Aione 10/09/2014Um verão pode trazer diversas sensações, como o sabor doce de um sorvete ou o salgado do mar, além de, não raramente, um ardido na pele causado por uma queimadura de sol. E, tal como a quente estação, foi assim minha experiência com Vinte Garotos No Verão, esse misto de prazeres e incômodos, alegrias e angústias.
() Em dez segundos toda a minha vida girava em torno daquele beijo, daquele desejo, daquele segredo que para sempre dividiria minha vida em duas partes.
Para cima, para baixo. Feliz, triste. Choque, surpresa. O antes e o depois.
página 11
Ao falar sobre as férias de Anna e Frankie, Sarah Ockler poderia ter feito um livro leve e divertido, narrando uma experiência entre amigas. Porém, ao acrescentar a temática da dificuldade de se lidar com a morte, fez um aprofundamento incrível em sua obra sem torná-la extremamente densa ou, então, excessivamente melancólica.
Com maestria, sua narrativa em primeira pessoa, notoriamente poética, varia de intensa a divertida, conseguindo atingir e envolver o leitor. Fiquei encantada por suas palavras e, também, pela forma de como conseguiam caracterizar tão bem os confusos pensamentos e sentimentos de Anna, a protagonista.
A partir desse dia tudo o que mais importava em minha existência sódeixou de importar. Eu estava imersa de novo sob as águas, vendo as coisas em câmera lenta, sem som nem contexto, sem sentir, sem me importar. O mundo poderia ter acabado que eu não teria notado.
De certo modo, ele acabara mesmo.
página 243
Aliás, os personagens, de um modo geral, foram muito bem delineados pela autora. Conflitos entre eles são criados a partir do luto pela morte de Matt, irmão de Frankie e paixão secreta de Anna, uma vez que não há a compreensão com a dor do outro: Anna finge não estar sofrendo e não sabe lidar com as mudanças da amiga Frankie; a mãe de Frankie não sabe como agir com a filha, que faz o que faz em uma tentativa de ter a atenção dos pais. Porém, a grande sacada dentre todas as divergências está exatamente no fato de que, na realidade, os personagens não sabem como lidar com suas próprias dores quem dirá com as alheias.
Prendo a respiração quando tia Jayne apronta a mesa para o jantar, sabendo que, se a menor pena cair nesta fina névoa de paz, tudo pode se romper. Às vezes acho que nos sentimos culpados por estarmos felizes, e, assim que nos pegando agindo como se tudo estivesse certo, alguém se lembra de que nada está certo.
página 80
Indo além do luto, Sarah Ockler também abordou questões típicas da adolescência, como amizades, paixões e primeiras vezes, de forma a representar muito bem todo esse universo jovem adulto.
De acordo com a incansável busca de minha mãe pela última promoção, combinada com sua imunidade à moda, meu armário no todo deveria ser julgado, condenado e enforcado. Sem nada bonitinho, curto ou com tirinhas, meu armário abriga uma antologia de itens de promoção e fora de moda dos porões das lojas de departamento nas quais abri caminho por entre pechinchadoras de meia-idade nas araras de calcinhas.
página 35
De modo geral, Vinte Garotos No Verão ganha destaque por, mais do que ser um livro tipicamente Young Adult, ter um aprofundamento ao abordar uma questão tão complicada e delicada como a morte, sem fazer de tudo um grande e exagerado drama, com pinceladas de leveza e divertimento. Sarah Ockler certamente foi sensível ao criar sua trama, e teve delicadeza na medida exata para fazê-la tão admirável.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2014/06/02/resenha-vinte-garotos-no-verao-sarah-ockler/