Lizzy 25/02/2014
Conversando com as amigas, comentei outro dia que as minhas escolhas literárias normalmente não combinam com os filmes que assisto. Enquanto que nos livrinhos eu gosto de embarcar no mundo do amor romântico e porque não, do relacionamento amoroso idealizado, nas telinhas a realidade me chama, e vez por outra caminho entre os risos e as lágrimas, assistindo os dramas da vida real, a maioria sem os finais gloriosos descritos pelas divas Julia Quinn, Lisa Kleypas, Nora Roberts, entre outras tão queridas.
Pois bem, mas vocês devem estar questionando o que isso tem a ver com o livro de hoje? O comentário é apenas algo particular que estou dividindo com vocês. É muito comum que ao ler um livro, eu faça uma comparação ou a identificação de algum elemento presente em algum filme que eu tenha assistido, é um processo quase automático.
A leitura de Eu te vejo fez isso comigo. Foi praticamente impossível não comparar a explosão sensorial desse livro com o filme Paixão Turca. Chamou-me atenção ao extremo o personagem masculino Leonardo Ferrante ter uma personalidade forte e sedutora muito parecida com Yaman, protagonizado pelo belo e agora sexagenário George Corraface.
Bem, finda as divagações, vamos ao livro.
Elene Volpe, a heroína da trama, é uma restauradora em Veneza. Ela está diante de um grande desafio: restaurar sozinha um importante afresco histórico num palácio, produzido em meados de 1700, cujo autor é um artista desconhecido. O tema é o rapto de Proserpina, no momento em que Plutão, senhor do Inferno, agarra os quadris da deusa que está pegando uma romã às margens de um lago. Até aí eu não entendi a referência dessa passagem. Mais à frente ficou claro que a autora usou esse elemento artístico para representar o que iria acontecer com a própria Elene.
Durante o seu trabalho, o proprietário anuncia que o palácio seria local de hospedagem de um famoso chef, que estava ali em Veneza para a inauguração de um elegante restaurante. Esse é Leonardo, um homem misterioso, atraente, hipnotizante, do tipo que Elene nunca teve a oportunidade de se relacionar. Na realidade, seu coração estava despertando para um novo relacionamento com o seu melhor amigo de sempre, Fillipo, uma pessoa amorosa e companheira, enfim, um porto seguro.
Mas como se sabe, o caminho mais fácil não é necessariamente o escolhido, não é mesmo? Elene cai nas ciladas da paixão desenfreada por Leonardo durante a sua convivência no palácio. O homem promove uma verdadeira corrupção do seu corpo, da sua alma e dos seus sentidos. Ele é a personificação de Plutão reivindicando Proserpina. A partir daí somos envolvidos por uma teia de erotismo e sensualidade, na qual Leonardo não promete nada a Elene, sequer fidelidade, mesmo assim sua entrega é total e incondicional, as consequências não são avaliadas e o relacionamento com Fillipo é posto em cheque. Assim, fica claro que existe um triângulo amoroso a ser resolvido.
Gostei muito da ambientação explorada pela autora, afinal estamos falando de Veneza, da Itália, onde tudo parece velho e a ponto de desmoronar, mas nem por isso mesmo magnífico e apaixonante. Os aspectos culturais abordados e gastronomia foram cuidadosamente pesquisados. Além disso, há um mistério imenso envolvendo a vida de Leonardo, praticamente nada se sabe sobre ele e suas viagens misteriosas à Sicília. Tudo é bem escrito e perfeitamente contextualizado.
O erotismo é muito bem explorado, com toques de originalidade. Devo fazer referência a algo, uma cena de ménage, que poderá não agradar a todos, mas garanto que a abordagem é adulta e não causa choque ao leitor. Felizmente a autora não enveredou pelos caminhos da vulgaridade, nem fez uso de linguagem chula e banalizou a sexualidade feminina, então esqueçam qualquer correlação com a trilogia Peça-me o que quiser.
Apesar de ter me envolvido com o livro, a ponto de não largá-lo até o fim, fiquei estarrecida com final. Não estava preparada para o que aconteceu, mesmo sabendo que se trata de uma trilogia. Fiquei sem saber como verdadeiramente avaliar a obra, pelo conjunto ou pelo desfecho da primeira parte, que me deixou desnorteada.
Vou ler a continuação, mas devo dizer que esse livro me causou mais aflição do que prazer no seu final, não sei o que esperar dos próximos volumes.
site: http://www.romancesinpink.com.br/2014/02/eu-te-vejo-irene-cao.html