso é muito alto e mexe muito com a cabeça dela.
O livro é dividido em quatro partes.
Conclui a quarta parte numa espécie de confusão.
Não sei se posso chamar de desapontamento. Talvez?
Há uma lacuna na história que eu queria muito saber e confirmar.
Não é em todo caso que dá pra aceitar um imagine-você-mesmo. E acho que essa história é um deles.
Algumas partes beirando final soaram meio malucas e para “explicar” algumas delas a autora inseriu no epílogo questões de física quântica, coisa que achei muito chata, apesar de despertar o benefício da dúvida.
Ainda estou meio que digerindo esse livro.
(Acho que a resenha até ficou meio bagunçada.)
Algumas partes foram cansativas e tal. Desnecessariamente descritivas.
Cheguei a desejar que o livro tivesse páginas a menos!
Mas, no geral, achei uma história muito boa . E concluo com um saldo positivo.
Um livro que merece uma chance.
Que com certeza não deixa o leitor finalizar sem ser marcado de alguma maneira.